O Coletivo Marmitas da Terra completou a marca de 130 mil refeições distribuídas em Curitiba e Região Metropolitana desde o início da pandemia de covid-19. A ação integra a campanha nacional de solidariedade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Preparados com alimentos saudáveis, muitos deles agroecológicos, os almoços começaram a ser produzidos no fim de abril de 2020. Desde então, toda semana, um grupo de militantes Sem Terra e trabalhadores urbanos se reúne para partilhar 1.100 refeições.
A população em situação de rua em praças do Centro da capital paranaense e moradores de ocupações urbanas recebem o ato de carinho e união entre a classe trabalhadora do campo e da cidade.
"Chegar às 130 mil marmitas é olhar para quem está na estatística da fome e levar para elas uma alimentação saudável feita com muita dedicação", afirma Marcos Antônio, da coordenação das Marmitas da Terra.
Cada marmita é composta por arroz, feijão, carne e outras quatro variedades de alimentos. A iniciativa contribui também para quem faz. "É dividir aquilo que se produz na terra com amor, com o trabalho. Isso significa solidariedade e humanidade", afirma Ivone Ribeiro, militante urbana que participa desde o início do projeto.
Fortalecendo trocas entre campo e cidade
A produção vem de acampamentos e assentamentos do MST por todo o Paraná. Por exemplo, o arroz é da cooperativa Coana, em Querência do Norte, na região Norte do estado.
"As áreas de Reforma Agrária, do Movimento Sem Terra, tem um potencial muito grande de resolver o problema da fome. [...] A gente fala de soberania alimentar. Não é só dar acesso à comida, mas sim falar da importância da diversidade alimentar, da autonomia dos produtores e fazer com que ela chegue até a população de forma justa", completa Marcos Antônio.
Além do pré-preparo às terças-feiras e produção das marmitas às quartas, os voluntários também trabalham na terra. Aos sábados, saem às seis da manhã de Curitiba em direção ao Assentamento Contestado, na cidade de Lapa (PR). A viagem dura cerca de uma hora. Os mutirões envolvem manejo agroecológico da terra e plantio e colheita de variedade de hortaliças que vão compor o cardápio.
Desde outubro de 2020, o coletivo colheu mais de 13 toneladas de alimentos nas hortas comunitárias do Contestado – mais de cinco toneladas são de feijão agroecológico. Com apoio da Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), que fica no Assentamento, os mutirões são momentos de trocas de experiências e conhecimentos entre camponesas e camponeses da Reforma Agrária e trabalhadores da cidade. Além de servir as Marmitas da Terra, parte dos alimentos também são destinados para cozinhas comunitárias de Curitiba.
Nas praças Tiradentes e Rui Barbosa, no Centro de Curitiba, enquanto o coletivo distribui as marmitas, trabalhadores que passam pelo local observam o que está acontecendo, aproveitam e levam uma quentinha.
“Chama bastante atenção. Os olhos olham, o estômago come e o organismo inteiro se alimenta pela intenção de preparar esse alimento com tanto carinho e coisas nutritivas”, diz Lucia Paiva, trabalhadora que pegou uma marmita.
Solidariedade permanente
No Brasil, a crise humanitária se agravou nos últimos dois anos. Em janeiro de 2021, 55% da população brasileira encontrava-se em insegurança alimentar. Os dados são do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. Segundo a atualização do estudo, publicada em junho de 2022, 33 milhões de pessoas passam fome no país.
"São anos de bastante sofrimento, de fome e desespero, desemprego. É muito importante poder participar de um projeto como este porque, de alguma forma, contribui para mitigar e diminuir a experiência que passa o povo brasileiro", diz o voluntário Nicolas Alves.
Nesse sentido, o MST sentiu a necessidade de fortalecer o apoio às famílias urbanas. Desde o início da pandemia, o Movimento doou mais de 975 toneladas de alimentos em todo o Paraná. As ações de combate à fome e apoio a trabalhadores, pessoas em situação de vulnerabilidade social e insegurança alimentar aumentaram nesse período.
"Tem família que trabalha um dia para comer no outro, então vão as marmitas lá na comunidade, o povo fica alegre. E não ajuda só as famílias de lá, entregamos também para os moradores de rua mais próximos", conta Willian Gonçalves, Secretário da Associação de Catadores Automotores, organização no bairro Parolin, em Curitiba, que recebe as marmitas.
Apoie e participe das Marmitas da Terra
As Marmitas da Terra estão com uma campanha de financiamento coletivo em que as pessoas podem doar qualquer valor. Contribua clicando aqui. Voluntárias e voluntários que queiram se somar às atividades também podem participar. O coletivo pede que a pessoa esteja com a vacina contra a covid-19 em dia e entre em contato pelo perfil da ação no Instagram.
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini