Diante da atual crise econômica no país, que afeta sobretudo a população mais humilde, igrejas evangélicas de bairros na região metropolitana do Rio de Janeiro e na capital têm enfrentado dificuldade para fechar as contas a cada mês. Fatores como desemprego, pandemia e a perda de renda entre os fiéis derrubaram a arrecadação de congregações que existem há mais de 10 anos, segundo relatos de pastores ouvidos pelo Brasil de Fato.
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É o caso da Comunidade Batista de São Gonçalo, que depende da contribuição dos membros para manter o espaço onde acontecem as reuniões todo domingo pela manhã e à noite. O pastor Júlio Cesar, que deu início ao projeto em 2010, explica que a falta de recursos é uma realidade cotidiana nas pequenas igrejas. E isso se agrava ainda mais pela condição econômica dos fiéis.
"Não estamos ligados a nenhuma denominação fundamentalista, somos uma igreja independente, embora Batista. Fomos profundamente afetados por esses tempos confusos e difíceis economicamente. Vimos nossa gente ficar sem trabalho, outras adoecerem", conta o pastor acrescentando que a dificuldade financeira também compromete atividades de formação religiosa.
Júlio é teólogo, atuou como missionário na revitalização de igrejas no município de São Gonçalo e fundou o Instituto Casa Comum durante a pandemia. A organização sem fins lucrativos atende a população mais vulnerável na região com projetos sociais de combate à fome, geração de renda e educação.
"Da manutenção, da existência da comunidade em si, mensalmente a gente vive essa situação de algumas ações ainda estarem na tentativa. Acabamos diminuindo algumas atividades que a gente tinha projetado. Sofremos com a perda de algumas pessoas que acabaram não voltando no meio da pandemia e essa crise toda", lamenta o pastor.
Impacto das eleições
Já para a Igreja Batista da Orla Oceânica, em Niterói, a queda na receita significou fechar as portas do templo. Sem dinheiro para o aluguel da sede, a solução foi começar a realizar atividades híbridas, com transmissões online e comunhões itinerantes. Alternativa que igrejas menores passaram a adotar a partir da pandemia.
"No começo do ano já começamos a sentir o peso dos custos, reajuste de aluguel, perda de renda dos frequentadores, o poder aquisitivo dos irmãos não acompanhou o aumento das despesas. Tivemos que entregar o imóvel que estava alugado, fazer a doação da nossa mobília para ONGs que trabalham com ação social. Agora é aguardar passar isso tudo para ver o que vamos fazer", lamenta o pastor Irenio Chaves.
O líder religioso conta que a congregação sofreu o primeiro impacto nas finanças na campanha presidencial de 2018. Segundo ele, a igreja foi cobrada a assumir uma posição político-partidária contrária à leitura do evangelho e perdeu membros que apoiavam o então candidato Jair Bolsonaro (PL).
"Nossa mensagem é do evangelho da esperança, da graça, do perdão, do acolhimento, do amor. É o evangelho que a gente conhece e prega. Um grupo queria que a gente assumisse uma posição em favor do bolsonarismo e saiu. Era esse o grupo de maior poder aquisitivo. Deu um baque na igreja mas o grupo que ficou sustentou o trabalho", afirma Irenio, pastor há 40 anos.
"Diria que em torno de 40% da igreja não se dobrou a esse tipo de mentalidade, e não aceita esse discurso político-partidário que tomou conta da igreja, essa perseguição declarada a pessoas que defendem os mais vulneráveis. É uma minoria dedicada, fiel, e que está fazendo a diferença graças a Deus. Sustenta a obra. E o tempo da esperança está voltando em nome de Jesus", completa.
Sustento material e espiritual
A Primeira Igreja Batista em Manguinhos, que abrange um complexo de favelas na zona norte do Rio, completou 51 anos no mês de outubro. Antes da pandemia, a congregação evangélica tinha mais de 200 membros e conseguia custear a sede, contribuir com ações de solidariedade e cestas básicas.
Em pouco mais de dois anos, porém, contas básicas como de água e energia começaram a pesar no orçamento. Isso porque a igreja perdeu fiéis para outras denominações que não cumpriram o protocolo sanitário e permaneceram abertas no auge da pandemia.
“Hoje se tivermos uma entrada mensal de R$ 3 mil é muito. Com esse valor não dá para fazer nada, mal pagar as contas. Temos, água, energia, condomínio, material de limpeza. Por outro lado, a sociedade olha para a igreja como seu porto seguro”, pondera Reinaldo.
A crise adiou os planos de construir um anexo onde funcionaria um departamento de educação religiosa integrado à comunidade de Manguinhos. Mesmo nos momentos mais difíceis, o pastor enfatiza que “Deus move todas as coisas para dar respostas às nossas necessidades e anseios”.
“Nosso maior objetivo é buscar esse sustento, quer seja espiritual ou material, para as famílias. De uma certa forma nos sentimos até impotentes porque a questão apenas espiritual não consegue suprir as necessidades materiais”, reflete.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse