A nova disparada da inflação, que em março atingiu a maior taxa para o mês em 28 anos (1,62%), preocupa economistas com a expectativa de um cenário ainda mais turbulento para os próximos meses. Especialistas preveem que as altas sigam atingindo em cheio o bolso do consumidor.
Para Juliane Furno, economista-chefe do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), o resultado da inflação de março é “muito elevado”, e a situação pode piorar nos próximos meses.
“A perspectiva é de que a inflação siga em alta e siga se espalhando, ou seja, não fique restrita a um núcleo, mas vá para alguns serviços e quase a totalidade dos demais setores”, avaliou.
O economista David Deccache, professor voluntário no departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), também acredita que não haverá queda da inflação nos próximos meses.
"Como a principal causa da inflação é a política de preços da Petrobras, e como não há intenção do governo em alterá-la, não podemos esperar uma baixa da inflação. Isso irá fazer com que o Banco Central suba ainda mais a taxa de juros, o que prejudica a geração de empregos criando um círculo vicioso, penalizando a população mais pobre", afirmou.
Reajuste nos combustíveis e guerra no leste europeu
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que, em março, os preços que mais subiram estavam ligados a transporte e alimentos. Produtos e serviços do segmento de transporte aumentaram, em média, 3,02% no mês – quase o dobro da inflação geral. Essa alta foi causada principalmente pelo aumento dos combustíveis para os consumidores (6,70%), com destaque para a gasolina, que subiu 6,95%.
O conflito na Ucrânia também teve papel importante na alta da inflação, mais precisamente afetando o setor de alimentos, segundo Juliana Furno. “A guerra e as sanções contra a Rússia impactam o preços dos grãos e dos fertilizantes, o que pressiona ainda mais os preços dos alimentos”, destacou.
No grupo dos alimentos e bebidas houve alta de 2,42%. Os principais "vilões", nesse caso, foram o tomate (subiu 27,22% em março) e a cenoura (alta de 31,47%). Só a cenoura já subiu mais de 166% nos últimos 12 meses. Isso quer dizer que o preço quase triplicou.
Também subiram os preços do leite longa vida (9,34%), do óleo de soja (8,99%), das frutas (6,39%) e do pão francês (2,97%).
Inflação atinge os mais pobres
Juliana Furno destaca: esse aumento expressivo afeta em cheio a vida dos mais pobres. “Há corrosão no poder de compra dos salários, diminuindo os rendimentos reais, que já estão baixos entre os trabalhadores mais pobres. O impacto pode ser duplo caso o Banco Central siga buscando esfriar o ciclo inflacionário com mais choque nos juros”, pontuou.
Deccache concorda. O transporte e a alimentação, duas das coisas mais básicas para as pessoas mais pobres, foram as que mais aumentaram. Além disso, a camada mais renda mais baixa também sofre com as altas taxas de desemprego. "Isso aumenta a vulnerabilidade da população e há maior preocupação porque ainda não temos perspectiva de uma baixa nos próximos meses", lamentou.
Edição: Felipe Mendes