APÓS DOIS ANOS

Polícia descobre quem matou guardião da Terra Indígena Uru-eu-wau-wau em Rondônia

Suspeito tem histórico violento e já estava preso por homicídio; PF nega relação do crime com conflitos territoriais

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |
Ari Uru-eu-wau-wau no Rio Jamari durante fiscalização no território indígena - Equipe de Audiovisual Uru-eu-wau-wau/Jupaú

Após dois anos, foi identificado nesta quarta-feira (13) o autor do homicídio de Ari Uru-eu-wau-wau, integrante da equipe de vigilância indígena da Terra Indígena (TI) Uru-eu-wau-wau, em Rondônia. Segundo a Polícia Federal (PF), o suspeito é investigado por outras duas mortes na região e atualmente está preso preventivamente por uma delas. A identidade do acusado não foi divulgada. 

Sem dar detalhes, a PF informou que o assassinato da liderança indígena não está relacionado ao trabalho de Ari, que era identificar e impedir invasões no território. "Não há mandantes para o crime. A motivação ainda está sendo apurada, possivelmente, não se trata de motivos relacionados ao meio ambiente, mas atritos pessoais entre o autor e a vítima", afirma nota da corporação. 

Em nota conjunta, a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé a Associação Japaú, do Povo Indígena Uru-eu-wau-wau, afirmou que o crime ocorreu em meio à falta de fiscalização, invasões de terras por grileiros, garimpeiros e madeireiros. 

:: Indígenas impedem invasão de grileiros na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau na Amazônia ::

"A prisão deste suspeito ocorre um mês após a morte de Bruno Pereira e Dom Phillips, que gerou grande comoção, no Brasil e no exterior, em relação à violência que domina a Amazônia e nos aterroriza. Nesse sentido, ela pode ser vista como um sinal para aqueles que praticam ilegalidades nos nossos territórios de que a Polícia Federal não será leniente", ressalta o comunicado. 

As associações denunciam ainda o descaso do governo federal com a TI Uru-eu-wau-wau, uma das últimas áreas remanescentes de floresta em Rondônia. "Sabemos que o atual governo utiliza uma política de morte, genocida, que atenta contra a vida dos povos indígenas. As dificuldades enfrentadas pelo povo e pela Terra Indígena Uru-eu-wau-wau têm sido amplamente denunciadas pela comunidade aos órgãos competentes, mas nenhuma providência foi tomada", apontam os indígenas. 

"Um pouco de alívio" 

Frequentemente ameaçada de morte, a ativista pelos direitos dos povos da Floresta Neidinha Suruí, que atua em Rondônia, tinha em Ari um companheiro de luta, em um território marcado pela ofensiva de pistoleiros contra indígenas. "Eu o vi crescer e lutar na defesa do território. Posso te dizer que meu sentimento é de um pouco de alívio, pois estávamos há mais de dois anos cobrando para que fosse preso o assassino", afirmou. 

"Agora queremos que a Justiça seja feita, tanto para Ari Uru-eu-wau-wau como para outros casos que aconteceram nas Terra Indígenas. O Brasil se tornou um país violento e isso tem que acabar", acrescenta Neidinha, que integra a Kanindé, responsável por dar suporte aos habitantes da TI Uru-eu-wau-wau. "Vamos estar acompanhando muito de perto todos os próximos passos do processo", finaliza. 

Ari pode ter sido dopado antes da morte, diz PF 

Ari tinha 33 anos e foi encontrado morto no dia 18 de Abril, Dia dos Povos Indígenas, em 2020. O corpo tinha sinais de espancamento e foi deixado na linha 625 de Tarilândia, distrito de Jaru (RO), perto de uma das entradas da Terra Indígena (TI) Uru-eu-wau-wau, a maior do estado.

"Como o corpo não demonstrava sinais de autodefesa, uma das linhas investigativas apuradas pela Polícia Federal trata-se da hipótese de o autor do crime ter oferecido substância que, uma vez ingerida pela vítima, deixou Ari desacordado, para então iniciar as agressões físicas que culminaram em sua morte. Posteriormente, conduziu o corpo para outro local", informou nota da PF. 

A prisão foi realizada por uma ação conjunta do Ministério Público Federal (MPF) e da PF. A operação foi batizada de "Guardião Uru", em referência à atuação de Ari contra a exploração ilegal de madeira na terra indígena. 

Edição: Thalita Pires