A menos de duas semanas do primeiro turno das eleições deste ano, candidaturas se organizam para buscar os últimos votos de pessoas indecisas ou até mesmo tirar eleitores de seus adversários. Os movimentos das campanhas são guiados, em grande parte, pelas pesquisas eleitorais, que se tornam cada vez mais frequentes à medida que o dia 2 de outubro se aproxima. E, se não são uma garantia absoluta dos resultados que as urnas trarão, elas dão um forte indício do que pode acontecer.
Apesar de ganharem enorme atenção dos eleitores quando publicadas nos veículos de imprensa e movimentarem as redes sociais, nem todas as pesquisas feitas são apresentadas. Muitas delas são contratadas por partidos e candidatos e servem de termômetro para as ações de campanha, mas jamais chegam ao grande público.
O cientista político João Feres Júnior, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), explica que diferenças de técnicas de abordagem e metodologia fazem com que haja distinções nos resultados apontados por diferentes institutos em relação ao mesmo pleito. Por isso, é importante avaliar ferramentas como o "Agregador de Pesquisas" do jornal O Estado de S. Paulo para se ter uma ideia mais próxima do real cenário da disputa.
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"Não existe a possibilidade de ter certeza do resultado da urna através das pesquisas, mas os agregadores, que fazem 'pesquisas das pesquisas', ajudam a ver como as coisas estão. Se você pegar do dia 7 de setembro para cá, por exemplo, a tendência é de aumento de intenções de votos para o Lula [PT] e uma queda ligeira do Bolsonaro [PL]", disse, citando os dois candidatos com maiores intenções de votos na disputa presencial.
Para buscar as intenções de voto, os institutos dividem a população alvo de determinada disputa eleitoral de maneira a tentar retratar da forma mais fiel possível a composição daquele grupo de eleitores. Pensando, por exemplo, nas disputas presidenciais, é feita a divisão da quantidade de entrevistados por diferentes municípios e regiões do país. Na sequência, são realizadas as divisões por renda, idade, escolaridade, raça e gênero, buscando estar o mais próximo possível da proporção de cada um desses grupos na população total.
A partir dessa divisão, os institutos partem em busca das entrevistas. As formas de abordagens variam, e cada uma tem vantagens e desvantagens. É possível, por exemplo, abordar pessoas na rua, em locais de grande fluxo; realizar entrevistas por telefone, ou até mesmo visitar pessoas em seus domicílios.
"No caso das entrevistas por telefone, pessoas mais pobres podem ficar de fora por não ter uma linha, enquanto pessoas muito ricas podem evitar atender as ligações. Quando é feita a abordagem na rua, são excluídas pessoas que não podem sair de casa, ou aquelas que se deslocam apenas de carro, evitam caminhar. A visita domiciliar se aproxima mais do ideal, mas também é a mais cara, e mesmo ela tem problemas, e o ideal seria que fossem sorteadas as casas entre todas as residências do país, o que é impossível e inviabilizaria o levantamento", explica Feres.
"Para mais ou para menos"
De tão presentes no cotidiano, as pesquisas eleitorais se tornaram referência para discutir outros assuntos. Termos como "margem de erro" se tornaram comuns no dia a dia, até mesmo no caso de pessoas que não se interessam por política ou pelo cenário eleitoral. Atualmente, a lei eleitoral brasileira prevê a necessidade de divulgação da margem de erro logo que o levantamento vai ser registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), antes mesmo da realização da pesquisa.
"O conceito da margem de erro é bem simples. Vamos imaginar uma margem de três pontos percentuais. Se uma pesquisa mostra que um candidato tem 12% das intenções de voto, isso quer dizer que ele tem, segundo a pesquisa, a chance de ter entre 9 e 15% do total de votos", destacou o cientista político. Quanto maior o número de pessoas entrevistadas, diminui a margem de erro.
Outro conceito, talvez menos conhecido mas igualmente importante, é o do intervalo de confiança, que se relaciona diretamente com a margem de erro. Quando o intervalo de confiança é de 95%, por exemplo, isso quer dizer que a cada 100 pesquisas realizadas com aquelas mesmas características, 95 delas estarão refletindo os resultados dentro da margem.
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Desconfiança não justificada
Feres lembra que os institutos de pesquisa dependem da credibilidade construída ao longo dos anos para se manterem no mercado. Por isso, os ataques de bolsonaristas aos resultados dos levantamentos "não deve ser levado a sério", na avaliação dele. "Essa suposta desconfiança é por que as pesquisas mostram que o Bolsonaro está atrás do Lula. Se estivesse na frente não haveria desconfiança alguma", complementa.
O cientista político, porém, propõe mudanças na legislação que trata das pesquisas. Os institutos são contratados, por exemplo, por partidos e instituições financeiras, o que pode levar a conflitos de interesses, já que quem contrata pode não gostar do resultado. Um caso que ganhou notoriedade este ano foi a suspensão da divulgação de um levantamento feito pelo Ipespe a pedido da consultora financeira XP após pressão de bolsonaristas.
"O caso da XP mostra como esse tipo de patrocínio privado de pesquisas pode ser complicado. Se uma instituição só banca algo que é bom para eles, quem garante a credibilidade? Ou então, quando um instituto é contratado por um partido ou candidato, ele pode estar interessado que aquele que o contratou vença a eleição, pois lá na frente pode ser contratado pra prestar outros serviços caso ele se torne titular do governo. Não estou afirmando que isso aconteça, mas gosto de propor o debate, o TSE tem que estar ligado nisso", completou.
Edição: Thalita Pires