Os médicos contratados pela Fundação Estatal de Atenção Especializada em Saúde de Curitiba (Feas) e que trabalham nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) do município vêm denunciando a falta de condição de trabalho que, além de impactar na saúde dos profissionais, tem trazido insegurança no atendimento à população.
Falta de pediatras, de medicamentos e insumos para crianças, assédio moral com a pressão para que os médicos realizem cada vez mais consultas em menos tempo; mudanças do local de trabalho sem aviso prévio; locais de trabalho inadequados para as consultas e interferências das chefias nas decisões clínicas dos profissionais são alguns dos problemas, entre outros.
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Em assembleia realizada pelo Sindicato dos Médicos do Paraná (Simepar), os profissionais de saúde contratados pela Feas definiram uma pauta de reivindicações e a solicitação que os problemas sejam resolvidos de forma urgente.
O médico Alceu Pacheco Fontana Neto, dirigente do sindicato e vinculado a quatro unidades de saúde de Curitiba, relata que há médicos querendo desistir diante das condições de trabalho. “O que mais temos recebido de queixas é sobre assédio de chefias e número reduzido de profissionais,” diz.
Faltam pediatras, medicamento e insumos
Alceu conta que devido à sobrecarga de trabalho, muitos pediatras estão solicitando exoneração. “Os pediatras estão quase todos com Síndrome de Burnout e muitos pedindo exoneração devido ao excesso de trabalho e assédio moral. Além disso, os pediatras estão sem insumos e medicamentos adequados para as crianças”, conta.
“Ainda acontece de ficar apenas um pediatra para atender todas as crianças internadas ou aguardando transferência. Isso tem gerado um estresse desumano,” conclui.
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Durante a assembleia, médicos e médicas reiteraram que também há falta de profissionais nas escalas, especialmente nas UPAs, durante as noites.
Assédio moral
Outra situação que se repete em vários locais de trabalho é o constante assédio moral por parte de chefias. “Na UPA Pinheirinho, existe um 'controlador' que fica responsável por colocar os pacientes nos boxes de atendimento e que fixa controlando tempo de consulta, descanso e até de banheiro dos profissionais”, relatou um dos médicos, que não quis ser identificado.
Também acontecem trocas do local de trabalho sem aviso prévio, sem a disponibilização de transporte e por comunicações durante o horário de descanso dos médicos. Outra irregularidade relatada na reunião foi a interferência da coordenação das UPAs no diagnóstico dos profissionais, de forma remota, excluindo pacientes da espera por vaga na central de leitos, contrariando o diagnóstico do médico do plantão que o avaliou presencialmente.
A Feas é um órgão de administração indireta que executa e desenvolve ações do Sistema Único de Saúde (SUS). A prestação de serviços da Feas é realizada exclusivamente pelo SUS, por meio do contrato de gestão com a Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba (SME). Ela é responsável pela contratação, via CLT, dos médicos das UPAs e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Também administra os serviços de Nutrição, Laboratório e Radiologia das UPAs.
Reivindicações
A pauta de reivindicações definida durante a Assembleia e enviada à SMS e FEAS solicita, com urgência, melhores condições de trabalho a partir da reposição de profissionais, interrupção de processos de terceirização, do pagamento de insalubridade de grau máximo, conforme determinação judicial durante a pandemia, fiscalização de denúncias sobre assédio moral, além do reajuste de honorários, que não acontece desde 2020, e o pagamento da data base.
Em nota ao Brasil de Fato Paraná, a assessoria da Feas esclarece que "as escalas de pediatras nas UPAs estão de acordo com o previsto pelo Ministério da Saúde; os remanejamentos são realizados em caso de necessidade, uma vez que os profissionais são contratados para atuar nas unidades da fundação, não em uma unidade específica; em relação ao tempo de consulta, não é pré-determinado um tempo mínimo quando se trata de urgência e emergência e quanto a supostos casos de assédio moral, a fundação adota procedimentos para apurar e tomar as medidas administrativas cabíveis.”
A nota ainda diz que “a fundação não foi informada pelas equipes sobre eventual falta de insumos, equipamentos e necessidade de padronização de novos insumos." E, por fim, que vai "avaliar os pontos observados pelos médicos em relação à UPA Pinheirinho."
Fonte: BdF Paraná
Edição: Lia Bianchini