Duas semanas após o governo Lula (PT) declarar emergência em saúde na Terra Indígena Yanomami, as medidas de combate ao garimpo ilegal começaram a fazer efeito. Os primeiros registros de garimpeiros fugindo da área protegida foram identificados por lideranças indígenas e pelos governos federal e de Roraima.
"Temos essa informação que muitos garimpeiros estão saindo”, disse a ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara (Psol), que chegou a Roraima neste sábado (4) para acompanhar as ações de combate à crise humanitária.
“Mas é bom que saiam mesmo, porque assim a gente até diminui a operação que precisa ser feita para retirar 20 mil garimpeiros, o que demora”, completou a ministra.
A fuga de garimpeiros é fruto de uma guinada na postura do governo federal. Sob Jair Bolsonaro (PL), favorável ao garimpo em terras indígenas, as operações de combate à atividade foram propositalmente ineficazes, conforme avaliação do Ministério Público Federal (MPF-RR) e de servidores do Ibama.
Na prática, a postura do governo federal criou uma sensação de impunidade e uma expectativa de regularização de garimpos ilegais, segundo denunciaram nos últimos anos organizações indígenas e indigenistas.
Roraima quer apoio federal para acolher garimpeiros
O governo de Roraima informou que o serviço de inteligência do estado teve acesso a fotos e vídeos de pessoas saindo espontaneamente de áreas de garimpo. As autoridades estaduais ficaram preocupadas com barcos e canoas lotadas, o que pode ocasionar acidentes.
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O governador de Roraima Antônio Denarium (PP), que até o ano passado vinha estimulando o garimpo ilegal em áreas proibidas do estado, disse que informou aos ministros Rui Costa, da Casa Civil, e José Múcio, da Defesa, sobre a possível fuga de garimpeiros.
“Propusemos ao Governo Federal que avalie uma forma de apoiar o Estado no recebimento e incentivo para esses trabalhadores [homens, mulheres e até crianças] que desejam sair de forma espontânea e pacífica, evitando qualquer tipo de confronto”, declarou Denarium.
Mourão alegava dificuldade para combater garimpo
Na última quarta-feira (1), a Força Aérea Brasileira (FAB) proibiu que aeronaves sem permissão circulassem sobre as áreas de garimpo no território Yanomami. O bloqueio do espaço aéreo não havia sido determinado durante a gestão Bolsonaro.
Agora, o abastecimento de comida e combustíveis pode estar sendo prejudicado, já que o transporte aéreo é o mais usado pelos mineradores.
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Quando era vice-presidente, o general Hamilton Mourão disse em diversas ocasiões que o garimpo ilegal em terras indígenas era um problema de difícil solução. Mourão era presidente do Conselho da Amazônia Legal, órgão responsável pela coordenação e de políticas públicas voltadas para a Amazônia.
“[Retirar garimpeiros] não é uma operação simples. Não é como tirar camelô da [avenida] Presidente Vargas. Essas pessoas vão avançar para cima de Boa Vista“, disse em audiência no Senado realizada em julho de 2020, referindo-se a um ponto de comércio informal na cidade do Rio de Janeiro.
“Está todo mundo aqui passando fome”, diz suposto garimpeiro
Relatos em grupos virtuais de garimpeiros mostram pessoas aparentemente deixando a Terra Indígena, seja por via aérea, fluvial ou andando na mata. Em um vídeo, uma mulher que se identifica como garimpeira reclama do preço do voo. "Helicópteros estão cobrando 15 mil reais. Eles querem ‘enricar’ numa situação dessa”, reclamada a autora da gravação.
Em outros registros, pessoas que se dizem garimpeiros filmam indígenas que aparentam ser da etnia Yanomami se alimentando dentro dos acampamentos. “Nós estamos querendo ajuda para ir embora do garimpo. Está todo mundo aqui passando fome. Estamos dividindo a comida com os índios”, mostra o vídeo supostamente gravado em um garimpo ilegal.
Edição: Lucas Weber