O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que será candidato à Presidência da República pelo PT, criticou nesta terça (5) a desigualdade no país e defendeu o aborto. Para ele, o tema é de grande relevância e deve ser tratado como questão de saúde pública. “Mulheres pobres morrem tentando abortar, enquanto madames vão para Paris”, afirmou o petista.
Lula disse que há uma enorme diferença entre as mulheres bem sucedidas, que possuem acesso às clínicas luxuosas, e as de baixa renda, que se arriscam em espaços clandestinos e acabam perdendo a vida.
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“A madame pode ir fazer um aborto em Paris, escolher ir para Berlim. Na verdade, [o aborto] deveria ser transformado em uma questão de saúde pública e todo mundo ter direito, e não vergonha”, disse. As declarações foram dadas durante o debate “Brasil-Alemanha – União Europeia: desafios progressistas – parcerias estratégicas”, realizado pela Fundação Perseu Abramo (FPA) e pela Fundação Friedrich Ebert (FES).
O ex-presidente também criticou os conservadores e as pautas do presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo ele, elas são “muito atrasadas” e utilizadas por “um homem que não tem moral para fazer isso”.
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“É esse cidadão que tenta pregar valores para um grupo brasileiro, que acredita. E eu acho que nós que temos que assumir essa discussão tentando fazer a sociedade evoluir, e não compartilhando do retrocesso que a gente tem nessa discussão”, continuou.
Sanções à Rússia
No evento, Lula também se manifestou a respeito das sanções impostas à Rússia por alguns países, principalmente os Estados Unidos, após a invasão da Ucrânia. Ele criticou a medida, afirmando que os bloqueios prejudicam outras nações.
“O bloqueio é arma de guerra tão poderosa quanto a bomba atômica, porque ele não está prejudicando o russo, não está prejudicando os Estados Unidos. No nosso caso aqui, da América Latina, está bloqueando quase todos os países não só por conta do preço do petróleo, mas por conta dos fertilizantes e da proibição de vendê-los”, pontuou.
O petista ainda disse ser necessário promover mudanças no funcionamento da Organização das Nações Unidas (ONU). “É preciso, para o bem da humanidade, defender outra estrutura de governança mundial. A ONU de 1948 já não serve mais. A ONU não representa os anseios da humanidade”, disse.
No debate, Lula defendeu o papel diplomático de sua antiga gestão em questões globais. Para ele, um modelo de negócios entre o Mercosul e a Europa pode ser um exemplo para outras nações.
“O Brasil pode conquistar a confiança da América do Sul e ser um dos contribuintes para um grande acordo. Nós já sabemos onde erramos e acertamos e foi um erro não termos fechado um acordo entre Brasil e União Europeia. Precisamos fazer um acordo que sirva de modelo para outros negócios mundiais”, avaliou.
Desavenças deixadas de lado
Mais cedo, em entrevista à rádio paranaense Lagoa Dourada, o ex-presidente confirmou que ter o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) ao seu lado na chapa que disputará a Presidência da República é uma possibilidade. Sobre as desavenças antigas entre os dois, Lula garantiu que são divergências passadas.
“Eu mudei, o Alckmin mudou, e acho que o Brasil precisa dessa mudança para que a gente possa reconstruir. Eu fui adversário do Alckmin, não fui inimigo, e feliz era o Brasil no tempo em que a disputa era entre dois partidos democráticos [...], porque tinha um debate civilizado”, ponderou.
Na ocasião, o petista criticou o possível adversário nas eleições de 2022, Jair Bolsonaro, afirmando que ele não é civilizado e gosta de ser “ogro”. Ele também citou o episódio em que o filho do chefe do Executivo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), atacou a jornalista Miriam Leitão.
"O presidente da República ataca a democracia todo dia, a imprensa, todo dia, jornalista, todo dia. E não é o presidente sozinho, é ele e a família toda. Ele acaba de atingir, com acusações que jamais poderiam acontecer, a Miriam Leitão, a acusando porque foi presa. Esse tipo de gente não presta para governar o Brasil”, falou.
Edição: Rodrigo Durão Coelho