Apesar de proibição do uso de fogo para desmatamento, que vigora desde junho deste ano, o mês de agosto registrou recorde no total de focos de calor identificados na Amazônia. Foram observados 33.116 casos com indícios de incêndios criminosos.
Os dados são do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais registrou (Inpe). A última vez que um mês de agosto apresentou resultados tão expressivos foi em 2010, com mais de 45 mil focos.
“Durante esses quatros anos de governo (Bolsonaro), temos uma média de 30 mil focos no mês (de agosto). O que temos visto é que as queimadas são sintomas, assim como o desmatamento. Isso é sintoma de uma política governamental antiambiental, que ainda vê a floresta como obstáculo ao desenvolvimento. Uma visão totalmente retrógrada”, afirma o coordenador da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil, André Freitas.
O ambientalista ressalta que, frente ao decreto de junho, todas as queimadas observadas atualmente são ilegais. Ele pontua ainda que a tragédia é resultado da atuação de indivíduos e grupos com acesso a recursos financeiros, o que possibilita devastação em extensões imensas de terra, "não estamos falando do pequeno agricultor, da pequena agricultora e do manejo que alguns indígenas fazem."
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A realidade, segundo Freitas, fica explícita nas imagens aéreas. “Nós realizamos sobrevoos na região da Amacro, que compreende ao sul do Amazonas, norte de Rondônia e uma parte do Acre, e flagramos nessa região o maior desmatamento da Amazônia este ano. Foram 8 mil hectares, o equivalente a 11 mil campos de futebol. Para fazer uma agressão como essa, uma ilegalidade como essa, é preciso muito capital financeiro.”
O total de focos de calor registrados nos primeiros oito meses deste ano cresceu 16,7% na comparação com o ano passado. Dez municípios concentraram 43% de todo o fogo. Cinco deles estão na região de Amacro, que sofre com avanço considerável da “economia da devastação”.
"Essa elevação no número de queimadas, mostra que vivemos um total descontrole ambiental no Brasil. Além de destruirmos nossa rica biodiversidade, esse avanço sobre a floresta tem gerado violência no campo. Nas últimas semanas, vimos capitais como Porto Velho - uma cidade com mais 600 mil habitantes - apresentar uma das piores qualidades do ar do mundo, em função da fumaça dessas queimadas", alerta André Freitas.
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Mais de 13% dos incêndios criminosos atingiram Unidades de Conservação (UCs), e 5,9% Terras Indígenas (TI). Os crimes também revelam indícios de grilagem, cerca de ¼ do total, ocorreram em florestas públicas não destinadas.
"Após quatro anos de uma clara e objetiva política antiambiental por parte do governo federal, as pessoas vendo um iminente encerramento do mandato e talvez uma não reeleição do governo, estão vendo a grande oportunidade de fazer as últimas ações de conversão da floresta em pasto. É um ambiente muito propício para a ilegalidade", destaca o ambientalista
Edição: Rodrigo Durão Coelho