O partido Novo oficializou neste sábado (30) a candidatura do empresário e cientista político Felipe D’Avila para a Presidência da República. A sigla foi uma das primeiras a lançar um nome para a pré-candidatura, ainda em novembro de 2021.
De lá para cá, D’Avila tem se apresentado como a opção da "terceira via", mas, até o momento, conseguiu no máximo 1% das intenções de voto, de acordo com as pesquisas mais recentes. Com o desempenho, o político figura ao lado de Pablo Marçal (Pros), José Maria Eymael (DC), Leonardo Péricles (UP), Luciano Bivar (União Brasil), Sofia Manzano (PCB) e Vera Lucia (PSTU), que em muitas pesquisas sequer pontuam.
Estado mínimo
Entusiasta do Teto de Gastos, que limitou os gastos da educação e saúde, as suas propostas para o país envolvem o aprofundamento das políticas econômicas liberais. Os pilares de seu programa de governo envolvem a abertura do Brasil ao mercado internacional, o aumento da competitividade e a utilização das oportunidades de mercado no âmbito da sustentabilidade, como a economia do baixo carbono.
“A abertura deve ser feita de forma gradual. A ideia é chegar no quarto ano de governo e o Brasil ser um dos países mais abertos e competitivos entre os países emergentes”, afirmou o candidato ao podcast Os Sócios, em abril deste ano.
Um outro ponto é a defesa da entrada do país na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o que forçaria o Estado brasileiro a atualizar diversas legislações para poder acompanhar as dinâmicas de mercado entre os países membros. “O Brasil teria que padronizar regras ambientais e tributárias, desburocratizar processos, não poderá criar taxas protecionistas”, afirmou. Segundo D’Avila isso seria “super importante para o Brasil não ficar criando impostos intermediários que distorcem brutalmente a economia e causam um enorme prejuízo para o empreendedor brasileiro”.
A partir dos pilares propostos pelo candidato, o cenário resultante, segundo ele, poderia atrair mais investidores e estimular na sociedade a percepção pela necessidade de uma reforma tributária que torne a cobrança de impostos mais simples.
Neste ponto, D’Avila é um ferrenho defensor das reformas tributária e administrativa, “vitais para trazer racionalidade nesse sistema irracional dos impostos”, disse em entrevista à Jovem Pan News, em junho deste ano. “O Brasil hoje tem a carga tributária mais elevada entre os países emergente. Quando você olha os passivos de uma empresa, os maiores passivos são o trabalhista e o tributário. [O país deve ter] regras que sejam respeitadas por todos aqueles que queiram investir no Brasil.”
É o que D’Avila resume em “tirar o Estado das costas do empreendedorismo” e criar segurança jurídica. “Quero ver quem vai votar contra a gente quebrar o monopólio da CLT no Brasil, porque só tem um jeito de formalizar o trabalho hoje, que é a CLT. Só que mudaram as relações de trabalho. Porque não ter outras formas de ter contrato entre empregador e empregado que sobra mais dinheiro no bolso trabalhador e vai ter menos custo para a empresa?”, questionou em entrevista ao podcast.
Neste sentido, a ideia do Estado mínimo é latente no programa de governo do novista. A privatização das estatais, portanto, não poderia deixar de ser uma de suas metas, inclusive a venda da Petrobras. Ele lamenta que durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), teria ocorrido um “verdadeiro corredor polonês para os investidores entraram na Bolsa e comprar ação de empresas estatais. Era um inferno. Muito pior do que hoje”.
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Em entrevista à CNN Brasil, o candidato do Novo afirmou que as estatais “são verdadeiros cabides de emprego, de corrupção e de ineficiência”, inclusive a Petrobras. Por isso, “devemos privatizar a Petrobras, tirar o Estado da gestão de empresas, abrir o mercado e focar nos serviços básicos à população”, publicou em seu perfil no Twitter.
Contraponto
Na visão de Juliane Furno, doutoranda em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o discurso em defesa do Estado mínimo, presente nas declarações de D’Avila, “parte de uma premissa de que o capitalismo teria se desenvolvido melhor com menos Estado”.
Mas, segundo ela, “se a gente for levar em consideração uma perspectiva histórica, inclusive, quem pariu o mercado e o próprio capitalismo foi o Estado. É o Estado que institucionaliza as trocas monetárias e organiza o ambiente para a existência regular do próprio funcionamento do mercado”, afirma Furno.
“Se você for olhar as taxas de investimento no Brasil acompanham o investimento público. Então é empiricamente o contrário a essa ideia de que mais Estado sufocaria o setor privado. Quanto mais o Estado investe, quanto mais há investimento público, mais há dinamização para o investimento do setor privado”, explica. “Essa ideia de que menos Estado dinamizaria o setor privado não encontra respaldo em nenhuma experiência.”
História da família Pacheco e Chaves: política e agronegócio
O candidato costuma dizer que preza pelo conhecimento e que a população deve saber a história do próprio país. Como outros políticos brasileiros, a história da família de D’Avila representa, em certa medida, a história do Brasil. Ele é filho de Aluízio d’Avila e de Maria Christina Pacheco Chaves. Sua mãe, por sua vez, é filha do deputado federal João Pacheco e Chaves: quadro histórico do MDB que atuou para que o café se tornasse o principal produto brasileiro de exportação, quando foi presidente do Instituto Brasileiro do Café (IBC). Na política, o avô de Felipe D’Avila atuou na Comissão de Agricultura e Política Rural da Câmara dos Deputados.
João Pacheco e Chaves era filho de Jorge Pacheco e Chaves, bisavô D’Avila, que é filho de Elias Antônio Pacheco e Chaves, trisavô de D’Avila: fazendeiro de café importante da República Velha e político que foi vice-prefeito da ainda província de São Paulo por duas vezes, nomeado por carta imperial. Neste cargo, trabalhou na defesa de políticas conservadoras.
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Junto de seu cunhado, Antônio da Silva Prado, Elias fundou uma das principais empresas exportadoras de café do Brasil, a Companhia Prado e Chaves. Era dele também o Palácio dos Campos Elíseos, no centro da capital paulista, cuja arquitetura demonstra como vivia a classe dominante da época, sob influência europeia.
D’Avila também é irmão do deputado estadual de São Paulo Frederico d'Avila, do Partido Liberal, o mesmo que abriga o presidente Jair Bolsonaro. Vice-presidente da Aprosoja Brasil, foi eleito “com a força do setor da agricultura e com o apoio da população do sul e do sudoeste paulista”.
O caminho extenso pela árvore genealógica do empresário é extenuante, de fato, mas demonstra como o candidato do partido Novo provém de uma família que representa de forma fidedigna parte da estrutura do país: donos de terras que exportam produtos brasileiros e que atuam, ao mesmo tempo na política.
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Mais de 100 anos após a morte do trisavô de D’Avila, nem tudo mudou no país: 241 deputados e 39 senadores, de um total de 513 e 81 parlamentares, respectivamente, fazem parte da Frente Parlamentar da Agropecuária, conhecida anteriormente como Frente Ampla Ruralista, cujo objetivo é “estimular a ampliação de políticas públicas para o desenvolvimento do agronegócio nacional”.
Apesar de nunca ter se candidatado a um cargo público anteriormente – nas eleições para o governo de São Paulo em 2018 seu nome chegou a ser cogitado dentro do PSDB, ao qual era filiado – a agenda pregada por D’Avila é de desenvolvimento do agronegócio.
“A agricultura do Brasil precisa voltar a ser a mais competitiva do mundo. E conciliar meio ambiente com agronegócio é o caminho para atrair investimentos, gerar empregos, desenvolver as regiões mais pobres e impulsionar a nossa economia”, publicou em seu perfil no Instagram ao anunciar sua participação na AgriShow. O evento é uma das maiores feiras agropecuárias do mundo que conta com a presença de empresários que têm peso no setor, como Blairo Maggi, conhecido como “rei da soja”, dono do Grupo Amaggi, uma das grandes exportadoras de soja do país.
Edição: Glauco Faria