O ex-governador de São Paulo João Doria anunciou nesta segunda-feira (23) que está fora da disputa pela presidência da República. Vencedor das prévias do PSDB, ele enfrentava grande resistência interna e estava sendo pressionado a abrir mão da candidatura em nome de uma alternativa viável para a chamada "terceira via".
"Coloquei meu nome à disposição do partido. Hoje, neste 23 de maio, serenamente, entendo que não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito essa realidade de cabeça erguida", disse Doria durante o pronunciamento que realizou para anunciar a desistência.
Apesar da vitória nas prévias, o nome de Doria sempre esteve longe de ser unanimidade entre os tucanos. Lideranças do partido, como o deputado federal Aécio Neves, já tinham deixado claro que gostariam que o partido tomasse outro rumo na campanha.
Doria superou o ex-governador gaúcho Eduardo Leite e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio na escolha interna do PSDB. Apesar da derrota, Leite nunca desistiu do sonho de concorrer ao Planalto. No fim de março, com a sombra do gaúcho, Doria cogitou abrir mão da candidatura, mas, na época, voltou atrás.
Em um recado claro para os integrantes do próprio partido, Doria citou as vitórias que conquistou em prévias tucanas para a prefeitura da capital paulista e para o governo do estado de São Paulo, antes de ser eleito para os dois cargos. Durante o pronunciamento, tentou mais uma vez se descolar de Jair Bolsonaro (PL), para quem fez campanha em 2018, quando ambos foram eleitos.
Alta rejeição
As pesquisas de intenção de voto mostraram que a candidatura do ex-governador paulista nunca decolou. Com percentuais que oscilaram sempre entre os 2% e os 6%, ele ainda tem que lidar com enorme rejeição, sempre perto ou acima dos 60%, segundo levantamentos feitos pelo instituto de pesquisa Quaest/Genial.
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, esteve no palanque onde Doria fez o pronunciamento nesta segunda. Ele deve se reunir na terça (24) com líderes do MDB e do Cidadania, que, juntos, devem lançar a senadora sulmatogrossense Simone Tebet, filiada ao MDB, como candidata à presidência.
Minutos após o pronunciamento de Doria, Tebet divulgou nota oficial em que disse que o tucano "nunca foi adversário. Sempre foi aliado", e afirmou que vai conversar com ele em busca de sugestões para o programa de governo. Tebet disse ainda que vai trabalhar para "unir todo o centro democrático" e que, para isso, gostaria de ter o PSDB e o Cidadania em sua chapa.
"O PSDB saberá tomar a melhor decisão no seu posicionamento para as eleições deste ano. Me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a alma leve", afirmou Doria, que disse ainda que quer "preservar a família" e seguirá como "observador sereno" do país, sem deixar claro se abandonou ou não a vida pública.
Edição: Rodrigo Durão Coelho