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Sônia Guajajara será nomeada ministra dos Povos Indígenas

"Mais do que uma conquista pessoal, esta é uma conquista coletiva dos povos indígenas", disse a futura ministra

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Sônia Guajajara tem mais de duas décadas de militância pelos direitos dos povos originários - ©Yasuyoshi Chiba / AFP

Mesmo antes do anúncio oficial do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, a deputada federal eleita Sônia Guajajara (PSOL-SP) confirmou em seu perfil no Twitter que será nomeada chefe do Ministério dos Povos Indígenas. 

"Sinto muito honrada e feliz com a nomeação de Ministra. Mais do que uma conquista pessoal, esta é uma conquista coletiva dos povos indígenas, um momento histórico de princípio de reparação no Brasil. A criação do Ministério é a confirmação do compromisso que Lula assume com nós", postou.

No início de dezembro, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), da qual Guajajara é ex-coordenadora-executiva, enviou a Lula uma lista tríplice com indicações para a chefia do ministério, com os nomes de Sonia Guajajara, Joênia Wapixana, deputada federal por Roraima que não conquistou a reeleição; e Weibe Tapeba, vereador de Caucaia (CE).  

Na ocasião, Guajajara afirmou ser importante “garantir que quem for assumir seja uma pessoa vinculada ao movimento, e não correr o risco de vir uma pessoa somente pelo meio da articulação partidária e sem vínculo ao movimento indígena". 

Agora, como chefe do novo ministério, ela deverá trabalhar para “trazer as vozes dos povos originários e historicamente oprimidos e silenciados ao centro do debate político brasileiro: Indígenas, população negra, caiçaras e quilombolas”, objetivo veiculado em sua campanha para a Câmara dos Deputados. 

“Suas principais bandeiras são a defesa da Amazônia e da Mata Atlântica, a defesa dos direitos das minorias, o respeito à diversidade e à pluralidade e a reconstrução da democracia no Brasil, que foi tão enfraquecida nos últimos quatro anos.”

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Durante a campanha, em carta escrita à população brasileira, Guajajara mirou a mineração como uma das facetas da destruição de florestas, com a regularização das invasões de terras públicas e indígenas. 

“Não podemos aceitar o garimpo com derramamento de mercúrio e outros contaminantes nos rios, com a destruição da floresta, matando os peixes, matando os Yanomami, matando os Munduruku, com a exploração dos trabalhadores e trabalhadoras. O ouro, o diamante, o alumínio, e outros minérios não podem carregar o sangue indígena”, afirmou. 

Trajetória

Nascida em 1974 na Terra Indígena de Araribóia, no Maranhão, Sônia dedicou a vida para combater a invisibilidade dos povos indígenas. Em cerca de duas décadas de atuação na luta pelos direitos das populações originárias, atuou em diferentes organizações e movimentos, como a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), da qual é coordenadora executiva.

Além de atuar no país, Sônia Guajajara tem voz no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Ativista há mais de vinte anos, a indígena representa os povos tradicionais nas Conferências Mundiais do Clima (COP) desde 2009, onde já apresentou diversas denúncias de violações aos direitos desses grupos.  

Aos 15 anos, ela deixou a região pela primeira vez para estudar em Minas Gerais, convidada pela Funai. Hoje, é formada em letras e em enfermagem, pós-graduada em educação especial e mestra em Cultura e Sociedade.   

Em 2001, participou do primeiro evento nacional indígena, a pós-conferência da Marcha Indígena, para discutir o Estatuto dos Povos Indígenas em Luziânia, no estado de Goiás. Em 2012, coordenou a organização do Acampamento Terra Livre na Cúpula dos Povos. No ano seguinte estava à frente da Semana dos Povos Indígenas e de ocupações no plenário da Câmara e no Palácio do Planalto.  

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Foi premiada diversas vezes, em 2019 recebeu da Organização Movimento Humanos Direitos o Prêmio João Canuto pelos Direitos Humanos da Amazônia e da Liberdade. No mesmo ano, foi agraciada com o prêmio Packard concedido pela Comissão Mundial de áreas protegidas da União Internacional para Conservação da Natureza (UICN).  

Guajajara entrou para a história da política brasileira em 2018, quando foi candidata a vice-presidente na chapa de Guilherme Boulos (PSOL). Foi a primeira indígena a concorrer ao cargo. 

Foi Boulos, aliás, quem escreveu o perfil de Guajajara na revista estadunidense Time, que a elegeu uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Convidado pela revista para apresentar a colega de partido, Boulos destacou o fato de ela ter saído de casa aos 10 anos para trabalhar e, contrariando as estatísticas, ter chegado ao ensino superior. 

"Sônia é uma inspiração, não só para mim, mas para milhões de brasileiros que sonham com um país que quita suas dívidas com o passado e finalmente acolhe o futuro", destacou Boulos. 

Edição: Glauco Faria