O governo do Equador suspendeu sua participação na mesa de diálogo com o movimento indígena, de maneira unilateral, nesta terça-feira (28). A justificativa foi a morte de um sargento das Forças Armadas durante enfrentamento com setores mobilizados na região da Amazônia equatoriana na madrugada de segunda-feira (27). As negociações, mediadas pela Igreja Católica, haviam iniciado na segunda-feira (27) entre representantes dos poderes Executivo, Legislativo e Eleitoral e cinco organizações indígenas.
"O governo não pode dialogar com quem pretende sequestrar a paz dos equatorianos", disse o presidente Guillermo Lasso em transmissão televisiva nacional. O mandatário faz referência aos enfrentamentos entre o movimento indígena e um comboio militar que fazia a escolta de caminhões carregados de combustível, que atravessavam a região amazônica de Shushufindi. Vídeos divulgados pela Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana mostram disparos por parte das Forças Armadas contra os indígenas.
O sargento José Chimarro morreu e 12 soldados terminaram feridos após o incidente, segundo o governo. De acordo com levantamento da Aliança de Organizações de Direitos Humanos, houve cinco mortos, 313 feridos e 147 presos durante os 15 dias de greve geral.
"Nós demos resposta concretas às demandas dos nossos irmãos indígenas, mas não voltaremos a dialogar com Leonidas Iza, quem só defende seus interesses e não o de suas bases", declarou Lasso.
El país ha sido testigo de todos los intentos que hemos tenido por dialogar pero no podremos hacerlo con quienes pretenden secuestrar la paz del Ecuador. ¡Eso no lo vamos tolerar! Hago un llamado a unidad y a la defensa de la democracia.pic.twitter.com/uw3OiylVaw
— Guillermo Lasso (@LassoGuillermo) June 28, 2022
O mandatário disse que só voltará a negociar com novos representantes dos setores populares e ainda acusou o presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas (Conaie), Leonidas Iza Salazar, de ser um "oportunista". Iza Salazar foi detido por 24h no segundo dia de greve, acusado de interromper serviços públicos e agora responde um processo em liberdade provisória.
O presidente da Assembleia Nacional, Virgilio Saquicela (Pachakutik), assegurou que as negociações não estão perdidas e propôs uma nova reunião e outro formato de diálogo para as organizações indígenas.
"Se não resolvemos através do diálogo, seguiremos com enfrentamentos amanhã. De maneira enfática digo que o diálogo continua", declarou Saquicela.
Em reposta, o líder da regional amazônica da Conaie, Marlon Vargas, advertiu "se hoje não se resolve isto vai virar um caos e o único responsável será o governo nacional, não nós, porque nós viemos".
El gobierno rompe el diálogo confirmando su autoritarismo, falta de voluntad e incapacidad.
— CONAIE (@CONAIE_Ecuador) June 28, 2022
Responsabilizamos a @LassoGuillermo de las consecuencias de su política belicista. Exigimos respeto para nuestro máximo líder.
Lasso no rompe con Leonidas, rompe con el pueblo.#CONAIE pic.twitter.com/uPJkPYysoL
A Conaie, que convocou a paralisação no dia 13 de junho com uma lista de dez reivindicações, agora propôs três pontos de discussão: conformar uma comissão independente que investigue o confronto em Shushufindi, que consideram ser um "ato de provocação"; garantias do fim das ameaças e da manutenção dos diálogos.
As federações indígenas exigem a redução de 40 centavos no valor dos combustíveis, congelando a gasolina a US$ 2,10 (R$10,90) e o diesel a US$ 1,50 (R$ 7,80). Também exigem a revogação do decreto executivo 95, que implementa a política de paridade de preços internacionais aos combustíveis - similar ao adotado pela Petrobrás -, e o decreto 151, que dá brechas para execução de mineração em territórios indígenas. Segundo a Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador (Conaie), cerca de 80% das terras demarcadas aos povos originários estão sob ameaça da mineração.
Na segunda-feira, o presidente Lasso havia anunciado um aumento de US$ 5 no Bônus de Desenvolvimento Humano pago a 1,5 milhão de famílias; suspendeu o estado de sítio em seis províncias; e anunciou a redução de 10 centavos de dólar no preço da gasolina (US$ 2,45 o galão de 4,5L) e do diesel (chegando a US$ 2,45 o galão), que no primeiro semestre do ano subiram 37% e 65% respectivamente.
Nesta terça-feira (28), também se retoma a sessão parlamentar, que discute o pedido de destituição do presidente Guillermo Lasso. A proposta de impeachment foi apresentada na última sexta-feira (24) pela bancada da União pela Esperança (Unes), alegando "grave crise política". Para destituir Lasso, é necessário apoio de 92 dos 137 deputados, segundo meios locais equatorianos, a oposição já soma 80 votos.
Edição: Thales Schmidt