Os preços dos produtos da cesta básica, em abril, aumentaram novamente nas 17 capitais pesquisadas pelo Dieese. As altas acumuladas nos quatro primeiros meses do ano já superam a própria inflação anual. Em 12 meses, os preços sobem acima de 20% em 15 cidades, mais que o dobro da inflação. Quem ganha salário mínimo comprometeu 61% da renda líquida para comprar uma cesta (há um ano gastava 54%). Em São Paulo, o gasto é ainda maior: a cesta consome 71% da renda. Sobem inclusive as tradicionais combinações do brasileiro: arroz com feijão, café com leite, pão com manteiga.
Os aumentos no mês passado variaram de 1,03% (João Pessoa) a 6,42% (Campo Grande), chegando a 5,62% em São Paulo, onde a cesta é mais cara e já supera os R$ 800 (R$ 803,99). A de menor valor é a de Aracaju (R$ 551,47). De janeiro a abril, os preços subiram até 19,3% (Brasília).
Salário mínimo: R$ 6.754,33
No acumulado em 12 meses, os dados do Dieese divulgados nesta sexta-feira (6) mostram alta também em todas as capitais. As variações vão de 17,07% (João Pessoa) a 29,93% (Campo Grande). A cesta subiu 27,09% em São Paulo, 26,67% em Curitiba, 26,26% em Brasília, 24,72% em Porto Alegre, 23,53% no Rio de Janeiro e 22,56% em Belo Horizonte.
Assim, com base na cesta mais cara, o instituto calculou em R$ 6.754,33 o salário mínimo necessário para as compras básicas de uma família de quatro pessoas. Ou 5,57 vezes o piso oficial (R$ 1.212). A proporção continua aumentando: era de 4,85 vezes há um ano e de 5,28 em março último.
Mais tempo e menos renda
Também cresce o tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta: em abril, 124 horas e 8 minutos, quase cinco horas a mais que em março e 13 horas a mais do que em abril de 2021. Assim, o trabalhador gasta perto de dois dias a mais no mês para comprar os mesmos itens. O comprometimento da renda, no caso de quem ganha o mínimo, subiu para os já citados 61%, ante 58,57% em março e 54,36% em abril do ano passado.
Vários produtos subiram em todas as capitais em abril, segundo o Dieese. No caso do óleo de soja, por exemplo, as altas foram de 0,5% (Vitória) a 11,34% (Brasília). “Os altos preços internacionais e a elevada demanda externa pelo produto pressionaram as cotações no varejo”, observa o instituto.
Pão, leite, arroz, feijão, café
Já o pão francês subiu até 11,37% (Campo Grande), com aumento de 9,70% em Aracaju e 7,07% em Porto Alegre. “Houve redução da oferta de trigo no mercado externo, por causa do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, e, internamente, a valorização do dólar em relação ao real fez com que o produto importado chegasse mais caro ao país”, analisa o Dieese. A farinha de trigo também teve altas expressivas: destaque, entre outras capitais, para Belo Horizonte (11,08%), Porto Alegre (10,07%) e Brasília (9,54%).
O preço do leite integral subiu principalmente nas cidades da região Sul: Florianópolis (15,57%), Curitiba (14,15%) e Porto Alegre (13,46%). A manteiga também aumentou em todas as capitais.
A batata, cujos preços são coletados na região Centro-Sul, chegou a subir 39,10% em abril (Campo Grande). E o valor médio da farinha de mandioca, pesquisada no Norte e no Nordeste, só não teve alta em João Pessoa.
O prato básico, arroz com feijão, também ficou mais caro. O arroz tipo agulhinha aumentou em 16 das 17 capitais – a exceção foi Campo Grande. “Mesmo com o avanço da colheita em abril e a oferta maior, os preços no varejo seguiram a tendência de valorização da cotação internacional do grão”, diz o Dieese. E o feijão teve alta em 15 cidades. O do tipo carioquinha subiu em todas e o carioca caiu de preço em Vitória e Florianópolis. “A menor oferta do grão carioquinha é um dos motivos da alta no varejo.”
E o tradicional café continua subindo de preço, como pode constatar quem vai ao supermercado. Segundo o Dieese, o preço do quilo subiu em 16 capitais (a exceção foi Vitória). “A valorização do dólar diante do real e a alta dos preços internacionais explicaram a elevação no varejo.”