Bancárias e bancários realizaram nesta terça-feira (5) um dia nacional de luta contra o assédio moral e sexual, com protestos em todo o país. O objetivo foi potencializar as denúncias feitas por empregadas da Caixa Econômica Federal junto ao Ministério Público Federal (MPF), que levaram o ex-presidente Pedro Guimarães a pedir demissão do cargo. Em Porto Alegre, o Sindicato dos Bancários da cidade promoveu um ato em frente à Caixa, com a participação da Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS), várias entidades sindicais e parlamentares.
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Os protestos ocorreram na véspera da negociação entre o Comando Nacional dos Bancários e Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), marcada para as 14h desta quarta-feira (6), dentro da campanha salarial. O tema da reunião será igualdade de oportunidades e entre as reivindicações da categoria está a inclusão de uma cláusula específica na convenção coletiva de trabalho sobre assédio sexual. Pela proposta, as denúncias seriam apuradas por meio de comissão formada por representantes dos sindicatos e dos bancos, garantido o sigilo das vítimas.
Basta de machismo, sexismo e racismo
No ato em Porto Alegre, a bancária e secretaria de Combate ao Racismo da CUT-RS, Isis Garcia, ressaltou a mobilização das mulheres e a coragem de realizar a denúncia contra o assediador. Para ela, "a luta pela valorização das mulheres como profissionais é uma luta permanente".
"Nós, mulheres, não somos donas dos nossos corpos, sempre somos violadas e questionadas quanto ao nosso profissionalismo. É para isso que cada companheira aqui fez concurso na Caixa, para ser valorizada pelo seu potencial profissional e não pelo seu esteriótipo físico", afirmou Isis.
Em sua intervenção, a servidora da Caixa Caroline Heidner, diretora do SindBancários e da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Instituições Financeiras do Rio Grande do Sul (Fetrafi-RS), alertou que a sociedade não vive mais na idade média, que ela evoluiu e por isso não aceita mais o assédio sexual. "O que estamos discutindo aqui extrapola os muros da Caixa e diz respeito a todas as mulheres trabalhadoras do Brasil", frisou.
Caroline salientou que "o escândalo de agora revela um tipo asqueroso vinculado ao bolsonarismo. Será que os abusos cometidos por ele aconteceram apenas nas viagens que fez em nome da Caixa ou também nas viagens que fez junto com a comitiva presidencial? Será que nessas ocasiões ele se comporta?", questionou, ao repudiar as denúncias que desde 2019 foram abafadas pela corregedoria da Caixa.
"Nós sabemos que Bolsonaro odeia as mulheres e, por isso, temos de nos perguntar a que tipo de constrangimento os homens deste governo submetem as trabalhadoras. Será que as profissionais da rede hoteleira e de transporte também não foram assediadas por Pedro Guimarães? É este o tipo que defende a família e os bons costumes?", protestou a dirigente do sindicato, que defendeu a inclusão de uma cláusula de combate ao assédio sexual na convenção coletiva.
Machismo institucionalizado
Funcionária da Caixa e diretora da Fetrafi-RS, Sabrina Muniz enfatizou que Guimarães precisa ser punido, para que a instituição não seja lembrada pelos cidadãos brasileiros como um ambiente que desrespeita as mulheres. "A Caixa não pode carregar essa mácula, essa mancha. É preciso que este ex-presidente assediador seja punido e sirva de exemplo para aqueles que pensam em desrespeitar nossos corpos dentro do ambiente de trabalho", afirmou.
"Imagine uma trabalhadora estudar, passar em um concurso concorrido para ser importunada com investidas sexuais pelo presidente do banco em que trabalha. É inadmissível!", protestou Sabrina.
Rachel Gil, bancária e diretora do Sindicato dos Bancários de Pelotas e da Fetrafi-RS, enfatizou ser inadmissível que se tenha que deparar com o absurdo do machismo nos ambientes de trabalho, ainda mais quando é institucionalizado e incentivado pelo presidente da República. "Em outubro vamos dar um fim nisso e no racismo, machismo e sexismo. As mulheres já estão mostrando isso e vão varrer este tipo de gente da vida pública brasileira", concluiu.
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Antes do ato, os dirigentes do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre Jailson Prodes, Guaracy Gonçalves e Simoni Medeiros distribuíram uma carta aberta aos trabalhadores no edifício Querência, onde funciona a superintendência regional do banco. Além de denunciar Guimarães, o sindicato cobra explicações para o acobertamento dos crimes cometidos pelo ex-presidente da Caixa.
O ato contou também com a participação do vice-presidente da CUT-RS, Everton Gimenis, do secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo, e da deputada estadual Sofia Cavedon (PT), dentre outras representações.
*As informações são da CUT-RS com Marcus Perez e Manoela Frade - SindBancários
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko