O diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, não tem compromissos registrados na sua agenda oficial há 25 dias. A Lei 12.813/2013 determina que servidores federais em cargos de Direção e Assessoramento Superiores (DAS) de nível 6, como é o caso de Vasques, "divulguem, diariamente, por meio da rede mundial de computadores - internet, sua agenda de compromissos públicos".
Vasques virou protagonista do noticiário neste domingo (30), durante o segundo turno da eleição presidencial, ao descumprir determinação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e comandar operações da PRF, preferencialmente, em redutos eleitorais petistas. Com o descumprimento à Lei de Conflito de Interesses e à Lei de Acesso à Informação, é impossível saber com quem o servidor se reuniu nas últimas semanas.
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As operações da PRF nos estados, que estariam atrapalhando a viagem dos eleitores aos locais de votação no país neste domingo (30), teriam sido articuladas inicialmente no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente. Conforme mostrou o colunista do jornal O Globo Lauro Jardim, na noite de 19 de outubro o núcleo duro da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) teria se reunido e traçado as ações.
A "agenda secreta" de Silvinei Vasques impede confirmar se ele, de fato, esteve institucionalmente em uma reunião no Palácio da Alvorada – e se, dessa forma, colocou a corporação à serviço da campanha do chefe do Executivo, que é candidato à reeleição.
Na noite de sábado (29), faltando poucas horas para o início da votação, o diretor-geral da PRF chegou ao ponto de pedir votos para o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) nas redes sociais. Em um post feito via story em sua conta pessoal no Instagram, na noite deste sábado, o policial escreveu "vote 22, Bolsonaro presidente".
Agente comemora bloqueios contra eleitores de Lula
No começo da tarde deste domingo (30), o policial rodoviário federal Adalberto Alfredo Schumann comemorou os bloqueios de eleitores petistas no Nordeste em um grupo de WhatsApp composto por outros agentes. Schumann postou uma selfie e escreveu: "Ó a cara de alguém que está preocupado com as determinações do ministro".
A frase faz referência a decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, que impedia operações da PRF e de outras forças de segurança que atrapalhassem as eleições.
"Só cumprindo o cartão programa e correndo atrás dos eleitores do Lula que saíram do cercado para voltar e não conseguiram voltar", prosseguiu. De acordo com a Revista Piauí, que foi quem obteve a conversa na íntegra, "cartão programa" é uma gíria de agentes da PRF para "diretrizes de policiamento" relacionadas a determinada data. Geralmente, os "cartões programas" viriam diretamente da cúpula da corporação.
PRF atuou em pelo menos três chacinas no governo Bolsonaro
Desde o início do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), a PRF atuou em parceria com polícias militares em pelo menos três chacinas. Além da parceria na ação com o Batalhão de Operações Especiais (Bope), deflagrada em maio, na VIla Cruzeiro – que já chegou a 25 mortes confirmadas –, agentes da PRF estiveram ao lado da Polícia Militar do Rio de Janeiro, em fevereiro deste ano, na mesma região.
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A operação deixou pelo menos oito mortos, no complexo da Penha. Na ocasião, a PM afirmou que os agentes estavam cumprindo mandados de prisão contra uma quadrilha de roubo de cargas. A operação visava prender Adriano Souza Freitas, conhecido como Chico Bento, suposto chefe do Comando Vermelho.
Em outubro do ano passado, em outro episódio, pelo menos 25 pessoas foram mortas em uma ação conjunta da PRF com a PM de Minas Gerais, em Varginha, no sul do estado. De acordo com a PRF, a ação combatia o chamado "novo cangaço". Em nota, a corporação disse que os bandidos teriam atacado os policiais.
PRF: Câmara de gás em Sergipe
Os moradores da cidade de Umbaúba, no litoral sul de Sergipe, flagraram uma abordagem policial que resultou em morte, em maio deste ano. Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, foi morto depois de ser preso por dois policiais rodoviários federais dentro de uma "câmara de gás" montada no porta-malas da viatura da PRF.
O sobrinho da vítima, Wallyson de Jesus, presenciou a situação e afirmou que o tio tinha um transtorno mental. "Eles pediram para que ele levantasse as mãos e encontraram no bolso dele cartelas de medicamentos. Meu tio ficou nervoso e perguntou o que tinha feito. Eu pedi que ele se acalmasse e que me ouvisse", relatou Wallyson.
Nas imagens gravadas pela população, é possível ver Genivaldo ser rendido por dois policiais. Ele está no chão e depois é colocado no porta-malas da viatura. Enquanto um dos policiais segura a tampa do porta-malas para assegurar que ela continue fechada, o outro joga, dentro do espaço fechado, grande quantidade de gás. Quando o compartimento é aberto de novo, o homem já não se mexe mais.
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Holocausto
Durante o Holocausto, câmaras de gás foram projetadas como parte da política nazista de genocídio contra judeus. Os nazistas também tinham como alvo ciganos, homossexuais, deficientes físicos e mentais, intelectuais e do clero. A estratégia foi usada para matar milhões de pessoas entre 1941 e 1945.
Edição: Thalita Pires