Às vésperas de ser anunciado oficialmente como candidato à presidência da República pelo PL, Jair Bolsonaro está sob pressão. Ele pode se tornar o primeiro presidente brasileiro a perder a reeleição, desde que o recurso foi permitido no país, em 1997.
Todas as pesquisas eleitorais colocam Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como vencedor da corrida eleitoral deste ano, seja no primeiro ou no segundo turno. Nesta semana, levantamento da Exame/Ideia seguiu a tendência e mostrou o petista com 44%, contra 33% do atual mandatário.
Analistas avaliam que a preocupação atual na campanha de Bolsonaro é forçar a realização de um segundo turno para evitar uma repercussão ainda mais negativa de uma eventual derrota.
Para isso, no próximo domingo (24), durante a convenção do PL, no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro (RJ), quando será oficializado como candidato, o presidente buscará o diálogo com um eleitorado que resiste em aderir à sua candidatura: as mulheres.
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Durante a semana que antecede o evento, bolsonaristas foram às redes sociais pedir para que mulheres compareçam ao Maracanãzinho para apoiar o presidente. A primeira-dama Michelle Bolsonaro aceitou participar da convenção para estimular a participação feminina e aplacar o estigma de machista do marido, apesar de sua aversão ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que deve ser uma das estrelas do evento.
Se aparece no campo das estratégias eleitorais, a preocupação com as mulheres não está refletida na prática do partido de Bolsonaro. Levantamento do Brasil de Fato, divulgado nesta semana, mostra que o PL lançou apenas homens nas disputas ao cargo de governador nos 14 estados em que apresentou pré-candidatos.
Liberdade e fé
Na convenção, Bolsonaro falará no centro de um palco em formato de T, com os aliados sentados ao fundo. Seu discurso deve ser propositivo e leve, com exaltação da democracia e dos valores da família, mas sem ataques bélicos aos adversários. A equipe de Bolsonaro espera que ele abuse do lema da campanha, "liberdade e fé", durante sua manifestação.
A ideia da equipe é responder às polêmicas da semana, quando o presidente mais uma vez ensaiou um movimento golpista, atacando o sistema eleitoral brasileiro e criticando ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) diante de embaixadores estrangeiros, dentro do Palácio da Alvorada.
A reunião com os diplomatas teve péssima repercussão nacional e internacional, deixou ainda mais fragilizada a campanha de Bolsonaro e escancarou o desespero do presidente. Para analistas, a tentativa de minar a confiança no sistema eleitoral é uma forma de preparar uma alternativa de reação a uma possível derrota.
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"Bolsonaro dá nítidos sinais de consciência sobre suas dificuldades. Já não se trata de virar a posição no ranking de intenção de voto, mas forçar o segundo turno. Por este motivo, começa a protagonizar imprudências e erros políticos, como incentivar apoiadores a reagir violentamente ou realizar gafes como a do recente encontro com diplomatas. Parece estar muito ansioso", explica o cientista político Rudá Ricci.
Ainda de acordo com o analista, Bolsonaro não teve paciência para aguardar os efeitos do pacote de benefícios que o Congresso aprovou recentemente e esperava, na reunião com embaixadores, "alterar o rumo da campanha eleitoral ou injetar adrenalina na sua base fanática às vésperas da convenção que oficializará sua candidatura".
Edição: Nicolau Soares