O governo colombiano extraditou aos EUA o líder do grupo paramilitar Clã do Golfo, Dairo Antonio Úsuga, também conhecido como Otoniel. A decisão contraria os pedidos das vítimas de que ele prestasse depoimento sobre sua responsabilidade no conflito armado na Colômbia.
Detido em outubro de 2021, ele prestou depoimento dois meses depois à Jurisdição Especial da Paz (JEP), organismo de justiça de transição criado pelos Acordos de Paz. Na ocasião, Otoniel afirmou que se rendeu voluntariamente e que não foi detido, como as autoridades colombianas haviam anunciado.
O presidente da Colômbia, Iván Duque, comparou o narcotraficante com Pablo Escobar e disse que ele é um "um assassino de líderes sociais e policiais, um abusador de crianças e adolescentes, e um dos mais perigosos criminosos do planeta".
Vítimas da violência e ativistas sociais, contudo, questionam a decisão de levar o Otoniel para fora do país.
"A extradição de Otoniel atende aos interesses de empresários políticos e membros da polícia e do exército que estavam na folha de pagamento do Clã do Golfo. E prejudica as vítimas em defesa da verdade e da reparação. Esta experiência já foi vivida pela Colômbia em 2008, quando os principais líderes paramilitares colombianos foram extraditados aos EUA, cumpriram algumas penas curtas e depois ficaram morando lá", diz Gerardo Vega, da Fundação Forjando Futuros.
Silvia Berrocal é umas das vítimas do homem indicado como líder do grupo paramilitar Clã do Golfo e também critica a decisão de tirá-lo do país neste momento.
"Não estamos dizendo que ele não deva ser extraditado, mas isso deve acontecer depois que ele tiver declarado e contado a verdade para as pessoas que foram suas vítimas. Por isso ficamos surpresos e muito magoados com essa situação. Nós aqui sabemos que eles irão levar embora o Sr. Otoniel, mas outros "Otoniels" surgirão. Neste momento nosso medo é que, de repente, comece outra guerra. É isso que a população não quer. Nós, vítimas, não queremos isso", afirma Berrocal.
A notícia sobre a extradição do líder do Clã do Golfo levou os paramilitares de departamentos como Antioquia, Bolívar, Sucre, Atlântico e Córdoba a decretar uma greve forçada, com a incineração de veículos de carga e bloqueios de estradas.
Edição: Arturo Hartmann