Direito Reprodutivo

Brasil deixa aliança internacional antiaborto patrocinada por Ernesto Araújo e Damares

Decisão foi anunciada nesta terça (17); declaração do "Consenso de Genebra", de 2020, também teve apoio de Donald Trump

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Os então ministros Damares Alves (Direitos Humanos) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) - Reprodução

O Brasil não faz mais parte da Declaração de Consenso de Genebra, uma aliança internacional que une países antiaborto. A decisão foi comunicada nesta terça-feira (17) por meio de nota conjunta do Ministério das Relações Exteriores, do Ministério da Saúde, do Ministério das Mulheres e do Ministério dos Direitos Humanos.

"O Brasil considera que o referido documento contém entendimento limitativo dos direitos sexuais e reprodutivos e do conceito de família e pode comprometer a plena implementação da legislação nacional sobre a matéria, incluídos os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). O governo reitera o firme compromisso de promover a garantia efetiva e abrangente da saúde da mulher, em linha com o que dispõem a legislação nacional e as políticas sanitárias em vigor sobre essa temática, bem como o pleno respeito às diferentes configurações familiares", diz trecho da nota.

O "Consenso de Genebra" é uma declaração de princípios de 2020 que prevê um compromisso com a prevenção do aborto. O texto estabelece que "não existe um direito internacional ao aborto", defende o "direito à vida" e a "força da família".

O então secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, afirmou ao oficializar a entrada da Casa Branca na iniciativa que o documento tinha como objetivo "defender os não nascidos e reiterar a importância vital da família".

Joe Biden, atual presidente dos Estados Unidos, retirou o país da aliança após derrotar Donald Trump nas eleições.

Durante a cerimônia da entrada do Brasil na aliança antiaborto, o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou: "Nós reafirmamos também o nosso dever de proteger a vida humana desde a sua concepção. Rejeitamos categoricamente o aborto como método do planejamento familiar".

Araújo participou da assinatura com a então ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, em 2020.

A saída brasileira do "Consenso de Genebra", agora sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), era uma demanda dos movimentos populares. Mais de 100 organizações assinaram carta afirmando que a aliança "defende um conceito restritivo de família, restringe os direitos reprodutivos, sendo contrária ao direito ao aborto, inclusive nos casos legais".

Edição: Nicolau Soares