Planalto

'Não será mais uma pirotecnia', diz Lula sobre ação federal na Terra Indígena Yanomami

Durante café com jornalistas, presidente afirmou ainda que Brasil não irá colaborar com a guerra na Ucrânia

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

Ouça o áudio:

Lula recebeu jornalistas para um café da manhã nesta terça-feira (7), no Planalto - Ricardo Stuckert/PR

O presidente Lula (PT) reforçou, nesta terça-feira (7), a intenção do governo em acabar com o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami (TYI), em Roraima, onde uma crise humanitária fez explodirem os casos de doenças, desnutrição e mortes que atingem a comunidade local. A declaração foi dada durante um café, no Palácio do Planalto, com jornalistas da mídia alternativa, ocasião em que o chefe do Executivo falou também sobre vários outros assuntos. Confira a seguir os principais temas e trechos da conversa.

Seriedade contra o garimpo

Lula destacou que alguns garimpeiros estão saindo do território do povo Yanomami por conta própria, mas frisou que o governo pretende "tirar todo mundo" do local. Ele qualificou a situação dos indígenas da comunidade como "degradante" e, ao lembrar discursos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) fazendo apologia ao garimpo, mencionou a importância de se apurarem as responsabilidades sobre a crise.

O petista afirmou que uma das ações na área será a explosão de pistas clandestinas. Segundo ele, há quase 840 estradas do tipo no país, sendo 75 somente na Terra Indígena Yanomami.

"Há uma crença de que sempre se faz pirotecnia com a questão dos indígenas e, depois de algum tempo, para. Eu queria dizer pra vocês que desta vez será muito sério. A gente não vai mais permitir garimpo em terras indígenas em hipótese alguma. E, mais do que não permitir garimpo, a gente não vai permitir pesquisa nas áreas que não podem ser garimpadas. Nós vamos tratar com muita seriedade. Eu quero dizer pra vocês que não será mais uma ação de pirotecnia", afirmou Lula.

Visita aos EUA

Lula também comentou a ida aos Estados Unidos, marcada para ocorrer nos próximos dias, quando ele irá se reunir com o presidente Joe Biden para tratar de assuntos em comum. Questionado sobre eventual colaboração do Brasil com o esforço de guerra que hoje afeta a Ucrânia, o chefe do Executivo foi categórico ao dizer que o país não irá se envolver com o conflito, ainda que indiretamente.

Leia mais: Lula espera tratar de Cuba e Venezuela com Biden e quer Brasil discutindo paz na Ucrânia

"Eu não acredito que o presidente Biden venha a me convidar pra participar do esforço de guerra contra a Ucrânia porque o Brasil não participará. Na última viagem do chanceler alemão, ele queria que nós vendêssemos pra Alemanha uma munição que o Brasil tem pra utilizar num canhão chamado Leopardo e, quando ele me disse que essas munições seriam entregues à Ucrânia, eu disse pra ele que o Brasil não iria vender as munições porque, se um russo for morto com uma munição saída do Brasil, o Brasil estará participando da guerra", disse Lula, ao afirmar que tem interesse na construção da paz entre os países.

O petista tem sugerido a outros líderes mundiais que seja criado um grupo com a finalidade de produzir acordos nesse sentido. A ideia defendida pelo presidente seria, segundo ele realçou nesta terça, a articulação de um coletivo com representantes de países como China, Índia, Brasil, Indonésia e México que pudessem viajar à Rússia para dialogar com o presidente Vladimir Putin, bem como pudessem conversar com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

"Eu não quero que o Brasil participe da guerra porque nós precisamos de alguém querendo construir a paz neste mundo. Hoje nós não temos ninguém discutindo paz. Ninguém. Os Estados Unidos não discutem a paz, a Europa toda está envolvida na guerra direta ou indiretamente. Então, quem pode negociar a paz? Os países que não estão envolvidos na guerra."

Lula também falou sobre a relação com Cuba e Venezuela, dois países com os quais o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) incentivou rivalidade a partir de discursos de perseguição político-ideológica. "O Brasil nunca fez bloqueio a Cuba, nunca participou do bloqueio a Cuba, e nós vamos reatar relações da forma mais civilizada, como sempre tivemos. A Venezuela sempre foi um bom parceiro comercial pro Brasil. Cuba sempre foi um parceiro comercial interessante pro Brasil porque o Brasil exportava serviços ou financiava alimentos pra Cuba, e Cuba sempre foi um bom pagador", resgatou.

"O Brasil chegou a ter com a Venezuela superávit de US$ 4 bilhões. Não é pouca coisa. Então, o Brasil vai reatar suas relações com a Venezuela com a maior tranquilidade. Com Cuba, vamos manter a relação como sempre tivemos e com qualquer outro país [também]. Nós não queremos e não precisamos de contencioso com quem quer que seja", frisou Lula.

Banco Central

O Banco Central (BC) também foi tema da conversa. Lula criticou as altas taxas de juros aplicadas atualmente pelo presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, que assumiu o comando da instituição em fevereiro de 2019, após indicação do então presidente Bolsonaro. O tema toca a questão da autonomia do BC, pauta da cartilha neoliberal aprovada em 2021 pelo Congresso Nacional por iniciativa do governo anterior.

"Eu acho que as pessoas que acreditavam que a independência do BC iria mudar alguma coisa no Brasil, que ia ser melhor, que os juros seriam mais baixos, as pessoas é que têm que ficar olhando se valeu a pena ou não", disse Lula, ao defender a necessidade de trânsito entre o chefe do Executivo e o presidente do banco para discutir inflação, taxas de juros e temas afins.

Edição: Nicolau Soares