Bloqueios de rodovias realizados por apoiadores de Bolsonaro após sua derrota para Lula no segundo turno começaram a ser desfeitos nesta terça-feira (1), após o Supremo Tribunal Federal (STF) formar maioria para que as polícias militares dos estados atuem na desobstrução das vias ocupadas ilegalmente. Somente no Rio Grande do Sul, chegou a 70 bloqueios em estradas estaduais e federais, baixando para cerca de 50 no final da manhã.
Comunicado da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Rio Grande do Sul atualizado às 17h30 aponta ainda 11 rodovias federais bloqueadas, sendo seis com bloqueio total e cinco com bloqueio parcial.
O uso das forças policiais para desbloquear os atos dos apoiadores de Bolsonaro foram determinados pelo ministro do STF, Alexandre de Morais, nesta segunda-feira (31), atendendo a um pedido da Confederação Nacional dos Transportes e do vice-procurador geral eleitoral. A medida foi confirmada por mais seis ministros. Ainda conforme a decisão de Moraes, os responsáveis devem ser identificados e podem ser multados e presos.
"Bloqueios ilegais", afirma governo do RS
De acordo com o governo do Rio Grande do Sul, foi montado um gabinete de crise nesta terça que definiu o uso da Brigada Militar (BM) para efetuar os desbloqueios. A operação da BM iniciou pelas rodovias estaduais com o deslocamento de cerca de mil agentes. Está previsto para as 18h um novo encontro do gabinete de crise para fazer um balanço das ações.
O governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB) considera irregulares as intervenções. “Sobre os bloqueios ilegais que ocorrem nas estradas do RS, minha ordem às forças de segurança é para agir e efetuar os desbloqueios de forma imediata, conforme indica a lei. Não vamos permitir que essa situação permaneça e prejudique o povo gaúcho”, declarou.
Segundo o gabinete de crise, as medidas envolvem, em um primeiro momento, o diálogo com os manifestantes que bloqueiam vias públicas. Caso as ordens de liberação não sejam cumpridas, os infratores poderão ser multados em valores que variam de R$ 10 mil a R$ 100 mil – para pessoas físicas ou jurídicas, dependendo da natureza da irregularidade. Se ainda assim houver resistência, o uso da força poderá ser aplicado.
Venda de combustíveis foi afetada
Um dos pontos que causou preocupação na população e levou muitos correndo a postos de gasolina foi o bloqueio de caminhoneiros bolsonaristas junto a distribuidoras de combustíveis na Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), entre Canoas e Esteio, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Postos da Capital registraram aumento de filas e preços até R$ 0,20 mais caro que na segunda-feira. Alguns postos ficaram sem gasolina. O bloqueio na Refap foi realizado na manhã desta terça-feira.
Entre os desbloqueios já realizados, também na Região Metropolitana, em Novo Hamburgo, a BR-116 no quilômetro 240 foi feito pela tropa de choque da BM, que dispersou os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo. A ação não deixou feridos, mas os manifestantes seguem às margens da rodovia. Na BR-290, a Freeway, na altura da Santo Antônio da Patrulha, o tráfego foi liberado após a retirada de terra e de pneus em chamas que impediam a passagem.
Centrais criticam terceiro turno
Em nota lançada nesta terça, centrais sindicais do país criticam os bloqueios das rodovias por apoiadores de Bolsonaro e afirma que "as eleições em todo Brasil foram legítimas, democráticas, transparentes e reconhecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e que todos devem se submeter à vontade soberana do povo e do eleitorado".
"Não podemos aceitar uma espécie de 3º turno que setores políticos isolados do bolsonarismo tentam, numa estratégia golpista e antidemocrática, submeter a sociedade brasileira através de tumultos, bloqueios de rodovias e outras manifestações sem respaldo político e popular", diz trecho da nota. "É inaceitável e criminosa a posição adotada por setores partidarizados dos órgãos de segurança – em especial da Polícia Rodoviária Federal (PRF) – que prevaricam no cumprimento de suas funções e obrigações legais e constitucionais", prossegue.
As centrais conclamam governos federal e estaduais e instituições democráticas a tomarem providências para "o retorno da normalidade para garantir o respeito à democracia e ao resultado das eleições". Destacam a importância do movimento sindical não aceitar "provocações e radicalismos" e "reforçam a importância do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF) na busca de soluções republicanas".
Confederação de trabalhadores condena protestos
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) condenou os protestos de caminhoneiros que bloqueiam estradas pelo país e acusou empresários do setor agropecuário de estarem por trás das manifestações contra o resultado das urnas do último domingo que elegeram Lula à Presidência.
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"Os caminhoneiros autônomos e celetistas são vítimas desses bloqueios, uma vez que esses grupos contrataram fretes de caminhões caçambas com pedras e terras para dificultar a passagem nas rodovias", afirmou a entidade por meio de nota.
Caminhoneiro autônomo de Ijuí (RS) e dirigente da entidade, Carlos Alberto Litti Dahmer afirma que os bloqueios são antidemocráticos. “O que estamos vivenciando em alguns pontos do país é uma ação antidemocrática de alguns segmentos que não representam a categoria dos caminhoneiros autônomos como tem se dado o crédito para essa movimentação de não aceitação do resultado das urnas. Nós precisamos respeitar o que o povo decidiu”, afirma.
Ele ainda pontua que a ação pode ser de origem de patrões, o chamado locaute. “Os caminhões que aparecem nas imagens, na maioria, são novos, o que aumenta a suspeita de participação das transportadoras.” Comentou que está atuando para que os bloqueios sejam desfeitos.
Para sindicato dos policiais rodoviários, silêncio de Bolsonaro estimula bloqueios
Antes do pronunciamento de Bolsonaro, a Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FENAPRF), entidade de representação sindical da categoria, divulgou uma nota reafirmando o respeito ao Estado Democrático de Direito e criticando o candidato derrotado Jair Bolsonaro (PL) por não reconhecer publicamente o resultado das eleições, alimentando as ações de bloqueios das estradas.
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"A postura do atual presidente da República, Jair Bolsonaro, em manter o silêncio e não reconhecer o resultado das urnas acaba dificultando a pacificação do país, estimulando uma parte de seus seguidores a adotarem ações de bloqueios nas estradas brasileiras", afirma o texto. "O resultado das eleições de 2022 expressa a vontade da maioria da população e deve ser respeitado."
A entidade também afirma que os policiais rodoviários seguem trabalhando para o "restabelecimento do direito de ir e vir da população", e criticam as ações do comando da instituição.
“O sistema sindical dos PRFs segue cobrando uma postura firme da direção do DPRF, para prover os meios necessários para que a corporação cumpra suas funções constitucionais, garantindo assim o direito de ir e vir da população e resguardando a segurança e integridade dos policiais", afirma a nota.
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko