Entrevista

Humberto Costa: "Estamos preocupados com um apagão cibernético na área da saúde"

Ex-ministro da Saúde afirma que desafios do governo eleito passam por recomposição do financiamento do SUS

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Novo governo quer recompor mais de R$ 20 milhões perdidos na área da saúde - Geraldo Magela/Agência Senado

Entre os grandes desafios do novo governo no setor de saúde, a falta de dados e informações é um dos mais urgentes. Em entrevista ao Jornal Rádio Brasil Atual, o senador Humberto Costa (PT) afirmou que a equipe de transição está preocupada com a possiblidade de "um verdadeiro apagão cibernético". 

"Isso está acontecendo na Presidência da República, o apagamento de dados, de informações e também a fragilidade da segurança do sistema de informática do SUS. Esse também será um tema prioritário para atuamos no início dos trabalhos do novo governo."

Humberto Costa foi ministro da Saúde no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e agora é um dos coordenadores do governo de transição. Nos últimos dias, a equipe teve reuniões com o atual ministro da pasta, Marcelo Queiroga e com representantes dos governos estaduais e municipais. 

"Precisamos urgentemente promover um processo de digitalização da área da saúde, acesso das unidades básicas de todos os municípios à internet e precisamos fazer esses sistemas conversarem entre si. Ouvimos muito por parte dos municípios que os números de cobertura vacinal não correspondem à realidade, eles acham que a cobertura vacinal é maior, mas eles não têm como registrar e isso não se manifesta nos sistemas vinculados ao próprio Programa Nacional de Imunização. Ou seja, é possível que os números sejam um pouco melhores."

Ele afirmou ainda que a equipe de transição recebeu uma quantidade grande de documentos do Ministério da Saúde e que houve "cortesia" durante o encontro com os atuais responsáveis pela pasta. O canal de comunicação foi aberto para que o novo governo possa reunir informações necessárias para as políticas emergenciais que quer implementar já a partir de janeiro. 

"Abrimos um canal permanente para a busca de outras informações e também para o estabelecimento de uma relação necessária em uma situação como essa. Foi cordial e razoável, o que não elimina os problemas que nosso governo vai enfrentar mais pra frente."

Os desafios do governo Lula, segundo o senador, vão além das questões organizacionais.

"Os pontos de preocupação que nós temos vão se confirmando. A preocupação com a vacina, com o desabastecimento que há hoje no Sistema Único de Saúde - não só de vacina, mas de medicamentos e outros insumos - com algumas doenças que deverão chegar com uma carga muito forte no início do ano e com o orçamento, onde faltam recursos para diversas atividades importantes, entre elas a Farmácia Popular."

Para dar conta do recado, o novo governo deve iniciar o mandato com diversos mutirões na área da saúde. A força tarefa pretende diminuir a demanda reprimida de consultas, exames, cirurgias, já que pandemia da covid-19 criou filas consideráveis para esses procedimentos. Outro mutirão terá como principal objetivo melhorar os índices de vacinação no Brasil, que não tem conseguido atingir as metas para proteção da população nos últimos anos. 

"Tendo um diagnóstico, nós vamos imediatamente promover o abastecimento do SUS com medicamentos e outros insumos que estão faltando. Também uma das ações imediatas é uma grande campanha de vacinação para que o Brasil volte a ter o Programa Nacional de Imunização mais importante. O maior do mundo, não só pelo número de vacinas que são concedidas gratuitamente, mas porque sempre tivemos coberturas muito altas, acima de 95%."

O orçamento da saúde também está na pauta prioritária. A ideia é recompor os mais de R$ 22 bilhões perdidos com o estabelecimento do teto de gastos. Mas não só isso, o novo governo pretende criar estratégias sustentáveis de financiamento da saúde pública. 

"Nós procuramos fazer essa recomposição. Essa ideia foi aceita pela equipe econômica da transição e pelo presidente Lula e está na dependência da aprovação da emenda constitucional (PEC da transição). Obviamente que é apenas para uma recomposição, nós teremos que, ao longo do tempo, definir novas regras que ampliem o financiamento do SUS. Nesse primeiro momento queremos essa recomposição e queremos, ao longo do tempo, abrir com o presidente Lula um debate sobre o financiamento sustentável do SUS."

Edição: Thalita Pires