Faltando menos de dez dias para o fim do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a Petrobras anunciou a venda de mais um campo de petróleo da companhia. Por sua vez, a Eletrobras concedeu um aumento de até 3.500% à sua diretoria.
O governo brasileiro tem relevante participação acionária nas duas empresas. É sócio-controlador da Petrobras. Também controlava a Eletrobras até julho, quando a empresa foi capitalizada e seu controle acabou privatizado.
A venda e o aumento contrariam pedidos do governo de transição do presidente-eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Indicados por Lula, que toma posse no próximo dia 1º, recomendaram à Petrobras que paralisasse qualquer processo de venda. Também pediram que a assembleia de acionistas que aprovou o aumento fosse cancelada.
Uma decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) também determinava a suspensão da assembleia mencionando o pedido do governo de transição e o risco de ela "gerar grave lesão ao interesse público". Mesmo assim, ela foi realizada na quinta-feira (22).
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A União se absteve na votação.
Acionistas autorizaram que o salário do presidente da Eletrobras, cargo ocupado atualmente pelo engenheiro Wilson Ferreira Júnior, suba dos atuais R$ 52,3 mil para R$ 300 mil por mês – aumento de mais de 470%. Já o salário mais alto pago a um conselheiro de administração passe de R$ 5,4 mil para R$ 200 mil – aumento de mais de 3.500%.
Esses percentuais serão aplicados retroativamente a partir de abril de 2022. Só para remunerar administradores, a Eletrobras prevê gastar quase R$ 36 milhões no ano.
Mais uma venda da Petrobras
Já a Petrobras finalizou também na quinta-feira a venda da totalidade de sua participação no campo de produção de Papa-Terra, localizado na Bacia de Campos, para a empresa 3R Petroleum Offshore. O conselho de administração da 3R é presidido por Roberto Castello Branco, ex-presidente da Petrobras.
A operação foi concluída com o pagamento de cerca de R$ 100 milhões para a empresa, somado ao montante de R$ 30 milhões já pagos na assinatura do contrato de venda.
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A Federação Única dos Petroleiros (FUP) vê claro conflito de interesses e favorecimento à 3R desde que Castello Branco foi contratado pela empresa, em abril de 2022.
Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP, recordou que as negociações entre a Petrobras e a 3R Petroleum movimentaram cerca de cerca de R$ 15 bilhões durante os dois primeiros anos de governo Bolsonaro, quando Castello Branco comandava a estatal.
"A 3R comprou uma série de polos de campos maduros de petróleo da Petrobras a preço de banana. Foram preços abaixo do valor de mercado, conforme avaliações feitas não somente pela própria companhia, como também por especialistas na área", afirma Bacelar.
Segundo a Petrobras, a venda "está alinhada à estratégia de gestão de portfólio e à melhoria de alocação do capital da companhia". "A Petrobras segue concentrando os seus recursos em ativos em águas profundas e ultraprofundas, onde tem demonstrado grande diferencial competitivo ao longo dos anos", acrescentou a empresa.
Edição: Nicolau Soares