segue mistério

Funai aciona MPF contra organização indígena que procura desaparecidos no Vale do Javari

No 5º dia após desaparecimento, órgão pede investigação contra suposto contato de indígenas isolados sem autorização

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Comunidade Maronal, na terra indígena Vale do Javari - Acervo pessoal

A Fundação Nacional do Índio (Funai) afirmou, no fim da tarde de sexta-feira (10), que vai acionar o Ministério Público Federal (MPF) contra a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), para investigar um suposto contato de indígenas isolados sem a autorização do órgão.

Em nota, a Funai disse que são inverídicas as afirmações de que o indigenista Bruno Pereira tinha autorização para entrar na Terra Indígena Vale do Javari, na Amazônia, na região onde desapareceu, no domingo (5), junto com o jornalista inglês Dom Phillips.

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Na quinta-feira (9), a Univaja afirmou que o documento foi assinado eletronicamente pela coordenadora substituta da Regional da Funai, Mislene Metchacuna Martins Mendes, no dia 15 de maio. No entanto, segundo a Funai, a autorização estava vencida.

O órgão do governo federal evoca as medidas sanitárias de combate à covid-19 para contestar a presença de Bruno Pereira e Dom Phillips, "mesmo que estivessem fora da área indígena".

"As medidas sanitárias precisariam ser adotadas, bem como a Funai informada, tendo em vista que os dois estiveram com indígenas durante a expedição, os quais podem ter interagido com indígenas de recente contato, dada a proximidade e influência dos limites da Terra Indígena", declarou a Funai.

Em resposta, ao g1, o assessor jurídico da Univaja, Eliésio Marubo, afirmou que os documentos já foram apresentados e que a entidade entende que, no momento, as buscas pela dupla são prioridade.

Desaparecimento vai completar uma semana

A Polícia Federal (PF) do Amazonas informou, nesta sexta-feira (10), que as equipes de busca que trabalham para localizar Bruno Pereira e Dom Phillips encontraram "material orgânico aparentemente humano" na porto de Atalaia do Norte, cidade onde eles eram esperados. Neste sábado (11), a corporação não divulgou novas informações.

Pereira e Phillips partiram da comunidade ribeirinha de São Rafael por volta das 6h da manhã do último domingo (5), em uma lancha que os levaria a Atalaia do Norte. A viagem duraria cerca de duas horas, mas eles não foram vistos no local de destino.

Em nota divulgada nesta sexta (10), a PF disse que o material foi encaminhado para análise pericial pelo Instituto Nacional de Criminalística, que também fará perícia em amostras de sangue encontradas na embarcação do pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como "Pelado".

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O pescador teve prisão preventiva decretada na quinta-feira (9), acusado de envolvimento no desaparecimento de Pereira e Phillips. A ordem de prisão aconteceu justamente após a polícia ter encontrado vestígios de sangue no barco.

Materiais genéticos de referência do indigenista brasileiro e do jornalista britânico foram recolhidos em Recife e Salvador, respectivamente, para que seja feita análise comparativa com sangue encontrado.

Barroso intima União a tomar providências

Ainda nesta sexta-feira, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, determinou que a União adote imediatamente "todas as providências necessárias à localização" de Pereira e Phillips. A decisão acatou um pedido formulado pela Articulação dos Povos Indígenas (Apib).

O ministro intimou a União, o Ministério da Justiça, a Funai e a Polícia Federal a apresentarem em até cinco dias um relatório com as providências tomadas e os resultados obtidos, sob pena de multa diária de R$ 100 mil.

Manifestações pelo Brasil cobram governo

A Organização dos Povos Isolados (OPI) divulgou, neste sábado, que diversas organizações e movimentos populares estão convocando manifestações para cobrar maiores esforços do governo federal, da PF e do Exército na busca por Bruno Pereira e Dom Phillips.

Edição: Lucas Weber