A senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos no governo de Jair Bolsonaro, já teve como assessores pelo menos quatro pessoas investigadas por crimes ligados a ataques às instituições, participação em atos terroristas e divulgação de notícias falsas.
As contratações foram feitas no início da gestão de Damares, que permaneceu no cargo de janeiro de 2019 a abril de 2022. Uma das integrantes mais radicais da equipe ministerial de Bolsonaro, ela teve a gestão marcada pela extinção de políticas de direitos humanos e pela perseguição de minorias, como mulheres e indígenas.
Wellington Macedo: bomba em aeroporto
Preso em 16 de janeiro por tentar explodir uma bomba perto do aeroporto de Brasília, Wellington Macedo atuou como assessor da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Indicado por Damares, Macedo ficou no cargo entre fevereiro e outubro de 2019.
Macedo teve a prisão decretada por Alexandre de Moraes por incentivar atos antidemocráticos no dia 7 de setembro de 2021. Desde então, cumpria prisão domiciliar e usava tornozeleira eletrônica. Mesmo assim, frequentava o acampamento bolsonarista.
Depois do pedido de prisão, Damares publicou nota sobre o assunto. “Esclareço que o senhor Wellington Macedo, investigado no caso de tentativa de ato violento em Brasília-DF, prestou serviços no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos entre janeiro e outubro de 2019, quando foi exonerado do cargo”, escreveu.
“O referido jornalista não era meu assessor direto. Trabalhou na área de comunicação da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente que, inclusive, funcionava em prédio diferente do Gabinete Ministerial”, declarou.
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Renan Sena: atos terroristas de 8 de janeiro
Preso em 20 de janeiro na Operação Lesa Pátria por suspeita de coordenação e financiamento dos atos terroristas de 8 de janeiro, Renan Sena atuou como analista de projetos do setor socioeducativo do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, como funcionário terceirizado.
O contrato de Renan Sena foi feito por intermédio da G4F Soluções Corporativas Ltda. Em maio de 2020, foi demitido depois de ser indiciado por injúria e agressão contra enfermeiras durante ato realizado por profissionais de saúde em memória às vítimas da covid-19. Ele foi filmado xingando enfermeiras e empurrando uma delas.
Na ocasião, Damares também tentou se afastar de Renan Sena. Em nota, o ministério afirmou que ele não pertencia mais ao quadro de funcionários e que apoiaria as investigações.
Sara Winter: ameaça a ministros do STF
Presa em junho de 2020 por ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), Sara Winter atuou chefe da Coordenação Geral de Atenção Integral à Gestante e à Maternidade de abril a dezembro de 2019. A extremista ocupava um cargo de confiança com salário de R$ 5.685 e era vinculada à Secretaria Nacional de Políticas para mulheres da pasta chefiada por Damares Alves.
Sara Winter chegou a ser presa no âmbito de um inquérito que investiga ataques ao STF feitos pelo movimento "300 pelo Brasil", que promoveu um acampamento e intervenções contra o Supremo. Em junho, o ministro Alexandre de Moraes, o mesmo que autorizou a prisão, determinou a soltura da investigada, mediante uso de tornozeleira eletrônica.
Damares também já teve que se explicar sobre a relação com a ex-comandada: "A ex-servidora Sara Giromini, quando indiciada, não pertencia mais ao quadro funcional do MMFDH. (...) Todos os membros deste Ministério estão tranquilos para prestar qualquer informação que se fizer necessária para que os fatos sejam elucidados", disse, em nota publicada em 2020.
Sandra e Oswaldo Eustáquio: fake news e atos antidemocráticos
Preso por duas vezes por ataques à democracia, o blogueiro Oswaldo Eustáquio foi assessor de Damares durante a transição de governo. Com Bolsonaro já no poder, emplacou sua mulher, Sandra Terena Eustáquio, como secretária de Igualdade Racial, uma das mais importantes do antigo ministério chefiado por Damares – no governo Lula, o órgão foi remodelado e as pastas de Mulheres e Igualdade Racial ganharam ministérios específicos.
Antes da demissão da esposa, em setembro de 2020, Oswaldo Eustáquio já havia sido preso e investigado no inquérito do STF que apura o financiamento de atos antidemocráticos em Brasília e possíveis elos com autoridades e parlamentares. Surpreendida pela decisão, Sandra Terena reclamou em entrevista à rádio Jovem Pan que estaria “sendo exonerada por ser casada com uma pessoa que defende o presidente Bolsonaro”.
Quando questionada pela primeira vez sobre a atuação do casal, Damares disse desconhecer qualquer investigação contra Sandra Terena Eustáquio, que foi a única efetivamente contratada por seu ministério.
Outro lado
O Brasil de Fato não localizou contatos da assessoria de imprensa de Damares Alves. Como a senadora eleita ainda não tomou posse no novo cargo, não há telefones ou endereços de e-mails institucionais pelos quais sua equipe pode ser acionada. O espaço segue aberto para manifestações.
Edição: Rodrigo Durão Coelho