Estatal sob pressão

Bolsonaro demite general e indica novo presidente da Petrobras após disparada da gasolina

General Joaquim Silva e Luna deixa comanda da companhia após lucro recorde e aumento histórico de combustíveis

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |

Ouça o áudio:

General Joaquim Silva e Luna tomou foi demitido da presidência da Petrobras nesta segunda-feira (28) - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O general da reserva Joaquim Silva e Luna foi demitido da presidência da Petrobras. Após a empresa obter um lucro recorde e aumentar o preço da gasolina em quase 19%, o Ministério de Minas e Energia anunciou que o militar deixará o comando da companhia.

Para o seu lugar, o presidente Jair Bolsonaro (PL) indicou o economista Adriano Pires, doutor em Economia Industrial pela Universidade Paris 8, mestre em planejamento energético pela Coppe da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e economista formado pela UFRJ.


Indicado por Bolsonaro à presidência da Petrobras é o economista Adriano Pires / Divulgação

A confirmação das mudanças no comando da estatal só devem ocorrer daqui a duas semanas, após a Assembleia Geral de Acionistas, quando o governo trocará seus representantes do conselho de administração.

Segundo o comunicado do governo, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, outro nome forte para comandar a estatal, ocupará uma cadeira no conselho junto com Adriano Pires. Landim foi indicado para presidente do conselho.

Clique aqui para ler a nota oficial do Ministério de Minas e Energia, e aqui para ler o comunicado oficial da Petrobras sobre as novas indicações do governo, que é acionista majoritário da estatal.

Crise dos combustíveis

Nos últimos dias, a gestão do general na Petrobras havia se tornado motivo de reclamações públicas do presidente Jair Bolsonaro (PL). Bolsonaro, que desde o início do seu governo incentivou estatais a buscarem o lucro, resolveu questionar a direção da Petrobras depois do anúncio do maior reajuste de combustíveis em um ano.

No último dia 11, a Petrobras aumentou a gasolina vendida a distribuidores de combustível em 18,8%. A estatal também aumentou o diesel em 24,9% e o gás de cozinha em 16,1%.

O reajuste fez com que o preço da gasolina vendida a consumidores superasse os R$ 7 em quase todo país, segundo a Agência Nacional do Petróleo. O preço do diesel também superou os R$ 6 em 26 dos 27 estados.

Na época do aumento, a Petrobras argumentou que ele era necessário por conta dos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia no preço do petróleo no mercado internacional. Menos de um mês antes de anunciar a elevação do preço, entretanto, a estatal havia informado que o aumento do petróleo tinha sido uma das causas do lucro recorde da companhia em 2021.

No ano passado, a Petrobras teve lucro líquido de R$ 106 bilhões: o maior valor de sua história. Isso é 1.400% a mais do que ela havia lucrado no ano anterior.

O governo receberá cerca R$ 37 bilhões desse lucro em forma de dividendos já que é acionista da Petrobras. De acordo com a própria empresa, porém, mais de 44% dos acionistas não são brasileiros.


Jair Bolsonaro demitiu presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, nesta segunda-feira (28) / Mauro Pimentel / AFP

Gasolina pressiona inflação

O preço do combustível é um dos grandes responsáveis pela alta da inflação no país. Só a gasolina subiu 46% em postos de combustíveis durante o ano passado.

Em 2021, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fechou o ano em 10,6%. O índice, considerado a inflação oficial do país, não fechava acima dos 10% desde 2015.

Faltando menos de um ano para a eleição presidencial, Bolsonaro passou a demonstrar mais preocupação com a alta generalizada de preços. Pouco antes de a estatal anunciar o aumento no combustível, ele disse a aliados que não tinha influência sobre a política de preços da companhia. Dias depois do reajuste e da ampla repercussão, Bolsonaro disse que a Petrobras cometeu um “crime” contra a população.

Silva e Luna assumiu a presidência da Petrobras há menos de um ano, em abril de 2021. Antes, havia presidido a usina hidrelétrica de Itaipu.

Ele também foi ministro da Defesa durante o governo de Michel Temer (MDB). Foi no governo Temer, aliás, que a Petrobras assumiu uma nova política baseada no preço dos combustíveis vendidos no mercado internacional. A nova política foi implementada pouco após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT).

Segundo economistas e petroleiros, é justamente essa política a causadora do aumento de preços de combustíveis no Brasil. O país, que é autossuficiente em petróleo, reduziu sua capacidade de refino de gasolina e diesel. Hoje, tem preços de combustíveis semelhantes àqueles encontrados em outros países importadores desse produto.

Edição: Vivian Virissimo