ENTREVISTA

João Pedro Stédile, do MST: "Temos que combinar a luta institucional com luta de massas"

Dirigente do MST explica estratégia dos movimentos populares para as eleições 2022 e a saída do Brasil da crise

Brasil de Fato | Recife (PE) |
João Pedro Stédile, dirigente nacional da via campesina e do MST, comenta sobre as estratégias dos movimentos do campo para a disputa eleitoral deste ano - Rafael Stedile

Diante de um cenário de cortes nas políticas de incentivo à agricultura familiar, este tema, junto do direito à terra e da agroecologia tomaram uma grande importância nessas eleições.

Para falar sobre isso, o economista e dirigente nacional da Via Campesina e do MST, João Pedro Stédile, comenta sobre as estratégias dos movimentos do campo para a disputa eleitoral deste ano.

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Brasil de Fato Pernambuco: Estamos em ano de eleições e vendo que os movimentos sociais estão se mobilizando para participar da disputa eleitoral colocando candidaturas. No caso dos movimentos do campo, o que motiva essa estratégia?

João Pedro Stédile: O Brasil está vivendo a pior crise dos 200 anos, uma crise estrutural do capitalismo que juntou com milhões de brasileiros na calçada, que acabou com as políticas públicas para a agricultura familiar e para a reforma agrária, e que voltou com a fome. Então, portanto, nós estamos dizendo que no dia 2 de outubro nós vamos estar em uma encruzilhada em que o povo brasileiro vai ter que decidir se vai continuar com esse projeto insano, genocida do Bolsonaro ou vai ter outro projeto de país.

São diversas as pautas dos movimentos do campo. O que a Via Campesina aponta como pautas em comum entre os movimentos?

Existem muitos temas que dizem respeito a toda população que vive no campo. Então, de fato, as várias formas de movimento procuram expressar o que é comum. Primeiro é que a agricultura seja organizada para produzir alimentos saudáveis. Para produzir alimentos saudáveis tem que adotar a agroecologia. A agricultura precisa ser um lugar de bem-estar para as pessoas e, portanto, é nosso papel também defender a natureza, defender o desmatamento zero. Não derrubar mais nenhuma árvore e reflorestar para salvarmos o planeta e não só o Brasil.

E nós precisamos também organizar no campo a agroindústria na forma cooperativa para poder industrializar os alimentos e transportar até as grandes cidades; recuperar todas as políticas públicas que favoreciam a agricultura familiar como o PAA, o PNAE, como os programas de assistência técnica, e  ampliar os programas de educação, como era o PRONERA, como era a ampliação dos IFETES no interior.


Distribuição de alimentos produzidos em áreas de assentamento em Pernambuco / Ana Olívia Godoy/MST-PE

A maioria das candidaturas do MST estão localizadas no Nordeste. A região é uma prioridade nesse sentido da luta institucional e partidária?

O que nós temos dito é que será fundamental nós termos uma bancada poderosa de parlamentares de esquerda, comprometidos com a classe trabalhadora, seja para o legislativo estadual, seja para a Câmara dos Deputados. Não só o MST, a CONTAG, a CONTRAF, os quilombolas, os pescadores. Todo mundo está engajado nessa missão que é eleger parlamentares para as assembleias legislativas e para a Câmara dos Deputados que sejam comprometidos não só com os camponeses, mas comprometidos com a classe trabalhadora e as mudanças que o Brasil precisa. E o MST em cada estado, não é só aqui no Nordeste, tem apresentado candidaturas junto com outras forças populares do campo e da cidade.

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Em nível de América Latina nós temos diversas experiências de ocupação dos povos do campo em espaços de decisão de poder. Quais lições podemos tirar neste sentido?

A lição que vem da América Latina é que as mudanças estruturais frente a essa crise do capitalismo necessariamente dependem de mobilizações populares. Foram as mobilizações populares que fazem ganhar eleições, como nós vimos no Chile, recentemente, e como nós vimos na Colômbia.

O segundo ponto é que nós temos que combinar a luta institucional, através das eleições de governantes e parlamentares, com a luta de massas para conquistar aqueles direitos que estão na constituição brasileira. E a terceira lição, que é comum de toda a América Latina, é que nós temos que colocar energia na formação de militantes, na educação, para elevar o nível educacional da nossa base. Como disse José Martí, pai da pátria latinoamericana, só o conhecimento liberta verdadeiramente as pessoas.

As candidaturas vêm do campo, mas para disputar as eleições precisam dialogar com os meios urbanos, que são onde está concentrada a maior parte do eleitorado. Qual a expectativa dessa experiência para o fortalecimento dessa relação entre campo e cidade?

A nossa experiência nesse trabalho tem sido fantástica porque nos deu a oportunidade de ir falar com as pessoas. Ir de casa em casa, ir às praças públicas, fazer atos culturais. Ou seja, dialogar com o povo da cidade. E o que nós falamos com o povo? Falamos que estamos enfrentando a fome, que nós estamos enfrentando o desemprego e que é preciso salvar o planeta por causa do clima.

Então, esses temas que nós não teríamos possibilidade de dialogar com a cidade, em função da campanha, nos permite dialogar e a população se dá conta de que não vai acabar a fome se os camponeses não tiverem condições de produzir alimentos.

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Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga