Potências

Entre tensões e diferenças, Biden e Xi Jinping fazem primeira reunião presencial

Na véspera do G20, presidentes de China e EUA têm encontro bilateral

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Xi Jinping e Joe Biden em cúpula antes do G20 - Saul Loeb / AFP

Os presidentes da China, Xi Jinping, e dos Estados Unidos, Joe Biden, tiveram sua primeira reunião presencial nesta segunda-feira (14). Os líderes dos dois países já tiveram conversas telefônicas, mas este foi o primeiro encontro desde que Biden assumiu a Casa Branca e Xi voltou a ter uma agenda internacional após um período de isolamento durante o início da pandemia de covid-19.

A agenda ocorre em Bali, na Indonésia, na véspera do início do G20. O encontro das 20 maiores economias do mundo acontecerá nos dias 15 e 16 de novembro.

"Como líderes de nossas duas nações, compartilhamos a responsabilidade, na minha opinião, de mostrar que a China e os Estados Unidos podem administrar nossas diferenças, impedir que a concorrência se torne sequer algo próximo de um conflito e encontrar maneiras de trabalhar juntos em questões globais urgentes que requerem a nossa cooperação mútua", disse Biden.

Os comentários iniciais deles foram transmitidos e Biden destacou que o "mundo espera" que Washington e Pequim tenham "papéis essenciais" para "enfrentar os desafios globais, desde as mudanças climáticas até a insegurança alimentar". Os Estados Unidos estão prontos para trabalhar com a China, "se for isso o que você deseja", destacou Biden.

Xi, por sua vez, destacou que o atual estado da relação entre os países não condiz com o "interesse fundamental" dos seus povos e também "não é o que a comunidade internacional espera de nós". O presidente chinês disse estar pronto para ter uma "cândida" e "profunda" troca de visões com Biden sobre as relações entre os dois países e sobre questões "regionais e globais".

"O presidente Xi enfatizou que, nesta época, grandes mudanças estão se desenrolando de maneiras nunca antes vistas. A humanidade é confrontada com desafios sem precedentes. O mundo chegou a uma encruzilhada. Para onde ir a partir daqui? Esta é uma questão que não está apenas na nossa mente, mas também na mente de todos os países. O mundo espera que a China e os Estados Unidos lidem adequadamente com seu relacionamento. Nosso encontro de hoje atraiu a atenção do mundo. Devemos trabalhar com todos os países para trazer mais esperança à paz mundial, maior confiança na estabilidade global e um impulso mais forte ao desenvolvimento comum", destacou a chancelaria chinesa em comunicado.

Diferenças

O encontro ocorre após uma série de atritos entre as duas maiores economias do mundo.

Em agosto, a presidenta da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, visitou Taiwan. A ilha busca reconhecimento internacional como um Estado autônomo, mas Pequim a enxerga como parte de seu território. Xi Jinping já afirmou que apoiar a independência taiwanesa é "brincar com fogo".


Exército chinês realiza exercícios militares a menos de 50 km da costa taiwanesas em represália à visita de Nancy Pelosi / Hector Retamal /AFP

Os Estados Unidos vendem armas para Taiwan e as proximidades da ilha são palco constante de exercícios militares.

A visita de Pelosi foi alvo de protestos das autoridades chinesas.

Biden continua com uma política inaugurada por seu antecessor na Casa Branca, Donald Trump, de sanções contra o setor tecnológico chinês para deter o desenvolvimento de Pequim.

Os semicondutores são alvo de especial atenção nas sanções estadunidenses. Com proibição de vendas para empresas chinesas e de compartilhamento de informações, os EUA buscam limitar o desenvolvimento chinês nesse setor que faz os processadores necessários para itens como celulares, carros, televisões e aviões militares.

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A guerra na Ucrânia também desperta as diferenças entre as duas potências. Enquanto os Estados Unidos já repassaram para os ucranianos mais de US$ 19 bilhões em "assistência de segurança" desde a invasão pela Rússia — em itens como aviões, caminhões e misseis —, a China tem uma postura diferente.

Pequim costuma destacar a responsabilidade da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no conflito e pedir uma resolução pacífica. Os chineses, todavia, ressaltaram a importância do "diálogo" em setembro, após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciar a convocação de reservistas e referendos em territórios ucranianos anexados.

Em isolamento desde fevereiro de 2020, a primeirão reunião bilateral de Xi com um líder internacional foi com Putin, em setembro deste ano, durante a cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), realizada em Samarcanda, a capital do Uzbequistão.

Edição: Nicolau Soares