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Ruralista que doou R$ 100 mil para campanha de Bolsonaro teve R$ 50 milhões em bens penhorados

Empresário do agronegócio no Mato Grosso, Alessandro Nicoli é dono de grupo que passar por recuperação judicial

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Nicoli é o terceiro maior doador individual da campanha à reeleição de Bolsonaro, de acordo com dados divulgados até esta quinta-feira (1º) - Divulgação

O empresário do agronegócio e ex-prefeito do município de Santa Carmem (MT), Alessandro Nicoli, é o terceiro maior doador individual da campanha à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele doou R$ 100 mil em uma transferência eletrônica em 29 de agosto e fica atrás apenas do ex-piloto Nelson Piquet (doação de R$ 501 mil) e do empresário Gilson Trennepohl (doação de R$ 350 mil).

A doação de Nicoli chama a atenção porque, em março, o juiz Ricardo Frazon Menegucci, da 1ª Vara de Colíder (MT), determinou o bloqueio e penhora de dinheiro nas contas do empresário. A decisão ocorreu para quitar uma dívida que inicialmente era de R$ 10,8 milhões, oriunda de uma transação envolvendo a compra de uma fazenda. Somente uma parte do valor foi quitada, restando em aberto uma parcela que nunca foi paga.

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A ação de execução, que tramita desde agosto de 2019, foi ajuizada pelo credor Oscar Nunes da Silva, um dos pioneiros do município de Colíder (650 km de Cuiabá). De acordo com o advogado Izonel Pio da Silva, que defende os interesses dos autores da ação de cobrança (três pessoas), em valores atualizados com juros, correção monetária e honorários advocatícios, a dívida já estaria na casa dos R$ 50 milhões.

Além disso, Nicoli é dono do Grupo Nicoli, que está em processo de recuperação judicial desde fevereiro de 2019, com uma dívida de R$ 135 milhões. O processamento da recuperação foi autorizado pelo juiz Cleber Luis Zeferino de Paula, da 2ª Vara Cível de Sinop. O Grupo Nicoli, que é composto por Alessandro, sua esposa Alessandra Campos de Abreu Nicoli e pela empresa Nicoli Agro Ltda, formulou nos autos pedido da suspensão da dívida, mas o juiz Fernando Kendi, de Colíder, negou.

O Brasil de Fato tentou entrar em contato com Alessandro Nicoli, mas não obteve sucesso. O espaço segue aberto para manifestações do doador da campanha de Bolsonaro.

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Até o momento, o atual presidente foi o único dos 12 candidatos à Presidência da República a receber alguma contribuição de representantes do agronegócio. Além de Nicoli, o empresário Gilson Trennepohl também atua no setor. Ele é diretor-presidente do Grupo Ceres e, em maio deste ano, participou de um encontro entre Bolsonaro, lideranças do agro, empresários e políticos em Brasília.

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