áudio vazado

Integrante da campanha de Tarcísio mandou cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens de tiroteio

Áudio foi divulgado pela 'Folha de S. Paulo'; incidente aconteceu na última semana em Paraisópolis

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Tarcísio agachado durante troca de tiros em Paraisópolis - Foto: Divulgação

Áudio que foi divulgado nesta terça-feira (25) pelo jornal Folha de S. Paulo revela integrante da equipe do candidato ao governo paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos) ordenando a um cinegrafista da Jovem Pan News que apagasse imagens do tiroteio registrado em Paraisópolis, zona sul da capital paulista, durante atividade de campanha do bolsonarista no último dia 17.

O diálogo, segundo a Folha, foi gravado em um prédio usado pela campanha para onde equipes de imprensa que acompanhavam a agenda foram levadas após o tiroteio. Nos áudios é possível ouvir o integrante da campanha dizer frases como "você tem que apagar" e "não pode divulgar isso não" (leia a transcrição completa do diálogo ao fim do texto).

No diálogo gravado é possível ouvir o cinegrafista dizendo que "já foi", ou seja: as imagens já tinham sido enviadas à redação da emissora, que foi a primeira a noticiar o episódio. Mais que isso, a Jovem Pan News, altamente alinhada ao bolsonarismo, chamou o caso de "atentado" em um primeiro momento, recuando horas depois. O próprio candidato afirmou que "em nenhum momento disse que era atentado".

Leia mais: Polícia nega atentado contra Tarcísio em SP: "O tiroteio ocorreu a 100 metros"

A Folha de S. Paulo procurou a equipe do candidato, que reconheceu a autenticidade da gravação e disse que pediu para que trechos das imagens não fossem colocados no ar para "não expor quem estava lá". A assessoria de imprensa do candidato afirmou, ainda, que "nunca houve impedimento" para exibição de imagens do episódio.

Em nota divulgada nas redes sociais, o perfil do candidato afirmou que houve "tentativa de descontextualização do episódio em Paraisópolis e interpretação equivocada do áudio divulgado".

Repercussão

O adversário de Tarcísio na disputa no segundo turno, Fernando Haddad (PT), compartilhou o áudio.

O deputado federal eleito Guilherme Boulos, do PSOL paulista, esteve entre os líderes políticos e jornalistas que também comentaram o tema nas redes sociais.

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) se manifestou sobre o caso, afirmando que "pedir para o repórter cinematográfico apagar as imagens que fez é claramente uma tentativa de censura e um atentado à liberdade de imprensa. É sempre bom lembrar que a Constituição do Brasil estabelece as liberdades de expressão e de imprensa, proibindo a censura prévia. Portanto, não há base legal para a ação dos membros da campanha do candidato."

"A Fenaj espera que o candidato venha a público manifestar-se em favor do livre exercício do jornalismo e informar a sociedade sobre as medidas tomadas no âmbito da sua campanha."

 

Confira a íntegra do diálogo vazado pela Folha:

[integrante da campanha] "Você filmou [inaudível] que mostram policiais atirando?"
"Quando a gente estava... chegou lá para ver o que estava acontecendo. Você saiu ali do local e foi até lá?"
[cinegrafista] "Fui"
[integrante da campanha] "Você estava ali embaixo filmando? Você filmou então o pessoal trocando tiro?"
[cinegrafista] "Não, trocando tiro efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras, a hora que você chega, que você me barra..."
[integrante da campanha] "Você só filmou lá no canto?"
[cinegrafista] "Só. Na hora que você chega ali, eu já estou voltando."
[integrante da campanha] "O pessoal que tava na ONG ali, no Belezinha, você não filmou?"
[cinegrafista] "Não."
[integrante da campanha] "Não filmou?"
[cinegrafista] "Do segurança de colete..."
[integrante da campanha] "Você tem que apagar. Essa imagem que você filmou aqui também. Mostra o pessoal saindo, tem que apagar essa imagem, não pode divulgar isso não."
[cinegrafista] "Já foi."

Edição: Rodrigo Durão Coelho