Investigação

Desaparecimento de Dom Philips e Bruno Pereira completa uma semana sem respostas

Manifestações pelo país pedem maior empenho nas buscas; entidades internacionais cobram respostas do governo brasileiro

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Entidades enfatizam que o desaparecimento ocorre na semana em que a equipe recebeu ameaças em campo. Bruno Araújo (esq) vinha denunciando invasões às terras indígenas da região - REPRODUÇÃO

As únicas pistas relatadas pela Polícia Federal (PF), em uma semana de buscas pelo indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista britânico Dom Philips, ainda não foram suficientes para explicar o que aconteceu com os dois.

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Na sexta-feira (10), a PF do Amazonas informou que encontrou "material orgânico, aparentemente humano" próximo a Atalaia do Norte, cidade onde Pereira e Philips eram aguardados. 

O material foi encaminhado para análise junto com outra possível evidência, vestígios de sangue encontrados na embarcação de um suposto envolvido no sumiço do jornalista e do indigenista.

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Logo após o anúncio da Polícia Federal, fake news passaram a ser espalhadas pelas redes sociais, com a informação de que foram encontrados corpos na região. A informação foi desmentida pela PF.

As notícias falsas foram propagadas pelo próprio presidente da república, Jair Bolsonaro. Segundo o jornal O Globo, ele afirmou que “partes de corpo humano” e “vísceras” foram encontradas boiando no rio. As declarações foram feitas na saída de um restaurante em Orlando, na Flórida (Estados Unidos).

Suspeito preso

Amarildo da Costa de Oliveira, de 41 anos, teve a prisão preventiva decretada na quinta-feira (9).  Ele foi preso por porte e munição de uso restrito. 

Uma testemunha ouvida pelo Brasil de Fato afirmou que “Pelado”, como ele é conhecido, ameaçou os dois, um dia antes do desaparecimento. Segundo o relato, ele apontou duas armas para o grupo com o qual Pereira e Philips estavam e disse, “vocês vão levar tiros.”

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“Nós chegamos à nossa base [de fiscalização], em frente a um lago de nome Jaburu. O senhor ‘Pelado’ passa beirando a nossa canoa com uma cartucheira de mais ou menos uns 30 cartuchos. Nós fizemos o vídeo e fizemos fotos. O repórter [Dom Philips] tirou foto e filmou. Todo o material estava em nossas mãos para tentar incriminar esse invasor”, contou a testemunha.

Manifestações

Neste domingo (12), manifestações pedindo agilidade nas buscas foram realizadas no Rio de Janeiro, em Salvador e em Belém. Dom Philips é casado com uma brasileira e reside na capital baiana. Os sogros dele e outros parentes da esposa vivem no Rio de Janeiro.

Além da presença de familiares e amigos, os protestos foram acompanhados por artistas, militantes e ativistas. 

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No sábado (11), a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA) aprovou um pedido de medida cautelar cobrando ações urgentes sobre o caso. 

Phillips e Pereira não são vistos desde o último domingo (5), quando navegavam de uma comunidade ribeirinha até o município de Atalaia do Norte. O indigenista acompanhava o repórter, que apurava informação para um livro no qual estava trabalhando, com o título "Como Salvar a Amazônia".

Os moradores do Vale do Javari, segunda maior terra indígena do Brasil, sofrem com intensas invasões, principalmente de pescadores ilegais, que lucram alto com peixes valorizados, como o Pirarucu. A carne é consumida nas cidades do entorno e contrabandeada para fora do país.

Edição: José Eduardo Bernardes