Festejada pelo bolsonarismo nesta sexta-feira (20) como grande conquista, a visita de Elon Musk ao Brasil tem como uma das principais peças de propaganda a oferta de ferramentas de monitoramento da Amazônia pela Starlink, empresa do conglomerado do bilionário de origem sul-africana. Para especialistas, porém, a tecnologia oferecida por Musk não oferece nada de novo.
O cientista Gilberto Câmara, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, disse no Twitter que as ideias de Musk para “salvar a Amazônia” são “inúteis”. Câmara destacou a qualidade do monitoramento feito pelo Inpe, que revelou, por exemplo, aumento de quase 22% no desmatamento da floresta em 2021.
Em post em inglês, Câmara disse que “a arrogância de Musk é comparável à qualidade do monitoramento florestal” feito pelo Inpe, e completou: “aproveite seu dia com Bolsonaro”.
Dear @elonmusk, thanks for coming to Brazil today to promote useless ideas for saving the Amazon. Happily, we don't need you. The extent of your arrogance is matched by the quality of @inpe_mct operational forest monitoring. Your timing is perfect! Enjoy your day with Bolsonaro.
— Gilberto Camara (@gcamara) May 20, 2022
O coordenador geral da Mapbiomas, Tasso Azevedo, foi na mesma linha. Ele disse que a Starlink pode ser “fantástica” para oferecer conexão à internet em áreas remotas – outra das promessas de Musk –, mas destacou que o Inpe, assim como o Imazon e a própria Mapbiomas oferecem o “estado da arte” – ou seja, a tecnologia mais atual – em relação a dados sobre desmatamento. O que falta, para ele, é que o governo aja efetivamente para interromper as ações ilegais.
For internet conection in remote areas @elonmusk 's Starlink is really fantastic. As for monitoring deforestation in the Amazon @inpe_mct @Imazon @mapbiomas area producing state of the art data. What is missing is real action from government agencies to stop de illegality.
— Tasso Azevedo (@tassoazevedo) May 20, 2022
Foi a Mapbiomas quem mostrou, por exemplo, que a devastação nas terras indígenas é 20 vezes menor que em outros locais. Já o Imazon (sigla para Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) destacou aumento superior a 50% no desmatamento da floresta em apenas 11 meses entre 2020 e 2011.
O secretário executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini, também destacou a omissão do governo e garantiu: “não falta monitoramento” na Amazônia. Astrini foi mais um a reconhecer a importância de garantir a conexão à internet nas escolas e comunidades remotas da região amazônica.
Internet p/ escolas e comunidades na Amazônia é essencial, mas novo sistema de monitoramento da floresta é dispensável. Temos os mais modernos e eficientes do mundo para isso, via @inpe_mct
— Marcio Astrini (@MarcioAstrini) May 20, 2022
Para a floresta, não falta monitoramento, o que falta é governo.https://t.co/nxOhk5lOcP
O Observatório do Clima divulgou, no início de fevereiro, um relatório que mostra que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) gastou apenas 41% da verba destinada à fiscalização em 2021. Enquanto isso, Bolsonaro celebrou: sob seu Governo, o número de multas ambientais aplicadas caiu 80%.
Edição: Rodrigo Durão Coelho