TEIA DO PRESIDENTE

Família Bolsonaro acumula indícios de envolvimento com milicianos; relembre os casos

Família Bolsonaro tem vizinhos, amigos e aliados políticos suspeitos de envolvimento com paramilitares; veja infográfico

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Governo Bolsonaro teria oferecido cargos pela morte de Adriano da Nóbrega, afirma irmã do miliciano - Evaristo Sa / AFP

A escuta telefônica que liga Jair Bolsonaro (PL) à morte do miliciano e ex-policial militar Adriano da Nóbrega não é o primeiro sinal do envolvimento entre o presidente e a milícia carioca.

Embora Bolsonaro já tenha negado publicamente envolvimento com paramilitares, há outras ligações que mostram a proximidade da família do mandatário com vizinhos, policiais e políticos envolvidos com a milícia. Veja a lista completa abaixo. 

Governo ofereceu cargos pela morte de miliciano, diz irmã 

Gravações divulgadas na quarta-feira (6) pelo jornal Folha de S.Paulo mostram a irmã de Adriano, Daniela da Nóbrega, afirmando a uma tia que o governo federal teria oferecido cargos comissionados no Palácio do Planalto pela morte do ex-capitão.

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"Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo", disse Daniela em gravação autorizada pela Justiça.

Ainda segundo a Folha, a menção ao Palácio do Planalto feita pela irmã de Adriano foi omitida do relatório sobre as escutas telefônicas. Embora seja classificada como prioridade alta, o documento descreve apenas um resumo do diálogo entre outra irmã de Adriano, Tatiana, e a tia, ocorrido na mesma ligação.


Infográfico mostra relação de Bolsonaro com pessoas envolvidas no caso Marielle Franco / Arte/Brasil de Fato

Um dos acusados do assassinato de Marielle é vizinho do presidente

No decorrer das investigações do assassinato de Marielle Franco ficou constatado que o policial reformado Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora do Psol, era vizinho de Bolsonaro. Ambos moravam no condomínio Vivendas da Barra, na mesma rua, no Rio de Janeiro. “Não lembro desse cara. Meu condomínio tem 150 casas”, disse o presidente segundo a Folha de S.Paulo, em café da manhã com alguns jornalistas.

Namoro de filha de acusado do assassinato com Jair Renan Bolsonaro

Em 2019, o delegado Giniton Lages, titular da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro e um dos responsáveis pelas investigações da execução de Marielle Franco, confirmou que a filha de Ronie Lessa, preso sob acusação de ser um dos autores do homicídio, namorou um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro, o caçula Jair Renan Bolsonaro.

Foto de Elcio Queiroz com o então candidato Jair Bolsonaro

Após a prisão, foi revelado que o cúmplice de Lessa na execução, o ex-PM Elcio de Vieira Queiroz, publicou uma imagem em que aparece lado a lado com Bolsonaro em 4 de outubro de 2018, às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial. Dias antes, em 25 de setembro, o mesmo perfil postou uma gravação de um show de Paulo Ricardo com a legenda "Homenagem de Paulo Ricardo (RPM) ao Capitão Bolsonaro!"

Passaporte diplomático para família Brazão

João Vitor Moraes Brazão e Dalila Maria de Moraes Brazão, filho e esposa do deputado federal Chiquinho Brazão (Avante-RJ), receberam do Itamaraty o passaporte diplomático em 9 de julho deste ano. O parlamentar, que também possui o documento, é irmão de Domingos Inácio Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) acusado de obstruir as investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido em março de 2018, e suspeito de ser um dos mandantes do crime. Os integrantes da família Brazão estão em uma lista com os 1694 passaportes diplomáticos emitidos pelo governo Jair Bolsonaro (PSL), a qual o Brasil de Fato teve acesso por meio da Lei de Acesso à Informação.

Contexto: Benefício diplomático reforça relação entre Bolsonaro e suspeito do caso Marielle

Adriano da Nóbrega: morte suspeita

O miliciano Adriano da Nóbrega, ex-oficial do Bope, é apontado como chefe da organização criminosa Escritório do Crime. Assassinado no dia 9 de fevereiro de 2020, após uma operação policial que tentava capturá-lo na Bahia, depois de um ano foragido, ele é figura-chave para compreender diversos crimes, mas também para entender a relação do clã Bolsonaro com as milícias cariocas.

Flávio empregou mãe e esposa de miliciano

No mandato do então deputado estadual Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), trabalharam a ex-esposa e a mãe de Nóbrega, Danielle Mendonça da Costa e Raimunda Veras Magalhães, respectivamente. Elas receberam um total de R$ 1.029.042,48 em salários e repassaram R$ 203 mil para Fabrício Queiroz, respeitando o esquema estabelecido no gabinete para beneficiar o parlamentar, de acordo com a denúncia do MPE.

Homenagem de Flávio e amizade com Queiroz

A amizade também é a natureza da relação entre Adriano da Nóbrega e Queiroz, que se conhecem desde 2003, quando serviram juntos no 18º Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMRJ). Justamente neste ano, Nóbrega recebeu a primeira homenagem de Flávio Bolsonaro na Alerj. A segunda viria em 2005, ano em que o ex-agente do Bope foi julgado e condenado em um júri popular, por conta de um homicídio.

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Apoio de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados

Durante o seu julgamento, Nóbrega recebeu um apoio importante, do então deputado federal Jair Bolsonaro. Após a audiência que culminou na condenação do miliciano, o atual presidente da República foi até a tribuna da Câmara dos Deputados e defendeu o militar. “Ele sempre foi um brilhante oficial”.

Citado também foi homenageado por Flávio Bolsonaro

Outro importante personagem do Escritório do Crime, o major Ronald Paulo Alves, apontado por uma testemunha como responsável por organizar o grupo de assassinos que executariam Marielle Franco e Anderson Gomes, também foi homenageado por Flávio Bolsonaro na Alerj.

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Em 2004, o filho do presidente celebrou uma ação comandada por Alves que terminou com três mortes. Um ano antes, em 2003, o major teria participado da chacina de cinco jovens dentro da boate Via Show, em São João de Meriti. Quatro policiais já foram condenados pelo caso e somente o agente condecorado por Flávio Bolsonaro ainda não foi julgado.

Edição: Vivian Virissimo