O presidente da China, Xi Jinping, recebeu nesta sexta-feira (4) em Pequim o chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz. No encontro, o líder chinês defendeu uma maior cooperação entre os países em meio "a tempos de mudanças e turbulências". O alemão é o primeiro líder do G7 a visitar o país asiático desde o início da pandemia de covid-19, em 2019.
"A China e a Alemanha, duas potências influentes, devem trabalhar juntas num contexto de mudanças em nível global e turbulências. Devemos contribuir para mais paz e um maior desenvolvimento do mundo", afirmou Xi ao receber Scholz no Grande Palácio do Povo em Pequim. "Atualmente, a situação mundial é complexa e volátil."
O presidente da China destacou que o momento exige a busca de um "terreno comum" e que as "diferenças sejam deixadas de lado". Ele agradeceu a visita de Scholz e destacou que ela melhorará a "compreensão e confiança mútuas".
Já Scholz afirmou a Xi ser bom um encontro pessoal entre os dois no atual momento., ressaltando que a invasão da Ucrânia pela Rússia estava criando problemas para a ordem mundial baseada em regras. "É bom que possamos ter uma troca aqui sobre todas as questões, incluindo aquelas que temos perspectivas diferentes. É para isso que serve uma troca."
Segundo líder alemão, estavam na pauta do encontro as relações entre os dois países, a luta contra as mudanças climáticas e a fome global, além do estreitamento dos laços econômicos entre China e Alemanha.
Scholz permanece na China apenas um dia. A visita deve testar o clima entre o Ocidente e o gigante asiático após anos de tensões. O chanceler federal da Alemanha é o primeiro líder europeu a se encontrar com Xi em mais de dois anos.
A visita ocorre sob fortes medidas de segurança sanitária para evitar a propagação do coronavírus. Antes de desembarcar, a delegação alemã fez um teste de covid dentro do avião. Membros da embaixada alemã em Pequim que tiverem contato com a delegação terão que fazer uma quarentena de sete dias em hotel, seguida de três dias em casa.
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A viagem ocorre apenas duas semanas após o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês, que elegeu Xi para um terceiro mandato. Scholz também se reunirá com o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, que deixa o cargo em março.
Viagem em meio a críticas
Embora o governo de Scholz tenha sinalizado um afastamento da abordagem puramente comercial em relação ao país asiático, cultivada pela antecessora Angela Merkel, o chanceler alemão é acompanhado na viagem por uma delegação empresarial, que inclui os presidentes executivos da Volkswagen, BioNtech e Siemens.
A China se tornou a maior parceira comercial da Alemanha em 2016, com o aumento das exportações principalmente de máquinas e automóveis. Críticos afirmam que a Alemanha estaria cometendo em relação a Pequim o mesmo erro que com Moscou, entregando-se a grande dependência econômica de Estados que desprezam abertamente as leis internacionais – o que, no caso da Rússia, redundou na atual guerra na Ucrânia –, ou que ameaçam indiretamente com violência militar a fim de impor as próprias pretensões territoriais.
Em artigo publicado no jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, na quarta-feira, Scholz justificou a viagem afirmando que a China "é, e continuará a ser, uma parceira importante" e pediu pragmatismo no trato com a potência asiática. Ele argumentou que o mundo mudou desde a pandemia e que é necessário ampliar o diálogo direto com Pequim.
Merkel visitou a China 12 vezes nos seus 16 anos no poder, cimentando a cooperação econômica entre os dois países. Por sua vez, o atual governo anunciou para 2023 uma nova estratégia para a China, tratando Pequim de forma muito mais crítica do que nos últimos anos.
Apesar dos riscos geopolíticos e das violações de direitos humanos, Berlim segue ampliando suas relações comerciais com a China. O Partido Verde alemão – a que são filiados os ministros do Exterior, Annalena Baerbock, e da Economia, Robert Habeck – exige a redução dessas dependências, para que o país não esteja exposto a chantagens como a atualmente praticada pela Rússia.