Faltando pouco menos de um mês para a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Petrobras lançou uma nova versão do seu plano estratégico ignorando pedidos do governo de transição. O plano, que estabelece diretrizes para os principais investimentos da companhia, foi apresentado na quarta-feira (30). Nesta quinta, executivos da estatal disseram a investidores que o documento prevê “continuidade”.
Continuidade, aliás, é o “grande recado” do plano, segundo o diretor-executivo Financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras, Rodrigo Araujo. “A geração de valor e a distribuição de valor gerado seguem sendo pilares importantes”, afirmou ele, sinalizando inclusive que a distribuição de dividendos a acionistas continua como prioridade.
Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), a Petrobras multiplicou a distribuição de participação de lucros a investidores por conta da redução de seus investimentos e do aumento do preço da gasolina e diesel no Brasil. A estatal chegou a se tornar a companhia que mais paga dividendos no mundo. Isso tudo foi criticado por Lula durante a campanha.
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Também foi criticado por Lula o fato de a companhia ter posto à venda parte de seu patrimônio, incluindo as refinarias que produzem combustível para consumo nacional.
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Essa venda e a apresentação de um plano estratégico alheio a ideias do governo eleito foram criticados por economistas e membros do governo de transição. O grupo técnico de Minas e Energia chegou a pedir que a Petrobras parasse as vendas e suspendesse a apresentação do plano – pedidos que foram ignorados.
“O closing [fechamento da venda] da Reman tinha que ser suspenso. É um absurdo concluir essa operação de forma açodada, no apagar das luzes de um governo especialista em vender o patrimônio público brasileiro a preço de banana”, afirmou o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, que integra o governo de transição.
Bacelar também afirmou que o plano estratégico da Petrobras será revisto para a inclusão de investimentos em refino, transição energética, energia de fontes renováveis e de encomendas à indústria naval brasileira. “O novo plano deve ser realizado a partir das orientações e prioridades estratégicas dos representantes do novo governo”, disse.
Investimentos
Eric Gil Dantas, economista do Observatório Social do Petróleo (OSP), também defendeu a revisão para aumento de investimentos na estatal. “Está muito aquém do que deveria, o que precisaria e do que poderia, haja visto os resultados da companhia”, afirmou. “No governo Lula, a empresa tende a retomar sua relevância, com novas refinarias e participação em projeto de transição energética.”
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Maurício Tolmasquim, ex-presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) e integrante do grupo técnico de Minas e Energia do governo de transição, também tem defendido em entrevistas investimentos na Petrobras na transição energética. Ele também criticou o fato de a companhia ter apresentado um plano estratégico à revelia do novo governo.
Reestatização
Bacelar, da FUP, chegou a afirmar em um vídeo publicado em redes sociais que o governo Lula teria como desafio “trazer de volta ativos estratégicos [da Petrobras] privatizados'' durante a gestão Bolsonaro, sinalizando possíveis reestatizações. Tolmasquim, entretanto, negou que isso esteja em debate.
Segundo Bacelar, é desafio do novo governo também garantir o fornecimento de combustíveis a preços justos no Brasil. Não especificou como isso será feito.
Edição: Glauco Faria