A indicação do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) para a coordenação da equipe de transição do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi bem recebida por cientistas políticos escutados pelo Brasil de Fato. De acordo com os especialistas, os petistas sinalizam, com o gesto, que pretendem ter um diálogo saudável com os integrantes do governo de Jair Bolsonaro (PL).
"Alckmin foi colocado como coordenador exatamente para não criar grandes atritos com bolsonaristas, afinal de contas o Alckmin é uma figura de centro-direita que tem condições de manter um diálogo com bolsonaristas mais radicais sem envolver os petistas na linha de frente. Isso garante uma transição mais harmoniosa do governo Bolsonaro para o governo Lula", explica cientista político Paulo Nicolí Ramirez.
O anúncio de Alckmin foi feito nesta segunda-feira (1), pela presidenta do PT, Gleisi Hoffmann, em reunião da Direção Nacional do partido. Além do vice-presidente, a própria dirigente e Aloizio Mercadante também devem ter funções na equipe.
A escolha do ex-governador de São Paulo para vice na chapa de Lula já previa o diálogo com setores conservadores da política brasileira, explica Ramirez. "Foi uma tentativa dos petistas de buscar apoio na centro-direita, já que o Alckmin é uma figura que de alguma forma o empresariado respeita."
Para o cientista político Carlos Machado, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB), a nomeação do vice-presidente já indica as intenções de Lula para a formação do futuro governo.
"A indicação do Alckmin mostra uma intenção do Lula de construir um governo muito amplo, que não esteja vinculado especificamente aos interesses da direção do PT. Essa indicação mostra que caminhamos para um governo suprapartidário", disse Machado.
Ao Brasil de Fato, integrantes do PT afirmaram que a indicação de Alckmin "é um sinal de prestígio e confiança, ele não é um apêndice que tenha movimentos separados do Lula. É alguém de dentro, que mostrou ser leal e capaz."
Dia intenso
A decisão de indicar Alckmin veio em um dia repleto de reuniões internas no PT. O partido montou uma equipe de análise frequente das manifestações de bolsonaristas, que durante a última terça-feira (1) travaram rodovias no país e questionaram o resultado confirmado pelas urnas.
A decisão tomada pelos dirigentes foi dividir a força-tarefa. A Direção Nacional do partido segue monitorando as manifestações e o comando da campanha de Lula cuidará exclusivamente da transição, assessorando Alckmin.
Edição: Thalita Pires