Às portas de 2022, o Rio de Janeiro tem um dos maiores desafios entre os estados brasileiros no próximo ano, o de promover dignidade e igualdade social a partir do trabalho. Isso porque o estado registrou o pior índice do país no final deste ano quando o assunto é renda envolvendo salário, desemprego e informalidade.
Um cruzamento de dados feito pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, o FGV Social, a partir de informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o estado passou a ser mais desigual a partir do terceiro trimestre de 2021, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad).
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Em entrevista ao Brasil de Fato, o economista Marcelo Neri, da FGV, afirma que é possível mensurar a desigualdade social e econômica a partir de diferentes áreas, mas que a queda da renda salarial é um importante fator estrutural de discrepância na população fluminense.
"Essa avaliação analisa exclusivamente índices relacionados a trabalho e renda, não leva em conta políticas públicas de transferência de renda, por exemplo. Mas ela é importante porque mostra a deterioração do Rio de Janeiro. Os dados da Pnad sobre renda domiciliar per capita do trabalho são um resumo da ópera trabalhista onde entra salário, desemprego e informalidade", explica Neri.
Entre os três estados que tiveram queda no rendimento médio, o Rio de Janeiro teve o pior índice: - 11,9% (salário médio de R$ 3.278 no segundo trimestre de 2021 para R$ 2.888 no terceiro trimestre deste ano), seguido por Amazonas (- 6,3%) e Paraná (- 5,1%).
Outros fatores
Segundo Neri, a situação do trabalhador e da trabalhadora em todo o Rio de Janeiro é ainda mais afetada por outros índices em deterioração no país e no estado. A inflação acumulada de 9,36% nos últimos 12 meses é um dos marcadores negativos e ainda a Síntese de Indicadores Sociais, divulgada na semana passada pelo IBGE, traz mais notícias negativas para a economia e população fluminenses.
"Um dos dados que a Síntese traz é que o Rio de Janeiro tem o risco de inundações e deslizamentos mais alto entre todos os estados da federação. Imagine o efeito disso em uma das maiores regiões metropolitanas do país", afirma o economista da FGV. Segundo o IBGE, há proporções mais elevadas para jovens, pretos ou pardos, e integrantes dos quintos populacionais de menor rendimento per capita nesse índice.
O nível de piora social do país está também exposto na Síntese. Mesmo com benefícios emergenciais, 1 em cada 4 brasileiros vivia em situação de pobreza em 2020. Cerca de 12 milhões de pessoas viviam em extrema pobreza, ou seja, com menos de R$ 155 reais por mês, e mais de 50 milhões, ou 1 em cada 4 brasileiros, viviam em situação de pobreza, com menos de R$ 450 por mês.
“Quando falamos de pobreza, nesse estudo, estamos nos referindo à pobreza monetária, ou seja, por insuficiência de renda, sem considerar outras dimensões, como acesso à educação, saúde e moradia adequada”, ressalta Barbara Cobo, analista do IBGE.
A informalidade, segundo o economista da FGV, também aumentou no estado fluminense. Enquanto o Brasil teve crescimento de 1,1 ponto percentual do trabalho informal, o Rio teve 7 pontos. "Durante a pandemia, a renda caiu mais que em qualquer outro estado da federação. E não só a perda de ocupação foi maior, como também foi onde houve maior mudança do local de trabalho, isso mostra a vulnerabilidade da economia e da população", acrescenta Neri.
Edição: Mariana Pitasse