Católicos de todo o mundo celebram neste mês os três anos da realização do Sínodo da Amazônia, uma reunião histórica convocada pelo Papa Francisco para discutir temas relativos à preservação do bioma e, especialmente, à defesa dos povos originários da região.
Anunciado pelo por ele em 2017, o Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica ocorreu entre 6 e 27 de outubro de 2019 e reuniu representantes do catolicismo de países com território amazônico, como Colômbia, Equador, Peru, Antilhas, Bolívia e Venezuela.
Do Brasil mais de 50 bispos compuseram o grupo dos chamados padres sinodais, convidados a falar da realidade de suas regiões. Participaram também representantes de outras comunidades cristãs, além de lideranças dos povos tradicionais.
Entre as pautas tratadas, estavam o combate às mudanças climáticas e como a Igreja deveria se adequar melhor às realidades da floresta amazônica. Durante o evento, aconteceu também a canonização da irmã Dulce, a primeira santa brasileira.
Pedido de perdão e respeito
Ao reconhecer as diversas identidades dos povos originários, o "rosto dos povos da Amazônia", as lideranças católicas ressaltaram que movimentos de evangelização devem respeitar as raízes dessas comunidades e garantir “todos os esforços que fazem muitos desses grupos para preservar os seus valores.”
A frase está na Exortação Apostólica “Querida Amazônia”, documento construído durante os debates que ocorreram no Sínodo.
Assinada pelo Papa Francisco, a carta rejeita a ideia de um modelo monocultural do cristianismo e ressalta que a evangelização não pressupõe a imposição de culturas. O caminho para essa renovação passa pela escuta à sabedoria ancestral e pelo reconhecimento dos modos de vida das comunidades.
No texto o Papa Francisco pede perdão pelas violências cometidas contra os povos tradicionais.
“Peço humildemente perdão, não só pelas ofensas da própria Igreja, mas também pelos crimes contra os povos nativos durante a chamada conquista da América e pelos crimes atrozes que se seguiram ao longo de toda a história da Amazônia. Aos membros dos povos nativos, agradeço e digo novamente que, com a vossa vida, sois um grito lançado à consciência (…). Vós sois memória viva da missão que Deus nos confiou a todos: cuidar da Casa Comum”
O cuidado com o planeta, a “casa comum” citada pelo papa, é visto como inseparável da defesa das pessoas. O documento explicita que abusar da natureza “significa abusar dos antepassados, dos irmãos e irmãs, da criação e do Criador, hipotecando o futuro.”
Frei Paolo Maria Braghini, missionário dos Frades Menores dos Capuchinhos do Amazonas e Roraima, conta sobre as assembleias que vêm sendo realizadas com caciques Ticuna para criar estratégias de preservação."Do sínodo (para cá), se fortaleceu muito a importância do cuidado com o meio ambiente", afirma
Segundo ele, a missão segue firme na direção de "Proteger dos invasores, de pesca, madeira, mas, ao mesmo tempo, ver como o povo daqui pode reflorestar e dar vida onde a natureza já está enfraquecida. Esse processo veio se fortalecendo com o Sínodo."
Caminho certo
Frei Paolo Maria Braghini relata que os anos anteriores ao Sínodo trouxeram muitas incertezas para os que já trabalhavam com a perspectiva de pregar as palavras de Jesus Cristo sem imposições culturais.
"Nos sentíamos uma igreja criança, que estava dando os primeiros passos em uma direção onde os outros não estavam indo. Uma igreja indígena, dentro de uma realidade onde a igreja tinha outro rosto.
Para ele, o sínodo foi como uma "mãe, que encoraja com palavras doces e firmes: vá em frente, caminhe, está na hora. Foi uma alegria tão grande, que é difícil explicar. Sentimos que estávamos indo na direção justa, correta, que era realmente a vontade de Deus e que a nossa mãe, a mãe igreja, estava nos encorajando a prosseguir firmes", complementa o religioso, que integra a Rede Eclesial Panamazônica.
Edição: Rodrigo Durão Coelho