Com mais de um milhão de assinaturas, a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito foi lançada oficialmente nesta quinta-feira (11). No ato estiveram presentes milhares de pessoas e diversas instituições ligadas a diferentes vertentes políticas e sociais.
No prédio da SanFran, como é apelidada a construção, estiveram trabalhadores e trabalhadoras, empresariado, estudantes, intelectuais, juristas, políticos e políticas e representantes das principais lutas populares do Brasil.
O evento de leitura da carta - que aconteceu na Faculdade de Direito da USP no Largo São Francisco, em São Paulo - foi marcado pela unidade de movimentos e personalidades. Na primeira parte do ato, no Salão Nobre da faculdade, foi realizada a leitura do manifesto da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que teve apoio de cerca de cem instituições.
Em seguida, os participantes se deslocaram para o Pátio das Arcadas, onde se juntaram a um público maior para a leitura da carta em Defesa do Estado Democrático de Direito.
Sem citar nomes, a carta alerta a sociedade sobre os riscos de ataques ao sistema eleitoral do Brasil que vêm sendo protagonizados pelo presidente Jair Bolsonaro e por sua base de apoio. Em menos de um mês de divulgação, o documento alcançou mais de 970 mil de assinaturas, número que segue crescendo.
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No texto, a ideia de diversidade que permeou o evento de leitura estava antecipada e prevista. "Nossa consciência cívica é muito maior do que imaginam os adversários da democracia. Sabemos deixar ao lado divergências menores em prol de algo muito maior, a defesa da ordem democrática", diz um trecho da carta.
Nesta quinta-feira, enquanto centenas de pessoas se manifestavam do lado de fora da SanFran contra Bolsonaro, o aumento das desigualdades, a fome, o desemprego e a crise no Brasil, o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlloti, abriu a cerimônia endossando o caráter democrático da ocasião.
"Somos partidários da democracia e da liberdade. Após 200 anos de independência do Brasil, deveríamos estar pensando no nosso futuro, em como resolver problemas graves na educação, na saúde, na economia, mas estamos voltados a impedir retrocessos. Espero que essa mobilização nos coloque novamente no caminho correto."
Na sequência o professor e advogado Oscar Vilhena Vieira, que representa a Comissão Arns, ressaltou em seu discurso que 60 milhões de trabalhadoras e trabalhadores estavam representados no evento por meio dos sindicatos, assim como setores da economia e movimentos sociais.
Nas palavras dele, o grupo foi capaz de transcender diferenças de "maneira sublime e generosa" para enfrentar a gravidade do momento que o país vive.
"Este não é um manifesto partidário, mas um momento solene no qual as principais entidades da sociedade civil brasileira vêm celebrar o seu compromisso maior com a democracia e com o estado de direito, mas sobretudo com a soberania popular, porque é essa que está sendo questionada de maneira vil neste momento", afirmou Vieira.
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Representando trabalhadoras e trabalhadores, a secretária de formação da CUT São Paulo, Telma Aparecida Andrade, foi a primeira mulher a falar no evento. Emocionada, ela celebrou a unificação do ato e foi firme ao destacar que o Brasil não aceitará ataques à democracia.
"Aqui tem a unidade, não só de trabalhadores e trabalhadoras, mas de todas as organizações sociais do nosso país. Essa carta reflete a realidade que vivemos, a atual conjuntura, a carestia, a perda dos postos de trabalho, as pessoas não terem condições de ter uma renda mínima para sustentar suas famílias. Pelo retorno da comida já nas mesas de trabalhadores, trabalhadoras e de todas as famílias desse país."
Beatriz Lourenço Nascimento, advogada que atua na luta antirracista, leu o manifesto da Coalizão Negra por Direitos. O texto condiciona a defesa da democracia à erradicação do racismo e levou ao evento a necessidade de reverter um dos pontos estruturais mais perversos da história brasileira. "Sejam coerentes, pratiquem o que discursam, unam-se a nós" conclamou.
O texto da coalizão lembra que a luta do povo preto pela democracia é histórica e determinante para os rumos do país, "Em nosso passado, formamos quilombos, forjamos revoltas, lutamos por liberdade, construímos a cultura e a história deste país. Hoje, lutamos por uma verdadeira democracia, exercício de poder da maioria."
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Francisco Canindé Pegado, representante da União Geral dos Trabalhadores lembrou a constituição brasileira e destacou que a caminhada brasileira rumo à democracia não será interrompida.
"Este documento, institucional e plural, não é um documento partidário, mas também não é um bilhete ou uma cartinha como alguém insinua. Haja vista que todas as assinaturas que apoiam esta carta, se colocadas em linha reta alcançam aproximadamente 70 mil metros. Para termos noção, a extensão da Esplanada dos Ministérios tem apenas 16 mil metros. Respeitem esta carta. Esta carta é um documento para nós que é uma verdadeira peça de artilharia de longo alcance."
A constituição também foi citada por Miguel Torres, presidente da Força Sindical, que convidou quem estava no local a fazer uma votação nos moldes das consultas realizadas nos movimentos sindicais.
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Ele sugeriu que uma assembleia plena e continuada siga até as eleições, numa vigília pela democracia. Como resposta, participantes ergueram as mãos dadas, em um momento emocionante do evento.
"Não podemos imaginar o país continuar sofrendo ataques de hora em hora ao sistema eleitoral, à sociedade civil organizada, aos nossos direitos. Não podemos admitir que um presidente não respeite a constituição que ele jurou respeitar. Temos que manter essa unidade. Se respira aqui dentro a liberdade, a luta, a resistência e a democracia. Por isso, não é um ato simbólico, é um ato concreto em defesa da nossa democracia."
Antes da leitura da carta, também falaram representantes da OAB São Paulo, da UNE, do Conselho Deliberativo da Indústria Brasileira de Árvores, da Frente Brasil Popular e de entidades filantrópicas.
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A apresentação final do documento foi realizada após os discursos. Do lado de fora do evento, o texto foi lido para uma multidão de cidadãos e cidadãs que se manifestavam em favor do estado democrático de direito.
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Edição: Thalita Pires