A líder de ultradireita Giorgia Meloni pareceu ter optado por um tom moderado em suas primeiras declarações após os resultados preliminares da eleição nacional de domingo na Itália mostrarem seu partido na liderança das apurações.
Meloni, de 45 anos, disse nesta segunda-feira que se esforçará para unir seu país se for encarregada de formar o próximo governo.
"Se formos chamados a governar esta nação, faremos isso por todos os italianos, vamos fazê-lo por todos os italianos e com o objetivo de unir o povo [deste país]", disse a chefe do Irmãos da Itália (Fratelli d'Italia, FdI) discursando em Roma, na sede do partido de raízes neofascistas. "A Itália nos escolheu", ressaltou. "Nós não vamos trair [o país], assim como nunca o fizemos."
Já quando as pesquisas que antecederam a votação de domingo a indicavam como a provável vencedora, Meloni moderou sua mensagem de extrema direita, em uma aparente tentativa de tranquilizar a União Europeia e outros parceiros internacionais.
"Este é o momento de ser responsável'', disse Meloni, aparecendo ao vivo na televisão e descrevendo a situação para a Itália e a União Europeia como "particularmente complexa''.
"Itália se move para a direita"
Em ascensão meteórica, Giorgia Meloni e seu partido nacionalista parecem a um passo para dar à Itália seu primeiro governo de ultradireita desde a Segunda Guerra Mundial. "A Itália se move para a direita", destacou o jornal italiano La Stampa em sua primeira página nesta segunda-feira.
A formação da próxima coalizão governante da Itália, com a ajuda de aliados de direita, pode levar semanas. Mas se Meloni tiver sucesso, ela pode se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do país. Seus principais aliados de campanha e prováveis parceiros de coalizão são o líder da sigla anti-migração Liga, Matteo Salvini, e o ex-primeiro-ministro conservador Silvio Berlusconi, líder do Força Itália (FI).
A aliança de direita saiu vencedora, obtendo 43,9% dos votos, segundo resultados parciais, após a contagem de cerca de 99% das urnas.
O partido de ultradireita FdI, de raízes pós-fascistas e liderado por Giorgia Meloni, é o mais votado, de acordo com o levantamento, tendo obtido 26,1% dos votos. Seus parceiros de coalizão conseguiram percentuais bem menores, abaixo dos 10%. A Liga, de Matteo Salvini, obteve 8,8% e a FI, do magnata Silvio Berlusconi, 8,1%. A aliança de direita deve conseguir maioria suficiente para controlar as duas casas do Parlamento.
A coalizão progressista liderada pelo Partido Democrático (PD), encabeçado por Enrico Letta, ficou com 26,2%. Com 15,3%, o Movimento Cinco Estrelas (M5S) se tornou o terceiro partido no país – atrás do PD, que obteve, isoladamente, 19,1%.
Mudança sísmica
A vitória de Meloni representa uma mudança sísmica para a Itália – um membro fundador da União Europeia e a terceira maior economia da zona do euro – e para a UE, apenas algumas semanas depois que a ultradireita ganhou as eleições na Suécia.
"Meloni toma a Itália", dizia a manchete do jornal Repubblica, enquanto o editorialista Stefano Folli disse que a Itália "acorda esta manhã muito mudada".
"É a primeira vez em décadas que a face política do país se transforma tão completamente. Ainda não sabemos se seu destino na Europa também mudou, mas essa é a primeira de muitas questões" que os italianos agora enfrentam, escreveu.
Abstenção recorde
A participação eleitoral, ao redor de 64%, caiu para um mínimo histórico, cerca de nove pontos abaixo das últimas eleições em 2018.
Partidos nacionalistas em todo o continente foram rápidos em parabenizar Meloni. Do primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, ao partido ultranacionalista espanhol Vox. "Meloni mostrou o caminho para uma Europa orgulhosa e livre de nações soberanas", tuitou o líder do Vox, Santiago Abascal.
Mas o ministro do Exterior da Espanha, José Manuel Albares, alertou que "os movimentos populistas sempre crescem, mas sempre terminam da mesma maneira – em catástrofe".
Desafios a Bruxelas
Meloni não quer mais que a Itália deixe a zona do euro, mas diz que Roma deve lutar mais pelos seus interesses e defende políticas que parecem desafiar Bruxelas em tudo, desde assuntos como regras de gastos públicos até migração em massa.
A coalizão de direita também quer renegociar o fundo de recuperação pós-pandemia da UE, argumentando que os quase 200 bilhões de euros que a Itália deve receber devem levar em conta a crise energética. Mas os fundos estão vinculados a uma série de reformas apenas iniciadas pelo primeiro-ministro Mario Draghi, e analistas dizem que Meloni tem margem de manobra limitada.