O vídeo tinha a seguinte legenda: “Lula não foi eleito pelo povo, ele foi escolhido e eleito pelo STF e TSE”. E ficou no Facebook do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por cerca de duas horas, na madrugada do último dia 10 para 11. Mas foi o suficiente não só para viralizar, como para fazer com que Bolsonaro fosse incluído no inquérito 4.921 do Supremo Tribunal Federal (STF), que investiga a “instigação e autoria intelectual dos atos antidemocráticos” em Brasília, em 8 de janeiro.
Segundo entrevista de um ex-ministro de Bolsonaro a Josias de Souza, do UOL, “quem realizou a postagem foi o Carluxo”. Também conhecido como "02", o vereador Carlos Bolsonaro (PL) é o principal responsável pelas redes e a estratégia de comunicação do pai. Não por acaso, é tido como mentor do que se convencionou chamar “gabinete do ódio”.
Na última quinta-feira (12), Carlos fez um post irônico depois que a Polícia Federal encontrou, na casa do ex-ministro de Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, a minuta de um decreto que permitiria ao então presidente instaurar “estado de defesa” no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para mudar o resultado da eleição.
:: Preso em Brasília, Anderson Torres voltou dos Estados Unidos sem o celular ::
“Acho que só no Brasil um golpe tem que ser aprovado por Conselho, publicado em DOU [Diário Oficial da União] e votado pelo Congresso”, escreveu Carlos Bolsonaro em seu canal no Telegram.
“Instiga que apoiadores cometam crimes”
O vídeo questionando a legitimidade da eleição e postado 48 horas depois do ataque golpista em Brasília, apesar de retirado do ar, agravou ainda mais a situação jurídica de Bolsonaro, que está nos Estados Unidos desde que perdeu o foro privilegiado.
A informação de que a postagem foi feita por Carlos foi dada pelo ex-ministro bolsonarista, em anonimato, sugerindo que o ex-presidente teria sido injustiçado pela decisão do Supremo. Segundo um magistrado do STF, no entanto, se o fato se confirmar, isso não exime Jair Bolsonaro e, ainda, pode complicar a situação do filho, como possível “coautor do crime de incitação pública à prática de crime”.
Na decisão que inclui o ex-presidente no inquérito, o ministro Alexandre de Moraes afirma que “a partir de afirmações falsas, reiteradamente repetidas por meio de mídias sociais e assemelhadas, formula-se uma narrativa que, a um só tempo, deslegitima as instituições democráticas e estimula que grupos de apoiadores ataquem pessoalmente pessoas que representam as instituições”.
Tanto as mentiras disseminadas nas redes quanto as ações físicas, escreve o ministro do STF, pretendem a destituição e substituição de quem hoje está à frente dos Três Poderes, “por outras alinhadas ao grupo político do ex-presidente”.
“De maneira ainda mais grave”, completa Alexandre de Moraes, “instiga que apoiadores cometam crimes de extrema gravidade contra o Estado Democrático de Direito, como aqueles ocorridos no dia 8 de janeiro de 2023”.
Edição: Daniel Lamir