Se o governo federal tivesse agilizado a compra de vacinas contra a covid-19 no início do ano passado, teria poupado a vida de pelo 47 mil idosos e idosas que morreram por causa do coronavírus. Acelerar o início do Programa Nacional de Imunização (PNI) também poderia ter evitado no mínimo 104 mil hospitalizações.
As conclusões estão em um artigo publicado revista científica The Lancet Regional Health Americas, assinado por pesquisadores da Fiocruz, do Observatório Covid19 BR, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), da Universidade Federal do ABC (UFABC) e da Universidade de São Paulo (USP).
Por meio de uma análise estatística, os estudiosos puderam dimensionar os impactos da vacinação em massa no avanço da pandemia em território nacional. Entre janeiro e agosto de 2021, as vacinas salvaram entre 54 mil e 63 mil vidas de idosos com 60 anos ou mais. Pelo menos 158 mil internações foram evitadas, mas o número pode chegar a 178 mil.
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O país só conseguiu chegar ao ritmo de um milhão de doses por dia em junho, quase seis meses depois do início da campanha de vacinação. Se esse patamar tivesse sido alcançado desde o início, o número de óbitos de idosos e idosas poderia ter sido de 40% a 50% menor em relação ao que foi registrado no pico da variante gama.
Na prática, ficou evidente a correlação positiva entre vacinação e prevenção de mortes e casos graves. Conforme a imunização avançava entre pessoas com mais de 60 anos, o impacto da covid-19 diminuía nesse mesmo grupo.
"Se a gente pega uma faixa etária que não está recebendo a vacina naquele momento e compara com uma faixa etária que está recebendo a vacina, há diferença neste comportamento. O número de casos graves em idosos começou a descer, enquanto o número de hospitalizações em pessoas mais jovens continuava a subir. Este comportamento é devido à vacinação naquela população", afirma o pesquisador Leonardo Souto Ferreira, primeiro autor do artigo e pesquisador do Instituto de Física Teórica (IFT) da Unesp.
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Segundo ele, "o fato de as vacinas terem feito diferença é algo incontestável".
Um exemplo que explicita isso é o fato de o Brasil ter evitado um segundo colapso sanitário em meados de 2021, após a chegada da variante Delta, também considerada de preocupação pela Organização Mundial da Saúde (OMS). "Quando a Delta chegou, encontrou dificuldade maior de circular", explica o pesquisador em saúde pública da Fiocruz, Marcelo Gomes, coautor do estudo.
O custo médio de cada hospitalização por causa do coronavírus no Brasil foi calculado em cerca de US$ 12 mil. Dessa forma, as mortes que poderiam ter sido evitadas com a vacinação mais ampla e acelerada representariam uma economia de até R$ 2,1 bilhões de reais ao sistema de saúde.
Edição: Thalita Pires