No encontro de Fernando Haddad com movimentos sociais e centrais sindicais, nesta quinta-feira (25), o candidato petista ao governo de São Paulo recebeu documentos com propostas e várias reivindicações. Uma constante foi a recriação da Secretaria do Trabalho, além do fim da violência policial. Diante de um auditório lotado, prometeu, como ato inicial de governo, reajustar o piso estadual.
“A nossa economia só vai funcionar aumentando o poder de compra do trabalhador. Não existe economia no mundo que funcione de outro jeito.”
De acordo com o candidato, a reposição de perdas do salário mínimo paulista elevaria o valor dos atuais R$ 1.284 (que abrange várias categorias, como a de trabalhadores domésticos) para R$ 1.580. O passo seguinte, disse Haddad, é discutir com o governo federal – considerando a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva – a retomada da política de valorização do salário mínimo nacional, interrompida pelo atual governo.
“Foi a primeira vez, desde o Plano Real, que o salário mínimo perdeu da inflação”, afirmou o petista. Como medida complementar, ele reafirmou que a cesta básica e a carne não terão cobrança da ICMS. Com isso, Haddad estima que o preço da carne cairia aproximadamente 10%. “Tem dois jeitos de aumentar o poder de compra: aumentado o salário e reduzindo o preço do que é essencial.”
“Não é uma eleição qualquer”
O ex-ministro e ex-petista, que lidera pesquisas de intenção de voto no estado, pediu militância na rua até 2 de outubro. “Esta não é uma eleição qualquer. Não podemos nos dar o direito de descansar. É o futuro dos nossos filhos e netos que está em jogo. Pesquisas mudam”, alertou.
Ao seu lado, o candidato da coligação ao Senado, o ex-governador Márcio França (PSB), reforçou o recado. “Essa besta de duas cabeças está viva”, afirmou, referindo-se primeiro a Jair Bolsonaro e João Doria, que em 2018 incorporaram a dupla “Bolsodoria” em São Paulo. Sem citar nomes, França lembrou que votar nos dois concorrentes diretos no estado significa manter essa lógica. E enalteceu a presença de uma mulher, Lúcia França, como vice na chapa de Haddad. “Em 200 anos, em São Paulo, 164 pessoas ocuparam o cargo de governador e vice. Nenhuma mulher.”
Por poucos votos
Ele também pediu esforço extra nos 38 dias que faltam até a eleição para tentar vencer no primeiro turno, tanto em nível federal como estadual. “A eleição vai ser decidida por poucos votos. Esta é a eleição do mais um (voto). Cada um aqui abriu mão um pouco de suas ambições.” Seu primeiro suplente, Juliano Medeiros (Psol), afirmou que a candidatura em São Paulo já mostra uma “mudança de paradigma”, ao abrir o diálogo com organizações populares. “Temos que ouvir e aprender com os movimentos”, acrescentou. Para ele, um governo Haddad representa o fim da “repressão das forças de polícia contra os movimentos”. Um dos pedidos feitos ao candidato a governador foi no sentido de que todos os policiais militares, inclusive os da Rota, usem câmaras durante suas atividades. Outros representantes sindicais reivindicaram o fim da política de privatizações do governo estadual. Ainda na tarde de hoje, Haddad terá encontro com representantes dos servidores.
Em vez de patrão, mediação
Como resposta, Haddad disse que fará o “primeiro governo popular desde os bandeirantes”. O que inclui, lembrou, uma mesa permanente de negociação com o funcionalismo. “Eu não vou assumir o governo na condição de patrão. Vou fazer o papel de mediação”, afirmou. Ao mesmo tempo, ele assegurou que os empresários podem ficar tranquilos com sua gestão. “A micro e a pequena empresa pagaram por acreditar que o Doria era empresário”, emendou, falando ainda em “gestão péssima” da pandemia. E pregou “a maior concertação política de as eleições diretas”, incluindo o plano federal. Segundo ele, o atual presidente da República representa exatamente o oposto do que se tentou construir na campanha das Diretas Já e durante a Assembleia Nacional Constituinte.
Realizado na Casa de Portugal, na Liberdade, região central de São Paulo, o encontro reuniu representantes de oito centrais (CSB, CTB, CUT, Força Sindical, Intersindical, Nova Central e UGT) e entidades de mulheres, negros, sem-terra, sem-teto, jovens e estudantes, entre outras. Coordenador da Central de Movimentos Populares, Raimundo Bonfim falou em “radicalizar a participação popular” no governo. O presidente da Força, Miguel Torres, pediu atenção também para as eleição ao Legislativo. “Temos que eleger uma grande bancada de deputados estaduais. Precisamos mudar essa correlação de forças (na Assembleia). E o presidente da CUT, Sérgio Nobre, falou em reconstrução, nacional e estadual. “Você (dirigindo-se a Haddad) ê e o presidente Lula vão ter que reconstruir o país. Este estado foi muito maltratado, pra dizer o mínimo.”