A queda na taxa de desemprego no segundo semestre de 2022 não se refletiu em determinadas camadas da classe trabalhadora, como é o caso de mulheres, negros e jovens. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 30% desse grupo procura emprego há mais de dois anos.
Uma lente de aumento sobre os dados disponíveis deixa ver outros índices negativos, como o aumento da informalidade, que, em alguns estados brasileiros, chega a 60%, em uma média nacional de 40% já considerada bastante alta.
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Tanto nos empregos com carteira assinada quanto nos trabalhos por conta própria, quase sempre precarizados, o Rio de Janeiro enfrenta mais uma vez um dos piores índices do país e a pior situação entre todos os estados das regiões Sudeste e Sul do Brasil. Enquanto o Brasil passou de 11,1% no primeiro trimestre do ano para 9,3% agora, o estado do Rio foi de 14,9% para 12,6%.
Para efeito de comparação, enquanto a economia fluminense registrou desemprego que ultrapassa os 12%, São Paulo ficou com taxa de desocupação de 9,2%, próxima da média nacional, para os meses de abril, maio e junho. Na sequência, vêm Espírito Santo, 8%; Minas Gerais, 7,2%; Rio Grande do Sul, 6,3%; Paraná, 6,1%; e Santa Catarina, com 3,9%.
O estado do Rio é, ainda, o único estado entre as regiões Sul e Sudeste cujo percentual de pessoas ocupadas por conta própria é maior que a média nacional, que é de 26,2% neste segundo trimestre, contra 26,9% do estado fluminense.
Em contrapartida, os maiores percentuais de empregados com carteira assinada no setor privado em abril, maio e junho estavam, segundo o IBGE, em Santa Catarina (87,4%), São Paulo (81,0%) e Paraná (80,9%). Os menores estavam no Piauí (46,6%), Maranhão (47,8%) e Pará (51,0%).
Rendimento em queda
O rendimento médio real mensal habitual foi de R$ 2.652, mantendo estabilidade frente ao primeiro tri de 2022 (R$ 2.625) e caindo 5,1% ante o mesmo trimestre de 2021 (R$ 2.794). Frente ao primeiro trimestre de 2022, as cinco grandes regiões apresentaram estabilidade. Já em relação ao segundo trimestre de 2021, Nordeste, Sul e Sudeste apresentaram queda do rendimento médio.
O que dizem os especialistas
Em entrevista ao Brasil de Fato, o economista Paulo Jager, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), afirma que os sucessivos resultados ruins nos últimos anos para o estado não surpreendem e que o Rio de Janeiro vive uma "crise dentro da crise". Ele alerta, ainda, para os rumos do estado a depender do resultado das eleições para governador.
"É uma crise continuada e uma crise dentro da crise nacional, porém mais profunda. Há raízes políticas e institucionais, basta lembrar a quantidade de governadores, representantes na legislativo estadual e representantes patronais com problemas de ordem legal e criminal. As eleições podem ser um divisor de águas ou podemos mergulhar de vez no processo de declínio do estado que vem sendo experimentado nos últimos anos", afirma ele.
Economista diretor da Assessoria Fiscal da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Mauro Osório acrescenta ao histórico de crises e à perda da capital federal, com deterioração econômica a partir da década de 1970, o baixo índice de investimentos públicos no presente e a falta de visão sobre os potenciais do estado em termos de produção e geração de emprego.
"É preciso reestruturar o setor público, que vem se degradando com as crises políticas, econômica e social do estado. Precisamos melhorar indicadores de saúde e educação e ter instituições adequadas que fomentem o desenvolvimento para sairmos de um círculo vicioso e entrarmos em um círculo virtuoso", aponta ele.
Saídas
Osório indica o que ele considera algumas das potencialidades a serem exploradas no estado, dentre elas o da indústria química e farmacêutica. Segundo ele, o governo federal poderia ajudar nesse crescimento a partir da substituição das importações.
"A Fiocruz vem chamando esse setor de complexo econômico-industrial da saúde. A ideia é importarmos menos e produzirmos mais. Estamos importando mais de US$ 20 bilhões em bens de serviço de saúde e vimos na pandemia da covid-19 como isso é ruim. Se o próximo governador abraçar essa proposta, o Rio de Janeiro pode ser muito importante porque ele tem tradição no setor. Temos a Fiocruz, a UFRJ, diversas pesquisas e aqui está 10% da indústria do Brasil vinculada à saúde", explica Osório.
O economista afirma que outro potencial do Rio, o turismo, tem sido relegado há muitos anos. Ele menciona a despoluição da Baía de Guanabara, projeto anunciado em sucessivos governos estaduais e jamais efetivado. Para o assessor da Alerj, a revitalização da baía representaria qualidade de vida para a população carioca e fluminense e a região pode ser um importante ativo turístico do estado.
Questionado sobre as capacidades do complexo de petróleo e gás do estado e as possibilidades que ele teria de melhoria dos índices de empregabilidade e distribuição de renda, Osório argumentou que esta "é uma riqueza que vaza do Rio de Janeiro".
"Atualmente, 75% dos fornecedores da Petrobras estão fora do estado do Rio e 60% do que é extraído do gás no Norte Fluminense não é usado para industrializar, é reinjetado em alto mar porque não temos dutos para trazer para a terra. Falta ainda uma política para a retomada da indústria naval, precisamos cobrar isso da Petrobras e do governo estadual", avalia.
Fonte: BdF Rio de Janeiro
Edição: Mariana Pitasse