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Violência no campo cresceu: leia os dados e entenda a mentira de Bolsonaro em discurso na ONU

De 2020 para 2021, aumento dos assassinatos foi de 75%; até agosto, 2022 registrava 25 homicídios em conflitos por terra

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Projeção na sede da ONU, em Nova York, chama Bolsonaro de "mentiroso" - Reprodução/Twitter

O presidente Jair Bolsonaro (PL) participou da abertura da 77ª Assembleia Geral da ONU, na manhã desta terça-feira (20), com um discurso recheado de mentiras e um forte teor político-eleitoral. Esta pode ser a última participação do Brasil no evento sob o comando de Bolsonaro, que é o segundo colocado nas pesquisas de opinião sobre a disputa pela reeleição.

Em sua fala, Bolsonaro repetiu uma mentira que já vem proferindo há alguns meses: a de que a violência no campo teria caído. "A violência no campo também caiu ao mesmo tempo em que aumentamos a regularização da propriedade da terra para os assentados. No meu governo, entregamos 400 mil títulos rurais, 80% deles para mulheres", declarou o presidente.

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Porém, ao contrário do que disse Bolsonaro, apenas até agosto, o ano de 2022 já registrou 25 assassinatos decorrentes de conflitos no campo, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Em 2021, foram notificados 36 homicídios desse tipo ao longo de todo o ano. De acordo com o relatório 'Conflitos no campo' da CPT, em 2021 houve aumento de 75% dos assassinatos no campo em relação ao ano anterior. No ano passado, 35 pessoas foram mortas nos conflitos por terra, a maior parte delas era indígenas (10), sem-terra (9), posseiros (6) e quilombolas (3). Em 2020, 20 pessoas foram vítimas das disputas territoriais.

:: Movimentos populares lançam campanha nacional para frear a crescente violência no campo ::

Segundo a CPT, entre 2016 e 2022, foram assassinados 98 trabalhadores sem-terra, 58 indígenas, 28 posseiros, 25 quilombolas, 25 assentados, sete trabalhadores rurais, bem como outras 36 pessoas, entre pequenos proprietários, ribeirinhos, ambientalistas, etc. Houve, ao todo, 273 mortes violentas ligadas a conflitos no campo no período. Em agosto, mais de 50 organizações sociais lançaram, em Brasília (DF), a "Campanha contra a violência no campo: em defesa dos povos do campo, das águas e das florestas". A iniciativa tem como objetivo tentar frear os diferentes ataques contra o segmento, um dos grupos sociais mais penalizados durante a gestão Bolsonaro.

Alexandre Conceição, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)  sublinhou que a violência não é uma novidade para esses grupos. "É estrutural a violência do latifúndio, mas, neste momento histórico, nós estamos sofrendo a violência do Estado brasileiro, do Poder Executivo, do presidente da República. Então, precisamos denunciar esse presidente corrupto, violento, que não tem capacidade política pra gerir o Estado e por isso vem fazendo uma política para os grileiros de terra, o latifúndio e o agronegócio, destruindo a política pública da reforma agrária."

As estatísticas traduzem o problema que é sentido na pele por aqueles que têm o direito a uma vida tranquila negado. É o caso do indígena Simão Vilhava Guarani-Kaiowá, um dos sobreviventes do massacre de Caarapó, ocorrido no Mato Grosso do Sul em 2016. Na ocasião, fazendeiros patrocinaram uma ação violenta no local. "Aqui em Brasília eles começam a violentar nosso direito na caneta, mas, lá na base, eles começam a violentar na bala", desabafa o indígena, ao acrescentar que os direitos dos povos tradicionais "nunca foram respeitados no Brasil".

Edição: Thalita Pires