A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou, nesta quinta-feira (7), a suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU após relatos de “violações e abusos grosseiros e sistemáticos dos direitos humanos” por tropas russas que invadiram a Ucrânia.
Ao todo, 93 países votaram a favor da medida liderada pelos Estados Unidos, enquanto 24 países votaram contra e 58 países se abstiveram.
Em um esboço da resolução, a Assembleia Geral expressou “grave preocupação com a atual crise humanitária e de direitos humanos na Ucrânia”, particularmente com relatos de abusos de direitos pela Rússia.
O governo de Jair Bolsonaro preferiu se abster do voto. De acordo com o embaixador Ronaldo Costa Filho, o Brasil tomou essa decisão porque quer esperar que as investigações a respeito dos ataques sejam concluídas. No entanto, o processo de investigação está na fase inicial e pode levar meses para ser concluído.
Entre os países que votaram a favor de manter a Rússia no Conselho, estão: Rússia, China, Cazaquistão, Síria, Irã, Cuba, Coreia do Norte e Venezuela.
O embaixador de Kiev na ONU, Sergiy Kyslytsya, criticou os 58 governos que se abstiveram. Segundo ele, há "perigos na indiferença". "Indiferença não é uma resposta, não é um começo. É um fim. E é sempre um amigo do inimigo", falou.
"Perdas significativas"
O porta-voz de Vladimir Putin, Dmitry Peskov, negou que a Rússia tenha cometido crimes de guerra na Ucrânia. Segundo ele, estamos “vivendo em dias de falsificações e mentiras”. No entanto, ele admitiu a "perda significativa” de tropas russas e avaliou como uma “tragédia”.
Peskov ainda disse que fotos verificadas e imagens de satélite de civis mortos nas ruas das cidades ucranianas eram uma “falsificação ousada”.
Mais cedo, a procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, disse que 26 corpos foram encontrados sob dois prédios em ruínas em Borodyanka, muncípio a cerca de 25 quilômetros a oeste da cidade de Bucha. Ela não disse se as autoridades estabeleceram a causa da morte, mas acusou as tropas russas de realizar ataques aéreos na cidade, que está sendo revistada pelas autoridades ucranianas.
Já o governador regional Oleh Synehubov disse que ao menos uma pessoa foi morta e 14 ficaram feridas em um bombardeio na cidade de Kharkiv, no nordeste da Ucrânia, nesta quinta.
O governo da Ucrânia realiza uma operação especial para tentar retirar o máximo possível de civis das cidades do leste do país, onde Moscou deve realizar duros ataques a partir de hoje. A Rússia nega atacar civis.
Entenda o conflito
Sob a justificativa de “desmilitarizar e desnazificar" o país, a Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro. Desde então, a guerra que também envolve disputas sobre os limites da expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e o mercado de energia na Europa, já resultou em mais de 4,2 milhões de refugiados.
O conflito já custou a vida de 1.480 civis ucranianos, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Os números de militares mortos são controversos já que cada lado apresenta uma contabilidade diferente. Enquanto a Otan estima que entre 7 a 15 mil soldados russos foram mortos, Moscou afirmou em sua última atualização que 1.351 militares perderam a vida.
O conflito afeta a economia global e contribui para a disparada no preço do trigo, fertilizantes e petróleo por conta da importância dos países envolvidos no conflito no comércio mundial destes itens. De acordo com a ONU, o preço do trigo subiu 22% em março deste ano e o preço do barril de petróleo está mais de 60% mais caro em abril deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Estados Unidos e União Europeia aplicaram sanções sem precedentes contra a Rússia e tentam pressionar a China a seguir o mesmo caminho. Pequim, todavia, tem uma firme aliança com Moscou e afirma que não concorda com as sanções.
As negociações para alcançar a paz, até o momento, não trouxeram resultados. Apesar de sinalizações de avanços após um encontro mediado pela Turquia ser realizado em Istambul no final de março, a guerra continua.
Edição: Rodrigo Durão Coelho