Figuras da extrema direita dos Estados Unidos tem propagado desde a derrota eleitoral no domingo (30) a teoria de que o candidato pelo PL, Jair Bolsonaro, sofreu uma fraude eleitoral e que não deve reconhecer a vitória de Lula (PT). Há, ainda, a difusão de imagens dos bloqueios nas rodovias por apoiadores golpistas do presidente em exercício e até a defesa de uma intervenção militar.
Um dos nós dessa rede de desinformação é Alex Jones. Ele foi condenado recentemente a pagar cerca de US$ 1 bilhão por mentir sobre um massacre em uma escola dos EUA que vitimou 20 crianças. De acordo com Jones, o massacre de Sandy Hook teria sido "encenado" para aumentar o controle sobre a venda de armas. Os familiares das crianças viveram com ameaças e difamações por anos por conta das mentiras de Jones em seu popular talk show InfoWars.
Jones afirmou que Bolsonaro "provavelmente ganhou por 20 pontos" e que "ele [Bolsonaro] pode ir para os militares e enfrentar essa tomada comunista". Em seu programa, o extremista compartilhou imagens dos protestos nas rodovias e supostas imagens de "traficantes" comemorando a vitória do PT.
O dono do InfoWars ainda disse ter "muitas conexões com Bolsonaro" e contou já ter encontrado um membro da família do presidente em exercício que faz parte do Congresso, uma provável referência a Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com quem se encontrou em 2020. Ele destacou que chegou perto de conseguir uma entrevista com Jair Bolsonaro, que acabou não acontecendo.
No rompante contra a democracia no Brasil, Jones aproveitou para também desacreditar o sistema eleitoral dos EUA, atacar Hillary Clinton e promover a venda de seus suplementos alimentares, entre eles o "Super Vitalidade Masculina".
Steve Bannon e Ernesto Araújo
Outro recém-condenado que espalha mentiras sobre o Brasil é Steve Bannon. Ex-conselheiro de Donald Trump e condenado a quatro meses de prisão por desacato ao Congresso dos EUA, Bannon recorre do processo em liberdade e segue articulando a extrema direita global.
Após ser banido de redes sociais como Twitter e Facebook, assim como Trump e Alex Jones, agora Bannon é ativo na rede social Gettr. A plataforma foi fundada por Jason Miller, ex-conselheiro de Trump, e já patrocinou eventos organizados pelo Instituto Conservador Liberal (ICL), think tank de Eduardo Bolsonaro.
No Gettr, Bannon compartilhou nos últimos dias um meme em defesa da "masculinidade" como "necessária para a sobrevivência da nossa civilização" e pedidos para que Bolsonaro "não conceda" e reconheça a vitória de Lula nas eleições.
Além disso, o ex-conselheiro de Trump também compartilhou imagens dos bloqueios nas rodovias no Brasil.
No domingo da eleição (30), Bannon participou de uma live no Gettr com o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e Matthew Tyrmand, do Projeto Veritas. Na ocasião, Tyrmand se referiu a Bannon como "general" e também disse que a suposta fraude nas eleições brasileiras é igual ao que aconteceu em 2020 nos Estados Unidos.
Após Trump não reconhecer sua derrota nas eleições, uma turba de extremistas apoiada pelo republicano invadiu o capitólio dos EUA em uma tentativa de golpe de Estado no dia 6 de janeiro de 2021. Na Bolívia, um motim das forças de segurança foi um dos ingredientes do golpe de Estado que levou Jeanine Áñez à presidência em 2019.
Essa campanha de aliados de Trump por Bolsonaro com mentiras sobre as urnas no Brasil já havia acontecido no primeiro turno das eleições presidenciais no início de outubro, conforme revelou a Agência Pública.
Araújo, por sua vez, classificou Bannon na live no dia da eleição como um "amigo, pessoa fantástica" e contou ter participado há duas semanas de um congresso do partido de extrema direita espanhol Vox em Madrid pouco tempo atrás.
"Como a esquerda leva todas as eleições nas Américas? Eu também não sei. O sistema tem muitos recursos, é uma luta muito assimétrica", disse Araújo na live, quando as urnas já apontavam uma vitória parcial de Lula.
Edição: Arturo Hartmann