DEFESA DA GUERRA?

Gasto militar mundial bate recorde e supera US$ 2 trilhões em 2021, aponta relatório

EUA, China, Índia, Reino Unido e Rússia lideram ranking de maiores orçamentos em defesa, concentrando 61,7% do total

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Soldados ucranianos supervisionam armamento estadunidense em Kiev; os EUA concentram 39% do orçamento militar global, segundo dados do SIPRI de 2021 - AFP

Apesar da pandemia de covid-19, o gasto militar mundial pela primeira vez na história ultrapassou US$2 trilhões, segundo levantamento publicado nesta segunda-feira (25) pelo Instituto Estocolmo para a Paz Mundial (SIPRI).

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Em 2021, cerca de 2,2% do PIB global foi direcionado ao setor militar - um aumento nominal de 6,1% em relação a 2020 e de 0,7% em termos reais, considerando a variação da inflação no mesmo período. O valor destinado ao setor de defesa é quase dez vezes superior à meta de arrecadação estabelecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater a emergência sanitária global.

Os países que lideram o ranking são Estados Unidos (US$ 801 bilhões/R$ 3,9 trilhões), China (US$ 293 bilhões/R$ 1,4 trilhão), Índia (US$ 76,6 bilhões/R$ 370 bilhões), Reino Unido (US$ 68,4 bilhões/R$ 333 bilhões) e Rússia (US$ 65,9 bilhões/R$321 bilhões), que juntos concentram 61,7% do total de US$ 2.113 trilhões (cerca de R$11,6 trilhões).


O orçamento de defesa dos Estados Unidos representam 39% dos gastos militares globais / Mayara Fujitani / Brasil de Fato

Nos EUA, o orçamento militar teve uma leve queda de 1,4% entre 2020 e 2021, no entanto o país continua liderando o ranking do SIPRI, concentrando 39% do capital total. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento militar aumentaram 24% entre 2012 e 2021. "Os Estados Unidos têm investido mais em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) na última década. O foco em tecnologias emergentes é uma maneira dos Estados Unidos manterem a vantagem tecnológica sobre seus adversários estratégicos", comenta ao Brasil de Fato o pesquisador do Instituto Estocolmo, Diego Lopes da Silva.

Além disso, oito países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) atingiram a meta da Aliança de gastar 2% ou mais do PIB em suas forças armadas em 2021. Sendo que o maior aumento foi do Japão, que destinou US$ 54,1 bilhões para a defesa em 2021 - 7,3% a mais que o orçamento anterior.


Em 2021, oito países membros da Otan destinaram 2% do seu PIB para o setor militar / Mayara Fujitani / Brasil de Fato

Já a China tem elevado seu gasto militar de maneira constante há 27 anos. De 2020 para cá, o valor subiu 4,7%. Terceira colocada no ranking, a Índia destinou US$ 76,6 bilhões ao setor militar, sendo que 64% do capital foi destinado à aquisição de armas produzidas internamente. "No que se refere à segurança nacional, o Plano Quinquenal prevê a contínua modernização do Exército de Libertação Popular até 2035 e fortalecimento das Forças Armadas até 2049", comenta Diego Lopes da Silva.

De acordo com relatório do governo chinês submetido às Nações Unidas, em 2020, 37,2% do orçamento de defesa foi dedicado à compra de equipamentos e 33.2% em treinamento e manutenção, enquanto 29,6% em contratações e remunerações.

Na Europa, o Reino Unido lidera a lista subindo 3% do seu orçamento militar em comparação com 2020. Em seguida, a Alemanha também teve um aumento de 3% no gasto militar, representando US$ 56 bilhões, cerca de 1% do PIB alemão e 2,7% do valor total mundial.

Como são gastos de 2022, as consequências da guerra na Ucrânia ainda não estão consolidados. Mas, como exemplo, em abril, o governo alemão aprovou um novo incremento em seu orçamento, subindo o gasto geral em defesa para 2 bilhões de euros, além de um envio extra de 100 bilhões de euros para as Forças Armadas devido ao corrrente conflito. 

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"Essa não é a primeira vez que as ações da Rússia influenciam os gastos militares europeus. Logo após a anexação da Criméia em 2014, o gasto militar europeu subiu consideravelmente. Essa tendência foi mais marcada entre os países da Europa central, geograficamente mais próximos à Rússia. Em 2014, apenas dois países europeus membros da OTAN gastavam o equivalente a 2% do PIB em Defesa. Em 2021, esse número saltou para oito", salienta o pesquisador sênior do SIPRI. 

A Rússia aumentou em 2,9% seu orçamento de defesa, sendo 2021 o terceiro ano consecutivo de crescimento. Os gastos militares da Rússia atingiram 4,1% do PIB em 2021.


EUA, China, Índia, Reino Unido e Rússia lideram ranking de maiores orçamentos em defesa em 2021 / Mayara Fujitani / Brasil de Fato

O Brasil lidera a lista da América Latina, concentrando 1% do valor total, e a previsão do governo federal é de R$ 11,8 bilhões em verbas para o Ministério da Defesa em 2022, um aumento de R$ 132 milhões em relação a 2021.

Mais da metade dos novos investimentos estatais em 2022 se destina a cinco ações do Ministério da Defesa, com R$ 627,5 milhões.

Entre os principais projetos está a aquisição do cargueiro militar KC-390, o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), o Projeto Forças Blindadas e o desenvolvimento de sistemas de tecnologia nuclear da Marinha. Juntas, estas quatro ações terão um incremento de R$ 956 milhões em comparação com a divisão de verbas de 2021.

Transferência de Armas

Os Estados Unidos também são os primeiros do ranking em transferência de armas, responsáveis por 39% das exportações de armamento do mundo, seguidos da Rússia, com 19%, e da França, com 11%. 

As maiores empresas de segurança são estadunidenses, Lockheed Martin Corporation, com um rendimento de US$ 53,2 bilhões em 2019, seguida da Boeing, com US$ 33,6 bilhões, e a Northrup Grumman Corporation, com US$ 29,2 bilhões.

Já a Arábia Saudita e Índia são os principais importadores de armas, concentrando, cada nação, 11% das compras.

Edição: Arturo Hartmann