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Atingidos pela barragem de Acauã (PB) realizam primeira colheita após conquista de agrovila

Após 18 anos de luta, famílias conquistaram agrovila; cerca de 300 famílias ainda esperam reassentamento

Brasil de Fato | Recife (PE) |
As famílias atingidas pela Barragem de Acauã, na Paraíba, realizaram a primeira Colheita Agroecológica - Francisco França

No mês de agosto, as famílias atingidas pela Barragem de Acauã, na Paraíba, realizaram a primeira Colheita Agroecológica nas terras conquistadas pela luta histórica no estado.

A atividade aconteceu na área desapropriada para a construção do reassentamento de cerca de 100 famílias das mil que perderam suas casas quando a barragem transbordou, em 2004.

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Aline Araújo foi uma das atingidas pela barragem. Segundo ela, naquele momento, as famílias que residiam na localidade ficaram completamente desassistidas.

“Eu fui expulsa da minha terra e o Estado foi muito omisso com todas as famílias. Não houve um plano de evacuação, de sair, ninguém foi informado de nada. Simplesmente a barragem começou a encher e as famílias tiveram que sair porque a água estava chegando e entrando nas casas. Teve família que perdeu móveis que a água entrou na casa e ficou embaixo de chuva, então não houve nenhuma informação. Tudo foi assim, em cima da hora”, relatou Aline.

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O início da construção da barragem, sob responsabilidade do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS), remonta aos anos 80. Sua fase final somente ocorreu por volta de 1999, sendo efetivamente concluída em agosto de 2002. Devido a fortes chuvas, após dois anos de construída, a barragem transbordou, inundando completamente seis povoados e 115 imóveis rurais.

 “A vida das famílias mudou completamente, porque as famílias trabalhavam com a terra e a partir do momento que saíram de suas localidades elas perderam o acesso à terra. Então nos unimos no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e fomos lutar pelos nossos direitos. Porque perdemos terra, perdemos educação, saúde, posto de saúde, escolas, e travamos essa luta com o movimento para conseguir esses direitos de volta”, complementou Aline.

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Após 18 anos de muita luta as famílias conquistaram a desapropriação de cinco imóveis rurais em 2020, através de uma medida do governo da Paraíba. As áreas, de aproximadamente 330 hectares, foram destinadas à construção da Agrovila Águas de Acauã, na zona rural do município de Itatuba, no Agreste Paraibano, onde fica a barragem.

 “Essa Agrovila representa a volta da soberania, autonomia e segurança alimentar para as famílias. Ela é muito importante e representa a devolução do bem mais precioso para o camponês, que é a terra”, conclui Aline. Cerca de 800 famílias ainda aguardam reassentamento.

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Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga