Solidariedade

MST doa 20 mil espigas de milho e 900 quilos de arroz para cozinha comunitária do padre Julio

A iniciativa do MST partiu de famílias assentadas da região noroeste do Paraná

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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O projeto de Jilio Lancellotti auxilia as pessoas em situação de rua na capital paulista
O projeto de Jilio Lancellotti auxilia as pessoas em situação de rua na capital paulista - Rafael Stedile

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Paraná doa, nesta quarta-feira (8), 20 mil espigas de milho verde, 900 quilos de arroz e 30 caixas de batata doce para a cozinha comunitária da Casa de Oração do Povo da Rua, coordenada pela Pastoral do Povo da Rua Rua da Arquidiocese de São Paulo, da qual padre Julio Lancelotti é vigário episcopal. O projeto auxilia as pessoas em situação de rua na capital paulista. 

Segundo Ana Maria da Silva Alexandre, coordenadora da Casa de Oração, o projeto distribui aproximadamente 1.200 pães e 1.000 marmitas diariamente, entre café da manhã e almoço. Durante o inverno, o grupo também oferece sopa durante a noite. Com a doação, Alexandre afirma que pretende preparar diferentes tipos de pratos quentes, além de milho cozinho no café da manhã.    

::MST completa 38 anos com arrecadação histórica contra a fome e campanha nas redes sociais::

A iniciativa do MST partiu de famílias assentadas da região noroeste do Paraná, nos municípios de Querência do Norte e Santa Cruz do Monte Castelo, por meio da Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária Avante (Coana).  


Caminhão com alimentos a caminho de São Paulo / Luana Menegassi/MST

Jaime Dutra Coelho, da direção estadual do MST, coordenador da iniciativa e assentado da região, explica que a ideia de fazer doações ao projeto do Padre Julio Lancelotti começou ainda em janeiro deste ano, com a ampliação da lavoura de milho. Agora, chegou a hora da colheita. "Para nós, é muito gratificante. A gente entende como somar e dar as mãos, que é o que o Brasil precisa: dessa união do campo com a cidade", conta Coelho.

Campanha de solidariedade 

A doação se soma à campanha de solidariedade permanente organizada pelo movimento, que já doou centenas de toneladas de alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade social em todo o país.   

"O MST, desde o começo da pandemia, tem feito essas doações de alimento como forma de solidariedade, em função do desemprego e da fome. A gente faz isso também por conta do governo do Bolsonaro, que não dá chance a ninguém e dificulta cada vez a mais a vida do brasileiro", afirma Coelho. 


Famílias fazem a colheita de batata doce para doação ao padre Julio Lancellotti / Douglas Mansur

Somente as famílias de acampamentos e assentamentos do MST do Paraná já partilharam mais de 960 toneladas de alimentos da Reforma Agrária. Na capital, em Curitiba, cerca de 130 mil refeições foram doadas a pessoas em situação de vulnerabilidade, por meio do Coletivo Marmitas da Terra, coordenado pelo MST. 

"A gente se identifica e se comove com essa situação de falta de alimento, em um país tão rico, com tanta terra. Nós estamos no noroeste do estado do Paraná e há uma imensidade de terras aqui que muitas vezes estão em fazendas que a gente identifica que estão sendo exploradas de forma improdutiva, ou seja, dava para produzir muito mais alimentos por metro quadrado do que está sendo produzido hoje", destaca o dirigente do MST. 

::O que o MST tem feito em contraponto ao agronegócio predatório no Brasil?::

De acordo com o Dossiê 27: Reforma Agrária Popular e a luta pela terra no Brasil, do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, publicado ainda em 2020, "o Brasil é um dos países com maior concentração de terras do mundo e onde estão os maiores latifúndios. Concentração e improdutividade possuem raízes históricas que estabeleceu a base da desigualdade social do país que perdura até os dias atuais." 

Dados do último Censo Agropecuário, realizado em 2017, mostram que somente 1% dos proprietários de terra controlam aproximadamente 50% da área rural do país. Na contramão, os estabelecimentos com áreas menores do que 10 hectares (um hectare é equivalente a um campo de futebol) representam metade das propriedades rurais, mas controlam apenas 2% da área total. 


Famílias preparam os milhos para fazer a doação ao padre Julio Lancellotti / Douglas Mansur

"Por um lado, uma riqueza enorme em potencial de produção de alimento. Por outro, uma quantidade imensa de pessoas passando fome, principalmente nas grandes cidades. A gente percebe essa necessidade e fica agoniado com isso, sabe? A gente fica angustiado com essa contradição", afirma Coelho.  

Edição: Thalita Pires